➵ 37 | Uma notícia inesperada

177 25 3
                                    

Não há muitas novidades nos dias que se passam. Eu ainda vomito de vez em quando, sinto sono e as vezes falta de apetite — além de outras coisas estranhas.

— O que vamos fazer hoje? — Rachel está sentada no sofá oposto ao meu. É fim de semana.

— Estou cansada, quero descansar. — Murmuro, sonolenta.

— Mas hoje é sábado, Beverly. Sábado.

— Acho que vai ter uma festa na casa do Jackson. — Informa Naomi.

— Nós vamos?

— Por mim...

— Vão vocês, eu fico aqui... — realmente me sinto exausta.

— O quê? — os gritos de Rachel fazem minha cabeça latejar. — É claro que você vai! Isso é uma ordem!

— Vamos, Bevs, você pode até se sentir melhor. Ficar só dentro desse apartamento vai acabar te deixando deprimida.

— Gente, vocês sabem como eu amo uma festa, não sabem: É só que, sério, eu não me sinto bem hoje. Tô um caco.

— O que você tem?

— É cansaço.

— Não tem desculpa. Amanhã você descansa. Você. Vai. Naquela. Festa. Ok?

Bufo, irritada. Elas venceram.

— Táaaaaaaaaaa! — reviro os olhos. — Eu vou na maldita festa.

E cá estou eu numa roupa simples e nada produzida sentada no sofá da sala e desejando estar na minha cama. Milagrosamente fui a primeira a me aprontar e quase durmo acordada enquanto espero. Algum tempo depois vamos para a casa de Jackson.

— Oi — Ryven me cumprimenta assim que chego.

— Oi... — é difícil até me inclinar para beijá-lo.

— O que foi? Você não parece muito bem.

— Eu só estou um pouco cansada. Não queria vir, fui obrigada por essas pestinhas que chamo de amigas.

— Vamos tentar animar seu astral, ok?

Ele me leva para dentro e pega uma cerveja. Prefiro um copo d'água. Fico parada o tempo todo. Não sinto animação para dançar, conversar ou provocá-lo. Apenas me mantenho sentada, incentivando meus amigos a se divertirem. Ryven não sai do meu lado, me faz cafuné e conversa comigo. Quando me afasto para ir ao banheiro, Olívia me intercepta.

— O médico ligou. Seus exames estão prontos.

— Que dia ligou? Hoje?

— Ontem, quando você estava dormindo.

Será que é algo grave?

— Ele parecia preocupado, mas tenho certeza que não é nada.

Não tenho essa confiança.

— Segunda eu vou lá.

— Eu vou com você.

— Ok, mas não conte para Ryven.

— Tudo bem.

Saio para o banheiro ainda encucada e pensativa. Quando volto, Ryven me leva até a área da piscina e nos sentamos em uma espreguiçadeira branca. Meu ânimo não melhora. Em determinado momento Bettany Marsh passa por nós e deixa um pouco de cerveja cair no meu pé.

— Desculpe, Bev, eu tropecei... — ela simula um sorriso falso.

Posso estar acabada e nem por isso vou deixá-la se safar.

— Claro, tudo bem.

— Me desculpe mesmo, querida. Mas também é só cerveja, não machucou, né?

— É só cerveja. — Concordo.

Espero-a se virar. Assim que o faz, uso meu pouco de força para chutá-la na parte detrás das pernas. O corpo de Bettany cai com um tibum na piscina, espalhando água por todos os lados. Segundos depois a loura submerge com um olhar de puro ódio direcionado a mim.

— Desculpe, foi sem querer. Mas é só água, querida. Não machucou, né? — debocho.

Ouço algumas risadas comemorativas e Ryven dizendo que fui bem, mas realmente eu me sinto exausta até para comemorar.

A festa ocorre sem muito de interessante — apenas Bettany indo embora encharcada. No outro dia acordo tarde, não almoço e passo o tempo assistindo TV. Segunda não vou para a faculdade porque resolvo ir ao hospital com Olívia e Rachel.

— Vocês sabem que não precisa de três pessoas para pegar uns exames, não sabem? — resmungo.

— Sei, mas eu queria faltar hoje. — Rachel dá de ombros.

— Eu vim porque estou realmente preocupada com você.

— Obrigada por isso, meninas.

— Acho que os exames não vão dar nada. Não se preocupa, Olívia. — Rachel tenta nos animar. — Beverly sempre teve uma saúde de ferro. O perigo é o risco de gravidez.

— Isso que me preocupa.

Entramos no hospital logo em seguida. Demora um pouco para organizar os trâmites e o doutor Shepperd nos atender. Ele não parece se importar com a companhia das minhas amigas.

— Olá, sejam bem-vindas. — O sorriso amigável está vacilante. — Sentem-se.

A sala é imaculada em tons claros de branco e bege. Há uma mesa abarrotada de papéis no centro, diplomas e mais diplomas pendurados em uma parede, um armário e um vaso de cerâmica com uma planta que eu não reconheço. Me sento em uma das duas cadeiras em frente à mesa.

— Então doutor, qual meu diagnóstico? Eu estou grávida? — pergunto, mesmo temendo a resposta.

O doutor Shepperd pega alguns papéis e raios x. Ele analisa calmamente cada um algumas vezes e encara-me. Se não fosse pela postura profissional, poderia jurar que ele está preocupado.

— Doutor...?

— O que foi?

Eu já estou preocupada e Olívia também. Rachel fica inquieta.

— Como posso dizer isto... — o murmúrio é mais para si mesmo. No instante seguinte o olhar sobe até nós. — Beverly, eu tenho uma notícia muito difícil pra te dar. Você vai ter que ser muito forte agora.

Aqui meu coração já martela forte dentro do peito. O ar quase me falta. Olívia segura minhas mãos.

— Eu estou grávida, não é?

Ele nega.

— Não, Bev. Você não está grávida... — a primeira frase me faz suspirar de alívio, mas a segunda paralisa até meus ossos: — Você está morrendo. 

Tudo Por VocêOnde histórias criam vida. Descubra agora