➵ 44 | Encontro de gerações

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Hermione e eu nunca tocamos muito no assunto do meu pai. Sempre fui satisfeita por ter uma mãe que cuidou de mim sozinha — por isso parei de perguntar por ele quando era pequena, logo depois de ela me dizer que engravidou e o doador de sêmen evaporou logo depois.

— Beverly. — Mamãe nem sabe mais o que dizer.

— É verdade, Beverly. Eu sou seu pai. — O homem sorridente dá passos largos.

Eu não o impeço de se inclinar e me abraçar. Meu cérebro ainda processa a informação de que tenho um pai biológico que decidiu aparecer sem explicação nenhuma no dia de hoje. Não faz sentido — as vezes eu ainda penso que estou dentro de um filme ou um livro bem maluco, é a única explicação plausível pra tanta maluquice.

— Joseph, pode nos dar licença por um momento? — Hermione finalmente reage.

— Claro. Depois quero falar com a Beverly. Temos muito para conversar.

— Tudo bem.

Demora alguns segundos para ele sair e nos deixar a sós.

— Mãe, o que esse homem tá fazendo aqui?

— Eu liguei pra ele, mas não pensei que fosse aparecer aqui. — Confessa.

— Achei que ele tinha sumido quando engravidou.

Mamãe suspira.

— Beverly, eu vou te contar a verdade. É melhor ouvir de mim que dele.

E existe uma verdade que eu não conheço?

— Que verdade...?

Hermione Anderson coça o alto da cabeleira loura.

— Filha, eu nunca falei de você para o seu pai até pouco tempo atrás... Enfim, eu quero que saiba que tudo o que eu fiz foi para o seu bem, para te proteger, ok? Ele não é boa pessoa.

— Por que está dizendo isso?

— Quando eu e seu pai namorávamos, ainda no ensino médio, ele era maravilhoso. No começo foi carinhoso e gentil, me dava flores e deixava bilhetinhos carinhosos no meu armário. Após alguns meses ele ficou paranoico, obsessivo... Eu quase não o reconhecia.

Pisco os olhos, confusa.

— E então você decidiu escondê-lo de mim com base na sua experiência amorosa? Mãe, ele poderia ter sido um bom pai!

Minha mãe se cala. É claro que eu não a odeio por ter esse instinto materno — ainda nem sei o que penso disso tudo — e não vou brigar por causa de um estranho que brotou na minha vida a três minutos atrás, mas se ele for realmente bom eu provavelmente ficarei magoada.

— Me desculpe, Beverly. Eu só quis o seu melhor...

— Tudo bem. — Fungo. — Eu quero falar com ele agora. Pode pedir pra entrar?

Ela faz que sim, recolhe a bolsa e sai. Um segundo mais tarde ele retorna, saltitante de alegria.

— Nossa, eu tenho uma filha! É difícil de acreditar nisso! Temos tanto para conversar, Beverly. Tanto! Mas eu vou te deixar falar primeiro.

— Você é meu pai... — sussurro, testando a palavra na boca. Ainda me sinto estranha dizendo "pai". Milhares de perguntas giram na minha mente. — Como me achou aqui?

— Alguns meses atrás eu estava olhando as redes da sua mãe e vi uma foto de vocês duas. Você era linda e, de alguma forma, consegui enxergar alguma semelhança entre nós dois. — Percebo essas semelhanças, em parte. — Entrei no seu perfil e vi a sua idade. Conformes minhas contas, quando sua mãe engravidou de você foi ainda na época em que namorávamos. Depois do nosso término eu me mudei para o Brasil e eu nunca mais a vi. Fiquei com uma pulga atrás da orelha por um tempo. Quando sua mãe me ligou pra contar do seu problema, tive a total certeza.

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