➵ 1 | Festa

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— Bev, ande logo! Quer chegar no fim da festa?! — o grito estridente de Rachel Reynolds irrompe da sala e atinge meu ouvido como uma flecha afiada. Ela sabe ser bem aguda quando quer.

— Já estou indo! — grito de volta.

Aplico uma última camada de batom e... tã-dã! Estou pronta. Oh, quase me esqueci. Primeiramente é preciso uma apresentação adequada, não? Bom, meu nome é Beverly-Stelle J. Anderson — Bev para os mais íntimos —, possuo vinte e um anos e moro em Skarye Fall, uma cidadezinha — onde nasci e cresci — no estado da Virgínia. Todo o meu aprendizado de vida, experiências e memórias foram construídas nesse lugar. Nas ruas dessa cidade aprendi a andar de bicicleta e subir em árvores. Foi com um morador daqui que dei meu primeiro beijo e onde frequentei minha primeira festa. Basicamente tudo, tudo o que sou é muito em graças a Skarye Fall. E coincidentemente, a faculdade que faço também. Curso jornalismo na Lodge, a universidade construída perto de Skarye Fall High — o colégio de ensino médio — construído por Mary e Thomas Lodge em dois mil e doze — três anos atrás.

Minha mãe, Hermione Michaelson, é uma médica cirurgiã no hospital da cidade. Já meu pai... Bem, ele nos abandonou quando eu tinha dois anos, então eu nem tive tempo de sentir sua falta. Também não sou de me martirizar por esse fato ou me envolver com caras muito mais velhos sob a desculpa de daddy issues. Sei que tenho, mas não é nessa parte que me afeta. Enfim, voltando ao presente, hoje é sábado, o que significa que terá festa. Passei a sexta-feira me matando para adiantar os trabalhos pendentes só para poder me divertir, e não aceito nada menos que uma ressaca brutal amanhã. Quero esquecer a vida infernal de uma universitária pelas próximas quarenta e oito horas. Com sorte, talvez eu tenha amnésia. Jeremiah Pratt é o fornecedor da nossa fonte de diversão. Ele se formou no ano passado em contabilidade e mesmo assim adora dar festas para os calouros.

— Hm... — checo uma última vez meu reflexo espelhado. Optei por usar uma saia de vinil justa com cinto grosso de fivela e uma regata de alcinhas super-justa e decote de coração. Baguncei o cabelo para ficar com um aspecto meio selvagem e caprichei no rímel e meus olhos — cor de âmbar — parecem maiores. Até mesmo fiz uma pintinha de mentira com lápis de olho preto acima do canto do meu lábio. Estou gostosa e cheirosa, para dizer o mínimo. Quando entro na sala, minha amiga me fita. Rachel está de braços cruzados e uma expressão impaciente. — Estou pronta.

— Finalmente! — ela levanta as mãos para o céu. — Ol está nos esperando lá embaixo. Vamos embora.

Confirmo. Eu, Rachel Reynolds e Olívia Blackthorn moramos juntas há mais de dois anos num apartamento que Ol ganhou aos dezoito anos como presente. Rachel e eu nos conhecemos a mais ou menos uns sete anos. Ela é uma garota de gênio forte, língua afiada e a melhor amiga que se pode pedir. Pode tanto brigar com você quanto brigar por você. Já Olívia era minha vizinha no jardim de infância, então nos tornamos amigas antes mesmo de eu começar a falar. Naquela época ela ainda era conhecida como Oliver. Se descobriu uma mulher transsexual aos doze anos. Eu a apoiei o máximo que pude. Não foi fácil, e isso só me faz admirá-la por ter sido tão feroz e enfrentado todos aqueles que lhe apontaram o dedo. Ryven, o irmão de Olívia, formava um trio conosco. Ele foi embora daqui muito antes de Oliver virar Olívia, porque passou por uma fase rebelde na pré-adolescência e os pais o enviaram para morar com a avó na Austrália. Sinto falta dele.

— Achei que vocês não vinham mais! — Olívia suspira alto assim que nos vê saindo pela portaria do prédio.

— Culpa da Beverly.

— Vocês não podem me culpar por querer ficar gostosa.

— Podemos sim! — Rachel devolve.

Mostro a língua. Entramos em conjunto no meu Corolla. O comprei no começo do ano com ajuda da minha mãe.

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