➵ 17 | C de ciúme

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Olívia consegue convencer o irmão.

O evento de Mason basicamente se consiste em uma turma de garotos com carros e caixas de som reunidos numa pracinha menos movimentada da cidade para comemorar o aniversário dele. Todos os meus antigos amigos do colegial estarão lá. A coisa toda começa às quatorze horas, então eu e minhas amigas decidimos nos arrumar ao meio-dia e quarenta para ficarmos prontas às catorze — mamãe sempre me disse que a pressa impede a perfeição.

A praça no norte de Skarye Fall está lotada de carros dos mais variados modelos. O lugar é tão pouco movimentado que quase ninguém vem aqui, o que torna um local perfeito para festas. Tem caixas de som espalhadas por toda parte, coolers de cervejas e corpos alterados. O grupo dos garotos vem nos encontrar. Repasso mentalmente minha aparência: estou com mesmo minivestido jeans vermelho de botões que mostra o sutiã — preto dessa vez — porque Ryven comentou outro dia que amou ele em mim. Quando percebo ele se aproximar, puxo a saia um pouquinho mais para cima.

— Oi. — Ryven chega perto. Vejo que há uma dificuldade para o olhar se manter no meu rosto.

Forço meu sorriso mais radiante.

— Oi, Ryven. — É minha resposta. Viro o rosto para o lado e não dou muita mais atenção. Danço, descontraída, até que meu plano funcione. Ryven me chama. Viro para ele apenas na segunda vez. — O que disse?

— Eu quero saber se podemos conversar.

Digo que sim. Blackthorn me pega pela mão e me leva até uma árvore nua. Durante todo o caminho aproveito a sensação eletrizante de sua pele tocando a minha. É um gesto pequeno, mas significa muito. Ryven me inspeciona.

— Beverly, eu quero saber se você ficou chateada comigo por ontem. — A cautela em sua voz me faz quase achar que ele diz menos do que realmente quer.

— Não se preocupe, já passou. Acho que foi até melhor assim. — com muito esforço minha mão estende amigavelmente. É a melhor atuação que já fiz na vida. — Amigos? — pergunto, falsamente conformada.

Ryven encara minha mão com um pouco de incredulidade no rosto, como se não acreditasse que realmente estou desistindo tão fácil. Muito à contragosto, afirma.

— Amigos.

Não gosto disso. Eu preciso de uma nova abordagem. É a hora do plano C.

Bebo algumas latas de cerveja e uma ideia genial surge. Ando até a caminhonete de Mike Cavill — um amigo e ex-peguete. Ele vai fazer parte da minha armação.

— Oi, Mike.

Sou recebida por um sorriso largo.

— Oi, Beverly.

— Posso dançar em cima do seu carro?

— Pode apostar que pode. Venha aqui.

Mike me ajuda a subir na carroceria da caminhonete. Por minha vez, vou para o teto. Faço sinal para ele trocar de música. O som que toca agora é um ritmo envolvente do The Black Eyed Peas. Como sempre a atenção se volta para mim. Quando paro para observar, Ryven está ao lado da caminhonete.

— Acho que já está bom de dançar aí em cima, né? — ele grita. — As pessoas vão te achar vulgar se continuar, Bev! Bettany já deve estar comentando!

Faço manha.

— Deixe que pensem! Eu não me importo com as opiniões! Além disso, sou solteira! Solteira! — dou entonação grave a última palavra.

Ele se cala e cruza os braços no peito largo, indignado. Por fim eu acabo mesmo descendo e indo dançar no meio dos meus colegas. Ryven sempre está olhando de um dos cantos com uma expressão nada boa. Também percebo que cada vez que um cara chega perto de mim, ele fecha os punhos. Está com ciúmes. Muito ciúmes. Meu plano está dando certo. Agora é hora de uma abordagem mais direta. Termino de beber um copo e vou para perto de dele.

— Oi!

— Oi, de novo.

— Eu já te dei oi, né? Foi mal. — uma gargalhada exagerada escapa da minha garganta, seguida por uma crise de risos.

— Beverly, você está um pouco bêbada. Acho melhor eu te levar para casa... Onde estão suas chaves?

— Chegamos. Quer que eu te leve até o apartamento?

— Não precisa.

— Tem certeza...?

Estico o indicador para tocar os finos lábios dele.

— Shhh... Sua boca é melhor beijando... — minha voz de bêbada-sensual foi ativada a alguns segundos. Ryven fita meu dedo. — Mas também adoro sua voz... — num impulso, me inclino e selo meus lábios com os dele. Ele tem o mesmo gosto delicioso de sempre... Demora um pouco para ele retribuir, mas quando o faz, eu me afasto. — Eu tô bêbada, seu pervertido! — finjo a falsa ofensa. Ryven empalidece. Eu caio na gargalhada. — Você caiu! Tinha que ver a sua cara! — ainda rindo, abro a porta. — Agora eu vou subir. Tchau, meu amor. Nos vemos depois, sim?

Ryven não consegue dizer nada. Quando entro em meu apartamento, minutos depois, deparo-me com Olívia e Michael no sofá.

— Ryven me trouxe. — Explico. — Ele vai voltar e entregar minhas chaves pra Rachel.

— Vocês não brigaram?

— Sim, mas eu estou meio tonta e ele teve que me trazer, sabe?

Olívia cerra as pálpebras.

— Beverly, eu vi e claramente você não bebeu nem um terço do que bebe normalmente.

— Acho que foi a cerveja. Deveria estar estragada. — Emendo rapidamente. — Nossa, minha cabeça está doendo. Vou me retirar. Boa noite, pombinhos.

Fujo estrategicamente para o meu quarto e me jogo na cama.  Antes de dormir, encaro minhas prateleiras. Em cima de uma delas, entre livros e fotografias, há um pequeno troféu que ganhei no clube de teatro por melhor atriz mirim. 

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