➵ 38 | Resultado doloroso

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— Como assim, doutor?!

— Só pode ser brincadeira! Não tem graça!

Os berros de Olívia e Rachel ecoam. Eu tento me manter calma. Estou surpresa pela notícia repentina, chocada e atônita — quer dizer, quando um médico te diz que você está prestes a morrer a ficha não caí de primeira.

— Eu peço que se acalmem, vou explicar tudo. — Shepperd prossegue. Muito à contragosto elas o obedecem. Rachel está brava e Olívia parece prestes a entrar em uma crise de choro. Continuo estática na cadeira. — Beverly tem um caso raro de insuficiência renal. Caso não saibam, isso ocorre quando há0 uma perda súbita na capacidade dos rins filtrarem resíduos, líquidos do sangue ou sais. Esses resíduos podem chegar a níveis muito perigosos e afetar a composição química do sangue. Vendo os resultados dos exames... Olha, vou ser sincero: o estado está bem ruim.

Bato os cílios repetidas vezes. Não consigo falar e muito menos processar tudo que me foi dito; é demais para minha cabeça. Ao meu lado Ol desencadeia a chorar compulsivamente.

— Nos fale do tratamento, por favor. Ela pode se recuperar, não pode? — Rachel exige.

Shepperd coça o queixo.

— A probabilidade é baixa porque os dois rins de Beverly estão debilitados, então precisamos de um transplante urgente.

— Eu mesma posso doar!

Shepperd nega com a cebeça.

— Isso é um processo demorado. Precisamos fazer uma série de exames pra ver se o doador é capacitado e...

Eu já não presto mais atenção nas informações do homem a minha frente. O mundo ao meu redor se torna mudo, silencioso. Viro uma telespectadora da minha própria vida, vendo um filme mudo em filtro preto e branco da poltrona central na sala de cinema.

— Eu vou ligar pra Hermione. — São as palavras que me fazem voltar a realidade.

— Olívia, não faça isso. — A impeço.

Blackthorn me encara com aqueles olhos vermelhos e doloridos.

— Desculpe, Beverly. Ela precisa saber. — Rachel toma dianteira ao ver nossa amiga fraquejar e sai da sala para contar tudo a minha mãe.

Shepperd coloca as mãos sob as minhas.

— Eu sinto muito, de verdade.

Não posso aguentar mais. Eu me levanto de forma brusca e saio pela porta. Meus pés ganham vida conforme avanço apressadamente pelos corredores claros demais. Do lado de fora do hospital, paro pela falta de ar e Olívia me toma em seus braços. Nenhuma palavra é dita — não precisamos delas. Um soluço escapa da minha garganta, seguido de uma lágrima. Choro como nunca chorei na vida. Meu peito doí pelo simples fato de eu respirar, estou exausta emocionalmente e fisicamente. Rachel se aconchega no abraço também.

— Eu quero ir pra casa. — Peço. — Quero ficar sozinha.

— Bev, você precisa fazer mais exames e consultar... — Ol fala sem parar.

Rachel a toca no ombro.

— Vamos dar um tempo a ela, Ol.

Agradeço silenciosamente pela intervenção. No banco detrás me sento sozinha, encaro a paisagem monótona e cinza que começa a passar conforme avançamos pelas ruas da cidade. Uma gota de chuva cai dos céus, acertando a janela do carro no mesmo instante em que uma lágrima solitária escorrega na bochecha. Talvez seja um sinal de que as coisas não vão melhorar tão cedo — e talvez jamais melhorem de verdade.

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