A dor de saber que Ryven vai embora é tão grande que destroça meu peito.
— Não chore, Beverly. Não sei o que aconteceu para o meu irmão estar sendo um idiota, mas não vale a pena ficar assim. — Olívia me consola durante o cafuné.
— Não, Ol. — Enxugo as bochechas. — Ele não é idiota, só é uma pessoa que não quer sofrer mais. Eu entendo e até gosto da ideia. É o certo. Vai fazer bem a nós dois.
— Não precisa mentir, Bevs. Eu sei que você sente a falta dele.
Claro que sinto. Eu o amo de verdade.
— Vai ser melhor assim, Ol.
Minha amiga me abraça com força e funga. Nos separamos ao ouvir batidas.
— Pode entrar.
A porta se abre e num breve momento tenho a esperança de ser Ryven voltando, se declarando para mim e dizendo que não me deixará..., mas não acontece. Para a minha surpresa — e decepção — quem aparece é Bettany Marsh. Ela está modesta, de cabelos presos e postura comedida, meio sem jeito por estar aqui.
— Oi, Beverly... Nós podemos conversar?
Me ajeito no colchão.
— Bettany, entre. — Convido.
— Você está bem?
— Na medida do possível, sim.
— Isso é bom. — Ela coloca as mãos diante o corpo e tamborila os dedos uns nos outros, alterna o olhar entre as paredes, faz alguns comentários modestos sobre a decoração e enrola o máximo que consegue até chegar ao ponto: — Eu vim te pedir desculpas por tudo, Beverly. Depois que soube do seu estado de saúde... Sabe, agora eu consigo ver que nossas brigas sempre foram algo muito infantil e supérfluo.
Uau... isso sim é surpreendente. Não imaginaria nem em um milhão de anos Bettany Marsh vindo se desculpar comigo pelo tempo de intrigas. Afinal estar morrendo tem lá seus benefícios e surpresas.
— Foram coisas bobas. — A verdade é que aconteceu tanto comigo que isso não parece mais importante. — De todo jeito, eu também tenho que te pedir desculpas.
— Eu te provoquei muitas vezes, né?
— Nós duas fomos culpadas. — Digo amigavelmente. — Eu aceito suas desculpas e peço as minhas.
— Desculpas aceitas. — Ela estende a mão para trocarmos um rápido aperto. — Fico feliz que tenhamos nos resolvido. Digo em nome de todo o pessoal da faculdade que desejamos melhoras a você. Lodge não é a mesma sem Beverly Anderson para render entretenimento.
— Obrigada.
— Até mais, Bevs.
— Tchau, Bettany.
Depois que a porta se fecha ainda estou meio chocada com o que aconteceu.
— O que foi isso? Ela te chamou de Bevs? — Olívia arregala os olhos.
— Meu Deus, não imaginei isso acontecendo nem em meus sonhos mais loucos.
— Nem eu.
Nos encaramos, então caímos na gargalhada — uma das primeiras vezes em dias que me sinto bem o suficiente pra rir.
➵
Não me deixam mais ir para casa. Tenho de ficar no hospital recebendo soro constantemente. Venho recebido visitas de pessoas da faculdade — a diretora Mary inclusive passou uma hora conversando comigo e trouxe um lindo buquê de lírios em nome do corpo docente. Carter entra no quarto segurando dois salgadinhos Doritos, latas de suco e uma barra de chocolate.
— Como você conseguiu trazer isso pra cá?
— Eu dei meu jeito. — Ele ri. — Achei que você estivesse enjoada da comida do hospital. — Meu amigo desaba na poltrona ao meu lado e me entrega um saquinho. O abro.
— Você tem razão, a comida daqui é péssima.
— Eu sempre tenho. — Ele se gaba. — O que você faz aqui pra passar o tempo?
— Vejo tevê.
— Só isso?
— Caso não tenha percebido, não estamos num SPA e não tenho muitas opções aqui.
Carter da de ombros.
— Vamos assistir algum filme?
— Pode ser.
Ele agarra o controle e liga a televisão. Depois de muita discussão decidimos ver Os Simpsons.
➵
Uma enfermeira estraga tudo ao nos ver com a comida contrabandeada.
— O que é isso? Você sabe que não pode trazer essas coisas para a paciente. — A mulher baixinha de cabelos encaracolados não tem uma expressão nada agradável no rosto de meia-idade. — Senhor, vou ter que pedir para que se retire.
— Mas por quê? Ele só tentou me alegrar. Os amigos geralmente fazem isso quando alguém está morrendo. Bem, nem todos, mas a maioria. — Eu argumento.
Ela se cala na hora. Fica dividida entre ver graça na minha maneira de falar ou se sentir culpada.
— Dessa vez eu vou deixar passar, mas da próxima não serei tão boazinha.
— Ah, você é dez, gatinha.
— Muito obrigada, enfermeira.
Ela vem até mim e fez alguns procedimentos — checar a pressão, trocar o soro e coisas do tipo.
— Você tem muito poder de persuasão. — Elogia Carter após a saída dela.
— Usar esse argumento de que estou partindo dessa pra uma melhor tem sido muito útil.
— Beverly, você é uma danada. Essa é a minha garota.
— Aprendi com o melhor.
➵
Quando acordo de novo mamãe está ao meu lado.
— Oi, querida. Como está se sentindo?
— Bem... Cadê o Carter? — dormi enquanto ele ainda estava aqui.
— Ele saiu assim que eu cheguei, uns vinte minutos atrás.
— E o Marcos?
— Trabalhando. Deve vir mais tarde.
— Como ele está com tudo isso? Não demonstra estar abalado quando vem me ver, mas acho que é para não me preocupar.
Mamãe confirma.
— Ele está péssimo. Você sabe que ele te considera como uma filha, não sabe?
Faço que sim com o rosto. Toc, toc! Ambas viramos o rosto de rumo a porta.
— Pode entrar.
Um homem adentra. Usa um terno bem polido e um penteado engomado para trás. Aparenta quarenta — cinquenta talvez — anos de idade.
— Acho que entrou no quarto errado. — Quebro o silêncio repentino que se forma.
— Não, estou no certo. — Os olhos verde-mar brilham. Está emocionado ou é impressão minha?
— Hã?
Espio mamãe e ela está pálida como um fantasma. O Desconhecido me estende algumas flores arrumadas num envelope circular.
— São para você, Beverly.
— Como você sabe meu nome? Quem é você?
Ao nosso lado, minha mãe suspira.
— Beverly, este é Joseph Byers. — Sai com amargura e frieza. — Ele é o seu pai.
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Tudo Por Você
Romance[História Concluída] Fios dourados, íris verde-mar e uma silhueta invejável a qualquer uma. Beverly Anderson esbanja a genética admirável, um estilo costumeiramente sexy e paixão por festas - e garotos também. Se apaixonar não está nos plan...