Tudo Por Você

➵ 12 | O passado assombra (novamente)

Na sexta-feira acordo tão radiante quanto o sol que brilha no céu. Em minutos estarei na faculdade junto dos meus amigos... e namorado.

E sim, Ryven Blackthorn é meu namorado. O pedido foi feito entre uma sessão de beijos dentro do carro. Fiquei tão eufórica que não consegui dizer sim na hora e ele pensou que eu estava tendo um ataque cardíaco.

— Bom dia, minhas flores! — cantarolo.

— O que você tem Beverly? — Rachel desconfia.

Sento-me na cadeira ao lado de Naomi, alegre.

— Não aconteceu nada... Além do fato de eu estar compromissada, claro.

— O quê!? — elas exclamam em puro abismo. — Tipo, você tá namorando?

— Sim.

— Com o meu irmão?

— Exato.

Olívia salta de alegria.

— Eu nem acredito que você agora é minha cunhada! Bevs, é maravilhoso!

Os próximos momentos são cheios de emoção, abraços, felicitações e etecétera. Me arrumo depressa e capricho no perfume. Minha ansiedade está a mil por hora. A parte da manhã é maravilhosa. Ryven me recebe calorosamente no estacionamento. Nós nos beijamos publicamente e andamos de mãos dadas. É o único momento fofo, porque depois eu só consigo sentir a tensão sexual vibrando no meu corpo. Quando nos sentamos lado a lado e o professor começa a tagarelar, meus pensamentos migram e imaginam como seria estar beijando Ryven bem aqui.

— Sabe o que eu queria fazer agora? — o sussurro grave arrepia pelinhos na minha nuca. É repentino.

— Não. — Eu respondo, forçando para não virar.

Rachel e Carter não notam nossos murmúrios. Estão focados na aula — do jeito que eu também gostaria de estar.

— Eu queria sair dessa sala e te levar para o banheiro... Depois te beijar... — A voz de Blackthorn abaixa mais ainda quando diz: — Em todos os lugares possíveis.

Eu me engasgo quando uma crise de tosse se apossa de mim, chamando a atenção de dezenas de cabeças. Afundo na cadeira. Ryven esconde um sorriso travesso. Está se divertindo com o meu sofrimento. Quando me recomponho, cruzo as pernas com força e tento não ficar com ódio do meu novo namorado por me deixar excitada no meio da aula. Sério, o que Ryven tem na cabeça para dizer uma coisa dessas?

➵

Genevieve St'Jhon se senta do meu lado na mesa do refeitório e cumprimenta educadamente meus amigos.

— Oi. — Respondemos em conjunto.

— Bevs, eu queria te pedir desculpa. Juro que não sabia que o Flynn é escroto assim. Ele pode ser tecnicamente meu parente, mas não vou ficar alisando a cabeça desse idiota numa situação dessas.

— Você não teve culpa de nada, Gen. Não precisa de desculpar. — Esclareço. Ela agradece.

Estico minha mão para pegar o pedaço de pizza no prato de Ryven — apesar de ter um igual no meu — e me envolvo numa conversa nada séria com Ol. Estou tão distraída que minha atenção só muda quando noto uma mão pousando no ombro de Ryven. Uma mão feminina. Meu olhar sobe lentamente até dar de cara com um rosto bonito preenchido por lábios carnudos e cabelos ruivos levemente puxados para o laranja. É bonita e tem um decote berrante na blusa colada vermelho-vivo. Quem é essa? Apesar de meu ciúme falar alto, o contenho. Ryven segue o olhar para a face da garota e imediatamente fica pálido. Eu nunca a vi aqui antes.

— Oi, eu sou Lily Loren'Fly. — Ela se apresenta. Tem uma voz de apito quase tão ruim quanto a de Bettany Marsh.

— Vocês se conhecem?

— Sim... — murmura Blackthorn, engolindo em seco e baixando o olhar para os dedos. — Lily é minha ex-namorada.

— O que?

Ex-namorada? Como assim ex-namorada? Eu a observo.

— O que está fazendo aqui? — Ryven a encara.

— Quê isso, Ryv! Nem um oizinho pra mim? — ela faz biquinho quando ele não responde. — Eu vim fazer um intercâmbio. Você sabe, conhecer novos ares. Estou aqui há uns dias, mas hoje é o meu primeiro na Lodge. Já fiz até umas amigas. — Sigo o dedo dela que aponta até uma mesa repleta de garotas. Entre elas Bettany Marsh e Emily Júnior — Vim aqui só te dar um oi, Ryv. Mas você não está de muito bom humor... Enfim, nos vemos depois, ok? Fique bem.

Quando ela sai, fecho a cara. Não que ela tenha feito nada demais pra mim e é sim ridículo meu ciúmes, entretanto inevitável.

— É ela? — Olívia arregala os olhos, abismada. Ryven simplesmente sai do banco e caminha para longe. Não entendo o que diabos está acontecendo, então recorro a Olívia. — Vem comigo. — Ela segura minha mão e me arrasta.

Penso que vamos atrás de Ryven, porém Olívia nos leva ao banheiro feminino do primeiro andar. Ela olha todas as cabines e se certifica de que não tenha ninguém para me contar:

— Beverly, eu e Ryven conversamos quando ele estava fora. — Explica. — Ele me contava que estava bem, que tinha muitos amigos e uma namorada legal. Me lembro até hoje da ligação que fez quando ele e Lily terminaram... porque ele a pegou na cama com o melhor amigo... — Olívia para um instante. Relutantemente, concluí: — E essa não foi a pior parte. Parece que eles vinham ficando escondidos há muito tempo. E ela não ficava só com o melhor amigo de Ryven. Ela traiu ele com vários caras.

Meu sangue esquenta. Agora entendo o porquê de meu santo não ter batido com o dessa Lily Loren'Fly. Por mais que eu queira enfiar a cabeça dela numa privada, me preocupo demais com Ryven para isso. Ele é mais importante. Eu fiquei péssima quando vi Flynn, imagino o que ele deve sentir agora.

— Ele deve ter ficado arrasado, Ol.

— Ele não ficou apenas arrasado, Bevs. Ele começou a entrar em depressão. Teve que fazer tratamento por meses.

Não dá mais. Não posso ficar parada deixando que essa situação pavorosa se desenrrole diante dos meus olhos. Decidida, parto pela porta.

— Aonde você vai? — Olívia grita atrás de mim.

Ele me ajudou demais quando precisei, esse é o meu momento de retribuir o favor.

— Eu vou achar Ryven!

➵

Ryven está na clareira, deitado em meio as margaridas enquanto olha o céu. Embora calado, sei que sofre. E isso é como ter um martelo achatando meu coração. Me aproximo lentamente até estar perto o suficiente e me sentar ao seu lado.

— Como você está?

Ele não se move.

— Ol já te contou, não foi?

— Ryven... — minha garganta seca, quase sufoca, enquanto tento afastar minhas próprias lágrimas. — Eu sinto muito.

— Você não tem culpa. — Murmura ele.

Não resisto minha vontade de abraçá-lo. É um momento delicado. Ryven me deixa ficar em cima de sua barriga.

— Foi no último dia de aula do ensino médio. Estávamos em uma festa, na casa do meu ex melhor amigo, Ed. Ela sumiu por um tempo. Eu fui procurar ela e... — Sua voz hesita. — Achei os dois no quarto dele.

— Ryven... — estou chorando quando deveria estar dando apoio à ele. Me odeio por ser tão emotiva.

— Eu ainda não superei, sabe... Ela foi a minha primeira namorada e ficamos juntos por três anos.

O interrompo:

— Não precisa falar mais nada. Podemos ficar aqui e não fazer nada.

Meu coração está doendo, amassado. Não é nada bom ver o cara que você gosta sofrendo por alguém que não o merece. Ryven não me abraça de volta, mas segura uma de minhas mãos e enrosca nossos dedos mindinhos. É a resposta de que preciso para saber que estamos bem. E no fundo, isso é o que importa.