➵ 35 | Uma suspeita

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Acordo com uma onda de refluxo subindo pela minha garganta. Me levanto da cama com as mãos pressionando a barriga e corro para o banheiro mais próximo. Quase não tenho tempo de abrir a tampa da privada e me abaixar. O vômito sai em jatos da garganta.

— Bev? Você está bem? O que foi? — não impeço Ryven de levantar meus cabelos enquanto eu boto tudo pra fora.

Quando finalmente paro, espero alguns segundos e respiro fundo. Ergo-me do piso para lavar o rosto com água fria na pia.

— Deve ter sido algo ruim que comi. Pelo menos é o que acho. Essas ondas de refluxo vêm e vão, já, já vou me sentir melhor.

— Você já foi ao médico?

— Não têm necessidade. Como eu disse, deve ter sido algo que comi ou até mesmo o voo. — Evito beijá-lo, então sorrio e mudo de assunto. — Meu namorado está super preocupadinho comigo. Muito fofo da sua parte. E eu amei o dia de ontem, você foi incrível.

— Você também foi incrível ontem à noite... — a preocupação dele já se transformou em algo mais.

— Safado! — apesar da acusação, ri. — O que temos para o café da manhã? 

— Como eu fiquei te olhando dormir desde que acordei, não fiz nada pra comer...

— Então pode deixar que eu mesma faço o café da manhã para compensar todo o trabalho que teve pra fazer do meu aniversário um dia especial.

— Eu acho que vou deixar dessa vez. Mas não se acostume, gosto de te mimar.

— Acredite, grandão, eu gosto mais.

Depois de escovar — três vezes — vou preparar a primeira refeição do dia. Faço ovos mexidos, torradas, bacon e suco de pêssego.

— Uau! — Ryven é ótimo em fingir estar surpreso com algo tão simples. Ele está me agradando, não posso reclamar por ser assim.

— Não é tão bom quanto o seu, mas dá pro gasto.

— Tenho certeza de que está ótimo. Gosto de quando cozinha.

— Então temos um impasse, meu querido, porque eu também gosto quando você cozinha.

Ele toma calmamente um gole de suco enquanto me analisa, sorri e murmura:

— É, temos um impasse. 

Depois de comer, Ryven e eu chamamos nossos amigos para irmos ao clube. O dia roda rápido e de tardezinha vamos para nossas respectivas moradias. Eu estou cansada, por isso apenas tomo banho e me deito cedo. Só levanto de madrugada, correndo para o banheiro antes de despejar tudo que tem no meu estômago pra fora.

As aulas estão chatas demais e estou sonolenta em cada uma delas. Dou graças a Deus quando o intervalo chega. Mesmo não comendo nada no refeitório, peço licença para ir ao banheiro. Disparo a correr ao estar longe dos olhos dos meus amigos e entro no primeiro reservado que encontro.

— Beverly? Você está aqui?

— O que está acontecendo? — é Rachel do outro lado da porta.

— Não entre aqui. — Peço.

Pelo visto, não decidem me ouvir. Rachel e Olívia entram. Ol segura meus cabelos, Rach massageia minhas costas. Ao terminar, saio da cabine e vou lavar minha boca repetidas vezes para tirar o gosto horrível.

— O que diabos está acontecendo com você?

— Eu não sei... — murmuro. — Devo ter comido algo que me fez mal.

— Essa madrugada eu te vi vomitando no banheiro e você não jantou, nem comeu no café da manhã.

— E nem almoçou.

Infelizmente elas estão certas.

Puxo a descarga mais uma vez. Se isso continuar eu terei de ir ao médico. Encontro Olívia e Rachel no sofá mexendo em seus celulares. É segunda à noite, Naomi saiu com Morgan e está quase na hora de eu ir trabalhar.

— Bev, eu estava pensando e... será que você... — Ol diz, reflexiva.

— Será que eu...?

— Será...?

— Olívia, fala logo!

— É que...

— Ela quer dizer que acha que você pode estar grávida. — Conclui Rachel, minha salvadora e intérprete.

— Não. Eu não posso estar grávida.

Posso?

— Você ainda toma as injeções?

— Sim. A última vez que eu tomei foi... Eu tomei... — eu ainda tomo? — Aí, meu Deus, eu não me lembro quando eu tomei! — começo a vasculhar a memória no desespero. — Depois da morte de Flynn eu não me lembro de ter tomado. Fiquei abalada demais pra me lembrar... Droga, já faz meses!

Rachel tira um pirulito do bolso e desembrulha calmamente.

— Então você pode estar grávida.

— Logo eu, Beverly Anderson, grávida? Gente, eu transei com vários rapazes e nunca tive suspeitas de estar. Sempre me cuidei.

— Aparentemente esqueceu de se cuidar por algum tempinho.

— Aí, droga.

— Que descuido, amiga.

— Não seja tão insensível, Rachel. — Olívia resmunga.

— Em minha defesa, não transamos quando estou no ciclo de menstruação.

Olívia coça a cabeça.

— O único jeito de saber é comprar um teste na farmácia e fazer.

Eu já estou ficando ansiosa, amedrontada.

— Preciso ir trabalhar. Podem comprar o teste pra mim e quando voltar faço?

— Tudo bem.

— Vai lá, garota.

Saio do imóvel em direção ao meu carro. Não estou grávida, não posso estar. Repito mentalmente uma dezena de vezes o mantra, mas ao fim não tenho tanta confiança assim nele.

Quando chego, Ol e Rach ainda estão sentadas no sofá.

— Nós compramos o teste. Vai fazer agora?

Assinto. Rachel pega uma sacolinha ao seu lado para me entregar. Respiro profundamente.

— É agora...

E vou até o banheiro.

Estou sentada no vaso nervosa, ansiosa e com medo. Os três minutos que preciso esperar para ter a resposta são os mais longos de toda a minha vida.

— Beverly, apareceu o resultado. — Olívia arregala os olhos.

— Então, ela está grávida ou não? — Rachel fica tão aflita quanto eu. Seguro nas mãos dela. Olívia respira fundo e abre a boca.

Pronto, é a hora da verdade. 

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