➵ 8 | Lição merecida

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— Afastem-se dela agora! — Ryven Blackthorn repete pausadamente com imponência. Mesmo não tendo gritado, a voz grave preenche o ambiente.

Ouvi-lo faz com que uma sensação de alívio percorra meu corpo da cabeça aos pés. Se eu não já estivesse no chão, teria desabado.

— O que foi? Também quer participar? Pode vir, cara. Ela é uma vadia mesmo — Flynneas ri de seu jeito embriagadamente sádico.

A expressão furiosa de Ryven mescla-se a algo obscuro que o sombreia de um jeito amedrontador. Quase posso ver chamas dançarem nas íris escuras e o maxilar tensionado.

— Vamos ver se você vai dizer isso quando estiver com os dentes quebrados, babaca. — Cuspe. — Quando eu quebrar todos vocês! — e aponta de um por um. Ele não tem medo de sair no soco com os três.

Estou chocada demais para mandá-lo fugir. Não consigo abrir a boca ou me mover. O cara mais alto vai na direção de Ryven, que desvia com facilidade e desfere um soco no nariz do sujeito, uma joelhada profunda no estômago e o manda cambaleando para cima de um saco de lixo. O outro cara também tenta abatê-lo, mas recebe um golpe nas costelas. O primeiro está de pé de novo, com o nariz sangrando. Ele consegue bater na bochecha de Ryven. Blackthorn não parece se importar. Acerta o cotovelo na testa do meliante, derrubando-o de uma vez por todas e repete o processo com o segundo. Ryven chuta ambos até que eles peçam por arrego e não consigam mais se levantar.

Flynneas usa da brecha e é jogado no solo como resultado. Tudo acontece muito rápido. Meu ex-namorado resmunga de raiva, pega um pedaço de vidro de uma garrafa quebrada a alguns metros. Felizmente Ryven se defende, botando a mão na frente. Sua palma recebe o corte e sangue floresce, pingando da região. Usando a mão boa, atinge meu ex-namorado com tanta força que Flynn não abre os olhos por segundos. Ainda assim, Ryven monta nele e o soca até que esteja repleto de hematomas e sangue. Minha consciência toma coragem e retorna ao perceber que, se isso continuar, Ryven pode ter sérios problemas. Eu me levanto com dificuldade.

— Pare! — tiro forças de onde não tenho para segurar seu punho antes que acerte o rosto deformado de Flynn outra vez. Ryven tensiona os músculos. Demora um par de segundos para me ouvir.

Ele vem para perto de mim, ainda embebido em cólera. Flynn está semi-inconsciente, detonado e banhado no próprio sangue. Tenho medo que ele possa morrer e isso possa dê problemas para Ryven.

— Se você chegar perto dela mais uma vez, mato você. Eu. Te. Mato.

Ryven me puxa pela cintura. O aperto é gentil. Minha vontade de dirigir retorna ao ver a mão dele nessas condições. Quando digo que vou nos levar para sua casa, ele não contesta. Me entrega a chave e afunda no banco do passageiro. Meu cérebro ainda não funciona direito, e enquanto dirijo, me sinto como um robô. Paro diante residência dos rapazes. A camiseta de Ryven está ensopada de vermelho na altura do umbigo após sua tentativa de estancar o fluxo. Nós vamos diretamente para o sofá.

— Deixe-me ver sua mão. — Peço.

— Não tá tão ruim assim.

Olho mesmo assim. Como minha mãe é médica, adquiri alguns conhecimentos. O corte não é fundo à ponto de precisar de ponto, mas será preciso estancá-lo. Encontro um kit de primeiros socorros na cozinha. Não conversamos enquanto limpo e pressiono com gaze a pele machucada. Quando o sangramento para, limpo a região de novo e enfaixo sua palma. Ryven agradece e sugere que eu suba para tomar um banho. Estou suja também. Confirmo sem titubear. Michael e Carter não estão em casa. Passo um bom tempo no chuveiro, lavando qualquer resquício da noite pavorosa que tive. Encontro do lado de fora uma toalha e roupas masculinas. Tento secar meus cabelos o máximo que posso. O short de praia com elástico fica grande em mim e a camiseta quase o cobre. Devagar, desço as escadas. Ryven está na sala, vendo a TV ligada e de roupas limpas. Ele não presta atenção na tela, no entanto. Tem um olhar vago. Me sento ao lado dele em silêncio e puxo as pernas para abraçar meus joelhos. Tem uma reprise de Scooby-Doo passando. Ele não diz uma palavra sequer quando me puxa para si. Tombo o rosto em seu peito e, sem aviso prévio, choro. É tão repentino que não dá pra reprimir.

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