Estampo largo sorriso e tomo Maria pelas mãos. A coreografia simplesmente flui. Apresentamo-nos constantemente à base do improviso, nas feiras livres da Comunidade de South; em Los Angeles, nos Estados Unidos.Em poucos minutos, curiosos vão aproximando-se e, em empurrões se acomodam entorno de nós.
O ritmo latino ardente da salsa atiça o interesse das pessoas por todas as partes. A postura elegante, a audácia e sensualidade, com uma pitada de romantismo dos passos e gestos chamam a atenção.
A multidão misturou-se, ignorando o desconforto no espaço, para deliciar-se com a cena.
Transmito confiança. Maria experimenta a sensação de flutuar. Existe uma inexplicável conexão entre nós para a dança. Essa energia brota de nossos cernes, emana por nossos semblantes, e desliza em nossos corpos.
Entrego-me à paixão pelo ritmo. A dança é meu refúgio. Aqui, conduzindo Maria, lhe transmitindo segurança nos passos mais ousados, dependentes da minha força física, esqueço-me das angústias torturantes causadas pela transexualidade e me lembro do sonho maravilhoso que tive esta noite, que pareceu mais como um desejo finalmente realizado. Infelizmente esse lance de lâmpada mágica não existe e terei que conquistar minha felicidade gradualmente. O importante é que eu já possuo os meios necessários para isto.
Quando a dança cessou e nos curvamos em agradecimento; quase ficamos surdos com tantos assobios e aplausos generosos.
Algumas pessoas, como de costume, atrevem-se a cumprimentar-nos, parabenizar-nos pelo talento.
Ousados rapazes paqueram Maria, privilegiada por uma beleza ímpar.
Sob: críticos e pré-concebidos olhares; junto meus pertences, e coloco bruscamente minha mochila nas costas, lançando furioso olhar à Maria, e me afasto em seguida, a passos latentes.
Maria percebe olhando-me de soslaio, despede-se dos homens com gentil sorriso, e corre para me acompanhar.
A garota me puxa pelo braço e investiga:
- Qual é seu problema?
- Não tenho vocação de trouxa - reclamo respirando forte pela boca, intensamente enciumado. Será que ela realmente não nota que eu a amo como mulher ou apenas se faz de ingênua?
- Não seja boba - retruca a jovem com rosto corado pelo sol escaldante, a franja curta do cabelo preto grudada em sua testa suada, e um sorriso envaidecido nos lábios carnudos. - Eles estavam apenas me elogiando. O que posso fazer se sou ótima dançarina?! - gaba-se cruzando os braços com um ar superior.
- Parabéns! Se gosta tanto de alimentar sua vaidade volte para lá - grunho hostilmente, visivelmente cansado e contrariado de continuar sendo tratado no feminino, quando já pedi trilhões de vezes para que respeite a forma como me sinto, e se me sinto homem, eu sou homem. Ninguém pode dizer o contrário.
Dou as costas ameaçando ir embora apesar de que essa é mesmo minha intenção. Maria me segura novamente:
- Não seja tão intransigente! Você devia interagir mais com o público. Isso é bom para nós - adverte com o tom sério recuperado.
- Gosto de dançar para me distrair, não para conquistar fãs! Além do mais, detesto o jeito que as pessoas me encaram, como se eu fosse um extraterrestre. Ficam me olhando, tentando descobrir se sou homem ou mulher. É ridículo!
Maria não se contém em abrir um sorrisinho debochado. Ergo a sobrancelha direita de forma intimidadora apesar de ter a leve impressão de que não causo medo em ninguém e a fuzilo. Tudo que quero é ser respeitado, mas quando o assunto é Maria, acho que é um anseio impossível.
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Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)
Romance+🔞 Yan é um experiente dançarino de salsa, trabalha em um restaurante no porto, e é apaixonado por sua melhor amiga. Um ser humano como qualquer outro, com dificuldades e problemas, sonhos, qualidades e imperfeições. Enquanto para alguns é consider...