Capítulo 29.

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Acordo e desperto Maria com um beijo junto de um afago no cabelo.

Ela abre os olhos, sorrindo.

- Que delícia acordar assim... - sussurra.

- Então vai se acostumando porque é assim que vai acordar todos os dias - lembro. - Agora podemos ser considerados marido e esposa?!

Ela volta a sorrir.

- Eu te amo Yan... Estou tão feliz que tenho medo de estar sonhando e acordar a qualquer momento.

- Maria... - suspiro fundo, farto disso. - Larga mão deste medo e vamos ser felizes! É para isso que irei me dedicar pelo resto da minha vida.

- Tem razão - seus polegares contornam minhas sobrancelhas e param nos meus lábios, onde deposita um beijo suave. - Desculpe-me por ontem, perdi o controle, - bufa, revirando os olhos. - outra vez... Estou me sentindo uma idiota.

- Não há motivos para tanto ciúmes e insegurança. Sabe que é a única mulher que amo. Meu coração é seu. Vamos esquecer tudo que passou. Falta poucos dias para a competição... Você não quer tanto este título?

- É verdade... Com tudo que aconteceu nos descuidamos da dança. Temos que compensar!

- Assim que chegar do restaurante ensaiamos, está bem?

Maria consente e salta da cama.

- Vou tomar um banho e me arrumar. Já está na minha hora! - avisa indo em direção do banheiro.

- Vou com você, tenho terapia hoje. - me levanto também.

- Ah não! - ela reclama, afastando-me pelo tórax. - Tomar banho com você não vai dar certo! Se for como ontem, vai me atrasar!

Gargalho. Agarro-a pela cintura e garanto:

- Prometo me comportar! - ela pensa por um instante, e acaba concordando com um meneio. Sai correndo para o banheiro e eu vou logo atrás.

Soa engraçado que agora eu esteja tão tranquilo com minha genitália, ao ponto de não me sentir mais constrangido em ficar nu na frente dela. Maria é a principal responsável pela relativa estabilidade na minha paranoia. Minha namorada tem me passado uma segurança que eu jamais havia experimentado com outra mulher. Afinal, é isso que todo homem trans quer de seus parceiros: que não sejamos enxergados como bocetas ambulantes; tampouco definidos ou/e diminuídos por este fato, mas respeitados pela forma que nos identificamos perante o mundo. Uma vez, que nem todos trans, necessariamente, irão passar pela transgenitalização, e nem por isto deixarão de ser quem são. O mesmo aconteceria se a biologia invertesse os papéis, e ao invés dos seres considerados masculinos, fossem femininos, e vice-versa. Por um lado, tenho que concordar com ela. Talvez, se nos vissem como nos percebemos, lidaríamos diferente com a disforia. Porém, quando se nasce numa sociedade em que você é considerado um erro que deve ser concertado para se adequar, fica difícil ter qualquer pensamento de aceitação sobre si. Ainda precisamos das nomenclaturas para sermos identificados e conviver. Não que eu não ache necessário, pois o mundo seria uma bagunça total. A questão é; a forma que nos apegamos a isso.

{...}

Tomamos banho sem consumar qualquer ato sexual. Ambos estamos com pressa, apesar do tesão compulsivo. Basta um único contato, carnal ou visual, para que nos acendamos.

Saímos do chuveiro, e Maria se enrola toda na hora de procurar uma roupa decente dentro das malas por fazer.

A campainha toca e ela se desespera.

- Oh, meu Deus. Deve ser o Frank. Diga que eu já estou indo - pede, indo eufórica para o banheiro com algumas peças em mãos.

Balanço a cabeça, rindo da situação.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora