Capítulo 23.

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(Elena)

Keyla e eu estamos na cozinha tomando um chá, enquanto conversamos sobre assuntos relacionados ao mundo da moda. Apesar de termos profissões distintas, ambas trabalhamos no mesmo universo, e possuímos bastante afinidade nesse aspecto. Inclusive, até a incentivei a fazer um teste na agência com a qual tenho um contrato de cinco anos, porque estão investindo em corpos que desconstroem o padrão estabelecido pela mídia. Minha amiga é linda com todos seus quilinhos a mais, apesar dela não se dar o devido valor como mulher. A pobrezinha vive correndo atrás daquele babaca do J.j que, o que lhe sobra de charme falta em caráter. Caras muito interessantes já deram em cima dela, porém ela continua alimentando essa fixação por aquele imbecil. Deus me livre dessa praga chamada paixão que, deixa as pessoas cegas. Prefiro não me contaminar e dar amor somente a minha maravilhosa pessoa. Entretanto, ela discordou totalmente da minha ideia, argumentando que a função que lhe cabe nesse âmbito é bem longe das câmeras. Apesar de eu achar um desperdício, não posso obrigá-la a fazer algo com que não se sinta confortável e feliz. Ao contrário de mim, que simplesmente adoro me exibir para as lentes fotográficas desde criança. A primeira empresa com a que tive contato, teve um papel muito importante na minha vida. Eles me lançaram como modelo quando eu tinha uns doze anos, e desde então deslanchei, estampando capas de revistas teens, como garota propaganda de marcas famosas no mercado direcionado exclusivamente a esse público. Embora essa fase da minha vida tenha passado, continuo ocupando um cargo invejável, sendo requisitada com o mesmo interesse de antes, para atividades mais substanciais com enfoque adulto. Graças a Deus minha família mora no Canadá e não tem ninguém aqui em L.A para pegar no meu pé, coisa esta que detesto. Nasci para ser livre, fazer o que quero, a hora que quero, sem ter que aturar pessoas me criticando e repreendendo a cada instante.

Escutamos passos de saltos pelo piso, aproximando-se. Maria surge exalando um perfume deveras enjoativo. Urgh. Faço uma careta instintiva.

- Uou, caramba! Você está linda - Keyla elogia. Admito que ela está realmente produzida, agora bonita? A loira sentada na minha frente não deveria iludi-la desta maneira. - Vai sair com o Yan?

- Vou. Vamos sair para dançar - ela responde com um sorriso estonteante.

- Vão no Arriba?

- Não. Rosa e eu não estamos nos falando. Vamos sair para comemorar... Arranjei um emprego! - conta com empolgação.

- Isso é muito bom! Parabéns, Maria. - Keyla levanta para cumprimentá-la com um abraço emotivo.

- É sim! Numa cafeteria de um amigo.

Encaro-a com desdém e de forma cortante, torcendo os lábios, digo:

- Dá para o gasto, não é?

- Para mim está perfeito. Melhor que ficar sem fazer nada. Gosto de me sentir útil - a magricela replica, fuzilando-me. Coitadinha!, se tivesse noção de que a não suporto, mais do que ela a mim empenharia-se em ser objetiva.

Keyla me fita com desaprovação estampada nas suas safiras reluzentes. Hostilmente, arqueio as sobrancelhas, dou de ombros, e me levanto da mesa para ir para a sala. Não tenho estômago para tolerar essa garotinha petulante. Ouço Keyla falando baixinho:

- Não liga para ela! Conta-me que amigo é esse?

- Não se preocupe, não vou deixar nada estragar minha noite - a dançarina fala com um tom alto proposital, somente para me provocar. - Ele é vizinho do Yan. Um amor de pessoa.

Sento no sofá, pego e folheio uma revista, não me importando nenhum pouco com seu cacarejo.

De repente, a campainha soa pelo apartamento, e por estar mais próxima da porta, eu vou atendê-la.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora