Capítulo 27.

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(Maria)

Assim que deixo a cafeteria, vou para o apartamento de Keyla decidida a pegar minhas coisas e ir morar com Yan.

Quando chego, vejo minha amiga concentrada no Notebook, provavelmente trabalhando em algum artigo.

- Boa noite Key... - cumprimento com um tom desanimado.

A loira larga o computador no sofá, e me sauda com um beijo na bochecha.

- Fiquei preocupada com você! Te liguei o dia todo, mas você não me retornou. Está tudo bem?

- Desculpe amiga. Tive muito trabalho no meu primeiro dia na cafeteria, não sobrou tempo! Estou bem sim, só cansada. E você?

- Muito bem. Sente-se e me conte: você e Yan se entenderam? Eu quis ir atrás de vocês, mas J.j disse que era melhor deixar vocês sozinhos para conversarem.

Obedeço. Assim que me acomodo começo a falar:

- Sim, está tudo bem entre nós. Melhor impossível! Apesar do que aconteceu ontem... - olho em direção dos quartos e pergunto baixinho: - Ela está aí?

- Não. Pode ficar tranquila. Ela saiu faz um tempinho, não sei para onde, pois não quis me dizer.

- Ótimo. Você sabia que ela está a fim dele? - questiono, me recusando a proferir o nome daquela piranha.

- Ela não me disse nada, mas suspeitei.

- Estou com tanto ódio dela, Keyla. Você não tem noção. Argh.

- Não dê importância para isso. Está mais que claro o quão Yan te ama!

- Eu sei... Estou tão feliz! Ele é um doce. Tão carinhoso, sensível... Romântico.

- Yan é mesmo um encanto de pessoa. Conseguiu conquistar até Elena, que parecia ter uma pedra no lugar do coração! No início fiquei só desconfiada, mas ontem, quando os vi dançando juntos tive certeza de que ela está interessada nele. Juro que tentei evitar, mas Yan não percebeu nada.

- Como pode isso? Eles se viram somente duas vezes! - disparo incrédula - É uma ordinária! Ela só quer saber como Yan é na cama, e por causa de uma curiosidade fútil quase acabou com meu relacionamento! - desabafo indignada.

- Espero mesmo que seja só uma curiosidade! - Keyla estampa uma expressão indecifrável.

- O que quer dizer com isso?!

- Nunca vi Elena interessada deste jeito. É a primeira vez que a vejo gastando tanta energia por causa de alguém.

- Bom, isso não importa! Depois do que aconteceu não posso mais continuar morando aqui - mudo de assunto. Estou pouco me lixando para o que Elena sente ou deixa de sentir por Yan. Afinal, ele é meu namorado, e devo confiar mais nele.

- Concordo, mas você vai para onde?

Me pego sorrindo abobada.

- Decidi ir morar com ele...

Keyla também sorri: - É a melhor coisa que você faz. Torço muito por vocês, de verdade.

Aperto a mão da minha amiga com um sorriso de reconhecimento. Sei que está sendo honesta, visto que antes de eu entender que amo Yan, ela vivia tentando abrir meus olhos para tal.

- Vou fazer as malas, você me ajuda?

- Claro! Vamos lá. Assim você aproveita e me conta como foi no emprego novo.

Assinto.

Keyla passa o braço em volta do meu pescoço, e vamos abraçadas para o quarto que não ocuparei mais a partir desta noite.

Enquanto guardamos meus pertences nas mesmas malas, que desfiz alguns dias atrás, conversamos sobre Frank e a cafeteria.

- Ele é gatinho? - quer saber, empolgada.

- Pior que sim, e muito. E além de bonito e atraente, é simpático, gentil, amigo e super amável. Mas é melhor nem me pedir o número dele. Tenho quase certeza que da mesma fruta que gostamos ele come até o caroço, apesar dele nunca ter falado nada a respeito de sua sexualidade. Enfim... Dá pra notar, sabe?

Keyla ilustra uma expressão divertida.

- Meu Deus, Maria. Não tem ciúmes dele com o Yan? Pelo que você me disse, eles se dão muito bem, desde o princípio.

- Ah, para Keyla. Já basta a Elena - arregalo os olhos exausta só de imaginar outro rival. Minha amiga ri, e dá com os ombros. - E respondendo a sua pergunta, não, não tenho ciúmes. Yan gosta só de mulher, de mim para ser mais exata, ok?

- Muitos dos bissexuais que eu conheço se entenderam já mais velhos - a loira comenta insinuativa.

- Ai, Keyla. Não inventa, está bem?

- Ah, Maria, você mesma ficou com mulher e não foi uma única vez, foram várias, finge que se esqueceu?

- Certo. Porém, nunca senti vontade de ir para cama com elas. Só dei uns beijinhos. Eu gosto mesmo é de barba roçando no meu pescoço, da virilidade, e, uma pegada mais consistente, se é que você me entende. Portanto, não me considero bissexual. Talvez, por isso eu tinha dificuldade de assumir meus sentimentos quando eu ainda o via como mulher.

Keyla se desmancha numa intensa gargalhada.

- Você não presta...

- Nem você... - rio. - Gamou na pegada do pretinho não é?! - pisco maliciosa.

As bochechas da minha amiga coram.

- Vamos logo terminar com isso, ok? - ela sugere, enfiando as últimas peças de roupas dentro da mala, para desconversar.

Meneio a cabeça negativamente. Minha amiga com J.j é um caso sério. Se ela não se importa de manter uma relação aberta com ele, quem sou eu para julgar? A verdade é que, apesar dele dar liberdade para ela sair com outros caras, e até arrumar algum que queira compromisso, ela não fica com mais ninguém além do cretino. Ao contrário deste que sai com todas as mulheres que consegue engabelar com seu charme barato.

Finalmente terminamos e ela me ajuda a levar as bagagens para a sala. Infelizmente, a porta se abre e Elena surge.

Não deixo de reparar no seu abatimento. Seus olhos estão vermelhos e inchados, como se tivesse chorado horrores. Ela olha das minhas malas para mim com um menosprezo cortante que simplesmente ignoro.

- Já vai tarde - murmura com uma careta medonha.

- Por favor, Elena. Sem brigas, está bem? - Keyla a repreende.

- Tudo bem Key... Não me sinto atingida por essa mal-amada! - retruco.

- Isso é o que você pensa queridinha... - ela força uma risada. - Quer adivinhar com quem eu estava?

Pego uma das malas e replico: - Não é da minha conta!

- Com Yan. Encontrei com ele no restaurante - a modelete insiste. -Caminhamos pelo deque e conversamos por um bom tempo... - conta entre suspiros apaixonados.

- Não acredito em você! - a fuzilo.

- Então pergunta para ele, meu bem.

Antes que eu abra a boca para responder, ela sai correndo e se tranca no seu quarto. Sei disso porque bate a porta com força o suficiente para escutarmos.

Mudo completamente meu semblante. Com o rosto crispado pela ira que ela acabou de me provocar, pego as malas e saio do apartamento arrastando-as. Keyla tenta me impedir.

- Maria espera! Deixe-me te ajudar.

- Não precisa Keyla. Eu me viro! - aviso num grito, já entrando no elevador, que por sorte está no andar desde que Elena chegou. Não tenho tempo a perder.

Minha amiga não insiste. Ela me conhece bem o bastante para saber que quando estou aborrecida não há nada e nem ninguém capaz de me segurar e eu arranjo força não sei de onde.

Tudo que eu quero é chegar logo no apartamento de Yan, e exigir uma explicação, já que é ilegal arrebentar a cara da vadia da Elena.

Meu namorado que me aguarde. Ele vai ter que justificar essa história direitinho.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora