Capítulo 64.

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( Maria)

Já fazem três meses que Yan me pediu em casamento. Depois daquele dia no teatro, ele preparou um jantar na casa do pai dele - que, graças a Deus, ao esforço próprio e a assistência que obteve dos entes amados, teve alta e está sendo monitorado no lar, - para anunciarmos nosso noivado para nossos outros amigos e familiares. Como não tenho mais família, quem compareceu foi Brianna, Rocco e as mães dela, que considero como sendo e eles também sentem o mesmo por mim. Felizmente, Manolo não se opôs quando eu pedi permissão para continuar visitando a Sol. Mesmo não tendo nenhuma culpa no cartório, ele se desculpou pelo que Rosa me fez, e intitulou sua atitude como uma atrocidade desumana. Apesar de não ter me dito nada, tenho quase certeza que ele pediu o divórcio a minha irmã, e vai batalhar judicialmente pela guarda da minha sobrinha. Acho que ele tem medo da influência da própria mãe na vida da filha depois que viu do que ela é capaz por puro preconceito, e devido a ficha de Rosa, isso não será tão difícil assim.

Britney e Tina insistiram para que eu continue morando com elas até quando eu me casar com Yan e me unir definitivamente a ele. Gostei da ideia e aceitei. Ainda não marcamos a data, mas espero que seja em breve. Não vejo a hora de poder acordar com ele todos os dias da minha vida.

Estou cursando moda e tenho desenhado e costurado para alguns conhecidos. Assim faço o que gosto e ganho em troca. Yan queria pagar o curso para mim, mas eu consegui faturar uma bolsa só com meu talento, e está sendo gratificante. E Yan tem andado muito ocupado com esse lance de assumir os negócios do pai junto com o irmão, porém não deixamos a dança de lado. Ela é e sempre será nosso alicerce nesse mundo louco e cruel. Só que agora, eu não desejo mais ganhar dinheiro dançando, prefiro que ela continue sendo o nosso escape para quando estivermos cansados, como um porto seguro, para onde podemos fugir. Mas isso não quer dizer que não iremos participar de torneios e afins. Só estou olhando para as coisas de um modo diferente. Além disso, há as aulas voluntárias que são a melhor parte da nossa semana.

Yan vai dar entrada no hospital hoje a tarde para realizar as cirurgias de histerectomia e mamoplastia masculinizadora. Eu disse para ele que respeito sua decisão, mas que não me sinto confortável em acompanhá-lo nesse processo. O irmão dele que voltou de uma longa viagem recentemente, se encarregará disso.

Estou na sala de aula, mas não consigo me concentrar. Não paro de pensar nele. Meu Deus, o que estou fazendo? Eu devia estar com ele lá e não o Chang. Que merda eu tenho na cabeça? Eu vou me casar com Yan! Não está na hora de eu aceitar de uma vez por todas a transição completa do meu noivo? Se é disso que ele precisa pra se sentir feliz e realizado, eu devo apoiá-lo. Ele me incentiva em tudo e eu não sou capaz de fazer o mesmo.

Instintivamente, junto meus pertences e me levanto em direção da saída. Peço licença para o professor e vou embora. Todos me encaram sem entender mas não tenho tempo para explicações.

Tomo um táxi, e começo a me desesperar dentro do carro. O trânsito fica um horror nessa época do ano. Quando finalmente chego no hospital, me apresento na recepção e me enveredo pelos corredores em busca de algum sinal do meu namorado ou de seu irmão.

Encontro Chang na porta do quarto em que está sendo ocupado pelo Yan.

- Maria... Que surpresa! O que faz aqui? - indaga tentando me ler.

- Oi. Onde está o Yan? - pergunto ofegante.

- Está lá dentro, ele já vai ser encaminhado pra sala de cirurgia. A enfermeira está o preparando.

- Pode ir embora se quiser... Eu vou ficar com ele - anuncio decidida.

- Tem certeza? - desconfia.

- Absoluta. Era o que eu devia ter feito desde o início. Estado com ele, inteiramente... - reforço para assegurá-lo, pois sei o quanto ele ama proteger seu irmão mais novo.

- Ok... Vai lá! Mas eu vou ficar aqui pro caso de precisarem de alguma coisa. Vou dar uma volta... - Chang me dá um beijo no rosto e se vai.

O observo se afastar e entro no quarto aflita com medo de não conseguir participar de um momento tão importante.

- Oi.

- Maria? - os olhos de Yan brilham ao me ver.

- Será que eu posso dar uma palavrinha com meu noivo? - peço a enfermeira que também me encara.

- Ok, você tem apenas alguns minutinhos querida - ela alerta e se retira educadamente.

Faço que entendi com um meneio. Puxo uma cadeira e me sento perto dele. Pego sua mão e a aperto forte na minha.

- Desculpe... - digo deixando que as lágrimas reprimidas se libertem. - Desculpa... Eu fui egoísta e estúpida. Eu não sei o que estava pensando quando te deixei sozinho. Eu te amo, e vou estar aqui quando você sair daquela sala, e quando você acordar a primeira coisa que você vai ver é o rosto da mulher que te ama e que vai estar sempre ao seu lado, em qualquer decisão que você tomar.

- Eu também te amo Maria... Muito... - me aproximo dele, seco suas lágrimas de emoção, e o beijo desejando demonstrar tudo que estou sentindo nesse instante mágico de plena conexão.

- Está pronto Yan? Hora de ir... - a enfermeira reaparece.

- Sim... - sou eu que respondo com um sorriso gigante entremeio as lágrimas de alegria e expectativas divididas com Yan. - Nós estamos prontos...

Ela sorri e é hora de Yan ser por fora, quem ele é por dentro.





Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora