Capítulo 41.

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Pego uma ameixa no cesto de frutas e a abocanho com vontade, sentindo um prazer instantâneo assim que seu sabor explode na minha boca. Hoje acordei disposto. Estou treinando com Chang e ele praticamente me obrigou a melhorar meus hábitos, além de me mandar fazer um orçamento, sem compromissos, com um cirurgião plástico de sua confiança. Este me pediu para tentar maneirar no uso do binder, ou usá-lo da forma mais adequada possível, pois isso pode gerar complicações na cirurgia, além de que o uso constante tem afetado meus pulmões e a coluna. Não está sendo fácil assumir que tenho peitos, mas resolvi me embrenhar nessa saga em nome da minha saúde física, visto que minha disforia é tanta que até me esqueci da cautela. Ainda me disse que tive muita sorte em não ter adquirido nenhum problema mais sério por ficar além do recomendável com a faixa de contensão.

Meu irmão disse que queria aprender uma nova arte marcial, de nome aikido, e sugeriu que eu também fizesse. Aceitei e estou simplesmente amando. Esta arte marcial foi criada única e exclusivamente para ser utilizada como um recurso de defesa pessoal e o seu objetivo principal passa por evitar qualquer tipo de confronto. A melhor maneira de o fazer é neutralizando as ações atacantes dos adversários, devolvendo a força que é empregue nos seus golpes contra eles próprios. Além de trabalhar nosso autocontrole físico, também o mental e espiritual.

Conciliando com a reforma no restaurante, que vai de vento em popa, continuo dançando pelo menos umas duas horas por dia.

E não, eu ainda não esqueci Maria, mas não deixo mais que esse sentimento me destrua como eu estava permitindo. Afinal, ou você segue em frente, ou desiste de uma vez por todas, e depois do que eu vi do outro lado, não pretendo mais desistir. O jeito é encarar e viver da melhor maneira possível.

Doutora Phillips retornou de sua licença médica, e consequentemente, Megan e eu não temos nos visto mais como antes. Ela é realmente bastante ocupada, mas continuamos nos falando por telefone quando dá. Falando nela, eu fui fraco ao ponto de não aceitar Maria de volta dando a desculpa de que nós estávamos juntos num relacionamento íntimo. Eu tive que contar, e ela, compreensiva como sempre, não se importou, mas disse que provavelmente eu magoei Maria, da mesma forma que ela fez comigo. Na hora não pensei com clareza e isso foi a primeira coisa que me veio a mente. Hoje me arrependo mas não pretendo procurá-la para pedir desculpas por mentir, é óbvio. Pelo que fiquei sabendo, Maria se afastou até mesmo de Keyla com quem tinha uma amizade sólida e evitado Brianna. Pois bem, vida que segue, com cada um no seu quadrado, já que não dá pra forçar sentimentos e aproximações.

Frank, apesar de estar por perto de vez em quando, tem se distanciado um pouco de mim. Acho que ele não quer que eu me sinta pressionado, ou assediado, depois de ter se declarado, e usa o espaço como uma forma de me respeitar.

Elena tem se mostrado uma amiga incrível. Saímos juntos sempre que estamos com um tempo livre e nossos horários se coincidem. Tenho me divertido com sua presença. Ela está de bom humor constantemente e temos feitos programas, quais eu havia adiado por estar sempre focado no trabalho, na dança, e em tudo que girava em torno de Maria.

Ainda não aceitei o dinheiro da herança da minha mãe e por agora, nem pretendo. Eu não estou passando por nenhuma necessidade e está sendo bom ter esse tempo extra para pensar em como será depois que eu fizer as cirurgias. Acho que Frank tem razão, e tudo acontece na hora certa, nem antes, nem depois. Doutora Phillips já havia me alertado diversas vezes que antes de concretizar qualquer procedimento cirúrgico, seria fundamental que primeiro eu respeite o corpo com o qual nasci, que não é saudável eu centralizar minha satisfação interior neles pois posso adoecer psicologicamente caso as mudanças não me agradem, já que não posso me espelhar nos homens cisgêneros, visto que eu jamais serei um, porque perfeição não existe, e eu estou em processo de adequação e não copiação.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora