Capítulo 30.

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(Elena)

Alguns dias se passaram desde o episódio humilhante que eu própria causei com Yan. Eu me sinto tão envergonhada que, sequer tive coragem de contar para alguém sobre o fora épico que levei. Mas, eu sei que é óbvio que o Yan falou para Maria, e Maria colocou Keyla a par de tudo. Eu continuo me sentindo uma imbecil. Em toda minha vida eu jamais fui rejeitada daquela forma. Embora seja isso que estão pensando de mim agora, eu nunca dei em cima de caras comprometidos. Na verdade, eu nunca me interessei por alguém ao ponto de jogar minha dignidade pela janela. Eu sempre fui solteira invicta. Enxergava relacionamentos de uma maneira bastante negativa até conhecer aquele chinês sedutor, que não faz nem ideia do quão maravilhoso é. Achava que pessoas apaixonadas ficavam inconsequentes, submissas e, perdiam completamente o bom senso e o discernimento. Eu não queria um homem para me botar regras, para controlar a forma de eu me vestir, as minhas amizades e quando eu poderia sair. Agora me encontro de quatro por um que não é qualquer um. Sei que não estou idealizando Yan pelo fato dele ser um homem trans. Afinal, independente de gênero, por trás existe algo chamado caráter que deve ser levado em conta e o dele é simplesmente admirável. Pode ser só uma paixão passageira? É possível! Porém, não sou uma criança caprichosa que bate o pé porque não ganhou o brinquedo que queria. Gostaria que ele tivesse entendido pelo menos isso.

Enfim... Eu só quero que isso passe logo, eu possa esquecê-lo e retomar minha vida da forma que era antes dele aparecer nela, apesar de acreditar que ele é totalmente inesquecível.

Evitei ao máximo os sermões da minha amiga, mas estou sentindo falta dela, então decido procurá-la para conversar. Seria infantil da minha parte continuar evitando-a, uma vez que ela não tem culpa de nada. Pelo contrário, tentou me alertar inúmeras vezes que minha atitude acabaria num desastre histórico e aqui estou eu com o orgulho e a vaidade feridos e o coração destroçado. Meu erro foi pensar que Yan teria coragem de trair Maria ou se interessar por mim. Fui uma idiota arrogante.

Saio do meu quarto e paro na soleira da porta do dela. A loira está maquiando-se.

— Aonde você vai? — interrogo curiosa.

— Decidiu falar comigo? — ela me fita de soslaio, repreendendo-me com ironia.

Dou profundo suspiro, faço uma expressão de exaustão, e insisto:

— Pode me responder?

— Vou à apresentação da Maria e do Yan. É a primeira fase da competição. Convidar-te-ia se não tivesse feito uma besteira após a outra.

Com ar desanimado, me sento em sua cama com as pernas cruzadas e não controlo mais minhas emoções reprimidas. Desato a chorar, ao ponto de soluçar, imensamente frustrada.

— Ah eu sei... Mas juro que não fiz para provocar Maria.

Keyla larga seu estojo e se senta ao meu lado. Me puxa para um abraço reconfortante.

— Ah Keyla! — prossigo. — Eu não sei explicar. É a primeira vez que me pego tão apaixonada! Depois daquela noite, não satisfeita, procurei o Yan novamente. Atirei-me feito uma cadela no cio para cima dele e ele me desprezou! Apaixonei-me por sua personalidade máscula e sensível, e... estou arrasada! — explodo, mesmo que consciente de que ela já saiba da história detalhadamente.

— Elena, Yan e Maria se amam. A aproximação de vocês nunca passará de amizade! Por isto, não deve levar a forma que ele procedeu como desprezo.

— Depois do que fiz, acho que nem para isso sirvo mais! Estou muito constrangida, tenho vergonha de encará-lo outra vez. Por pouco não estraguei o relacionamento deles. Fui tão egoísta e imprudente...

— Não se martirize... Yan é a pessoa mais compreensível que conheci até hoje. Tenho certeza que ele nem se lembra mais disso. O melhor a fazer é dar tempo ao tempo. Maria está muito chateada. Precisa esquecê-lo. Ele não tem o mesmo interesse em você. Yan é  o tipo de pessoa que age por emoção. Ele é muito honesto com seus sentimentos. Transar por transar não faz o estilo dele.

— Mas foi isso o que me atraiu nele, como faço para esquecê-lo? — indago perdida.

— Procure se distrair; fazer as coisas de que gosta. Como disse: no momento o tempo é o melhor remédio.

— Tem razão... Não há nada o que fazer; além disso — lufo mais conformada.

— Isso vai passar, vai encontrar alguém que corresponda seus sentimentos e será maravilhoso.

— Tomara. Estou me cansando das festas e das paqueras, quero alguém que me ame, que cuide de mim e me aceite do jeito que eu sou. Quero viver um amor como o de Maria e Yan.

— Eu te entendo perfeitamente. Um dia a gente encontra uma pessoa assim. Ou simplesmente, ela nos encontra, ou o destino a põe no nosso caminho. Tudo tem sua hora certa para acontecer.

— Obrigada pelos conselhos amiga! Estou até me sentindo melhor. Foi bom conversar com você! Desculpa minha infantilidade.

— Sabe que pode contar comigo, não? Vamos deixar tudo isso no passado.

Apenas assinto. Me aconchego em seu ombro até as lágrimas irem embora definitivamente.

É nesse momento que a campainha toca.

— Deve ser J.j. Preciso ir senão vamos nos atrasar. Tem certeza de que vai ficar bem? — questiona-me, explicitamente preocupada.

— Vou sim... Pode ir tranquila. Se divirta, e dê boa sorte aos dois em meu nome, mesmo que indiretamente. — peço, secando meu rosto com as mãos.

— Eu o farei... — Keyla me dá um beijo na testa e se vai.

Suspiro. Deito em posição de feto e fecho os olhos me lamentando mentalmente.

A vida foi injusta comigo. Eu finalmente me interesso de verdade por alguém e ele ama outra. Mas, quando a vida é justa?

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora