Capítulo 15.

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Enquanto saboreio a deliciosa refeição, entremeio a conversas banais proferidas entre os dois integrantes; observo Maria de maneira furtiva, para que ela não se sinta pressionada ou constrangida. Apesar de ter engolido a terceira garfada, estar mastigando lentamente, e sua expressão demonstrar que seu paladar aprovou o prato exótico comparado a culinária habitual do país, a batalha que ela continua travando com a comida é explícita. No entanto, ela me deixa orgulhoso em perceber que está se saindo vencedora, mesmo que gradativamente.

— Está uma delícia! — comento para suavizar o clima — O tempero é diferente.

— Culinária brasileira!

— Você conhece o Brasil? — Maria questiona incrédula, fitando Frank nos olhos castanhos, sempre muito vívidos.

— Sim, morei lá durante alguns maravilhosos anos. — suspira este, de uma forma tão saudosa que chega a me contagiar.

— Que coincidência, meu avô tem ascendência brasileira! — Maria conta empolgada.

— Mas, essa é uma excelente notícia. Tenho parentes lá e vocês podem ficar hospedados na casa de algum, quando quiserem finalmente conhecer o país.

— Eu iria adorar. Quem sabe um dia, não é Yan?

— É sim. Até arrisco um samba — brinco, sorrindo.

Ambos também riem.

Frank limpa os lábios, e me olha pelo canto de um dos olhos.

— Mais cedo disse ao Yan que sou sensitivo — explana, agora olhando minha namorada diretamente nos olhos, como se sua atenção fosse crucial. — Sou adepto da doutrina espírita — Frank faz uma pausa para bebericar a taça de vinho. — Por acaso já ouviram falar?

— Já sim! — exclama Maria, muito entusiasmada para meu gosto. — O Espiritismo foi codificado por Allan Kardec — a encaro estupefato, com a mandíbula levemente aberta. —Fiz algumas pesquisas... — sorri para mim, um tanto quanto desajeitada.

— Isso é muito bom Maria! E se interessou? — Frank dá vazão a loucura lançada por ele mesmo.

— Achei interessante... Mas não aprofundei.

— Quando encontrei Yan pela primeira vez hoje à tarde, vi uma parte do passado dele no Brasil. — confessa, me analisando como se estivesse lendo-me novamente. Isso é extremamente desconfortável.

Permaneço quieto, esperando pelo discorrer dessa conversa, no mínimo insana.

— Como assim? Yan nunca esteve no Brasil — Maria investiga aturdida.

— Acreditam em reencarnação?

Vejo Maria dar com os ombros, num gesto simbólico de que não tem uma opinião formada a respeito. Eu, limito-me, apenas a balançar a cabeça negativamente. Não tenho porque fazer rodeios.

Frank completa:

— Acreditando ou não, há fatos que comprovam que já vivemos outras existências... Em outros países... Em corpos diferentes... — salienta e eu me sinto desnudo perante seu olhar perscrutador.

— E o que viu no suposto passado de Yan? — Maria insiste, visivelmente curiosa e interessada no assunto.

— Vamos terminar o jantar, depois conversamos com mais calma. — Frank propõe, voltando sua atenção para a mesa farta.

Lanço um olhar de alívio para Maria, e esta espreme os olhos na minha direção, sarcástica, redendo-se. Porém, pelo que conheço dessa mulher, sei que não desistiu dessa loucura.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora