Epílogo

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- Yan... - Maria aparece na porta do banheiro me chamando com um tom meigo. Minha esposa está mais serena desde os últimos acontecimentos e seu tratamento psicológico. Aos poucos recuperamos nossa vida sexual com muita paciência e amor. Além disso, ela se tornou uma mulher mais segura de si e até recebeu bem Elena que veio nos visitar recentemente mas que continua morando no exterior. A modelo trouxe seu namorado e a amizade entre nós quatro se fortaleceu além das telas dos meios de comunicações tecnológicos.

- Oi? Aconteceu alguma coisa? - pergunto sem encará-la. Estou analisando alguns papéis para a locação de mais um dos imóveis do meu pai, e não quero perder a concentração. Depois que surpreendentemente, Chang e Megan juntaram as escovas, como eu havia previsto, eles vivem viajando e a maior parte do trabalho sobra para mim, porém, não me importo. Gosto de me sentir ocupado e dar um bom destino ao patrimônio da minha família, por esse motivo doei uma parcela da minha herança para uma mulher trans do grupo de terapia que não tinha condições financeiras de arcar independentemente de uma das cirurgias almejadas, com a outra eu comprei o galpão onde damos as aulas de dança voluntárias e conseguimos arrecadar uma quantia suficiente para uma reforma a partir de um evento beneficente com os próprios alunos. Enfim... Posso dizer que estou satisfeito com o rumo que minha vida tomou e feliz pela realização de todos ao meu redor.

- Acho que vamos ter que alugar um lugar maior... - sugere. Depois de quase três anos de casados, nós continuamos morando na minha kitnet. Ainda não fiz a faloplastia, somente a metoidioplastia. Decidi me dar este tempo para pensar se é realmente isto que quero, pois é algo irreversível.

- Por quê? Achei que gostava do nosso ninho de amor... - replico fingindo indignação e ela sorri perceptiva.

- Eu gosto, mas é que... Já está na hora de comprarmos nosso próprio apartamento porque vamos precisar de mais espaço, entende?

Tiro a atenção das folhas e a fito. Ela brinca com um sorrisinho suspeito, enquanto suas mãos estão escondidas atrás das costas.

- O que você quer dizer com isso? - arqueio uma sobrancelha.

- Adivinha? Eu estou grávida...!

- O quê? Como? - gaguejo. Estou desnorteado.

- Já fazia um tempo que estava tentando e... - ela me mostra o teste de gravidez. - Eu queria te fazer uma surpresa. Eu sei que planejamos engravidar daqui a cinco ou seis anos, mas... Eu quero muito ter um filho seu, então não via a hora...

Largo os papéis e me levanto, abobalhado.

- Você fez a inseminação... - constato perplexo.

- Sim. Eu usei seus óvulos e o sêmen do Frank...

- Caramba, Maria. Você devia ter me contado!

- Você não gostou?

- É claro que eu gostei. Eu nem sei o que dizer... - seguro seu pescoço com as duas mãos e a beijo com fascinação, cheio de uma expectativa contagiante. - EU VOU SER PAI, CARALHO!

- Vai ser o melhor pai que alguém poderia ser... - Maria garante rindo do meu entusiasmo.

Aliso sua barriga, incrédulo.

- Ainda é só uma sementinha... - ela pondera com uma expressão plena.

- E vai ser muito amada desde agora... - beijo sua testa e depois me ajoelho para pousar meus lábios em seu ventre exposto pela langerie branca que traja. - E sim, vamos precisar de um lugar maior, e sabe por quê? - ela balança a cabeça negativamente. - Porque esse vai ser o primeiro filho de muitos que eu quero ter com você...

Maria me puxa e me beija, e eu acabo me lembrando do sonho que tive com Frank, em que ele dizia que eu reveria minha mãe.

Fim?!

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora