Capítulo 11.

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Aproveito que Maria dormiu novamente, e venho tomar um café, mas antes que chegue até a lanchonete do hospital, o médico - cujo a atendera - avista-me, e me faz parar, lançando-me um aceno interpelativo.

- Yan, certo? - indagou, um tanto quanto eufórico.

- Sim - assinto.

- Os resultados do exame da sua namorada acabaram de sair - anuncia, folheando alguns papéis, que até então, não tinha reparado em suas mãos.

- Isso é ótimo! - exclamo, sinceramente aliviado. Estou cansado, faminto, sedento, e muitíssimo preocupado com Maria. Quanto antes o diagnóstico sair, mais rápido poderemos ir embora. Apesar de estar familiarizado com hospitais, levando em consideração minha condição, e as inúmeras vezes que tive que passar por exames e afins, e agora o acompanhamento psicológico e endócrino, o ambiente ainda me soa fúnebre. Analisando o semblante hesitante e o silêncio mordaz do profissional de saúde, impaciente trato de investigar: - Deu alguma alteração?

Ele me encara, apreensivo.

- Doutor? - insisto. Estou começando a me desesperar aguardando este bendito resultado.

- Bom, Maria está com insuficiência de vários nutrientes, anêmica, e...

- E? - incentivo, visivelmente irritado com sua enrolação.

- Infecção urinária!

Bufo, incrédulo:

- Quanta coisa!

- Para alguém tão jovem é bastante preocupante. Sugiro que ela fique por mais alguns dias em observação para a realização de exames mais detalhados.

- O Senhor está suspeitando de mais alguma coisa? - sondo, desejando internamente que a resposta seja não, porém, ele coça a nuca nervosamente, revelando o contrário. - Por favor, Doutor... Peço que não me esconda nada, absolutamente nada, entendeu? Eu sou responsável pela Maria.

- Sendo assim... - ele dá com os ombros - não sou nenhum especialista na área, mas, creio que ela também está com uma leve inflamação no estômago causado por...

- Por? - ok. Perdi a paciência. Alguém me segura, que vou arrebentar a cara desse médico. - Fala logo! - o homem arregala os olhos verdes, impressionado com minha súbita alteração.

- Práticas não indicadas...

- Que tipo de práticas? Por favor, Doutor... Facilita minha vida? - massageio as têmporas, arfando.

- Não percebeu nada diferente? Pergunto isso, porque já que é a pessoa mais próxima dela, deve ter notado algo.

- Algo como? - o que eu menos consigo agora é raciocinar.

- Ela se alimenta pouco, e quando se alimenta se apressa para ir ao banheiro, e...

- Já entendi, Doutor... - o interrompo abruptamente, passando as mãos de modo aflito pelo rosto. Como pude não perceber sinais tão relevantes quanto estes? A magreza excessiva em apenas meses, o culto da própria, comparando-se com mulheres magérrimas que atingiram o sucesso com mais facilidade que as outras, o medo de comer e engordar, o constrangimento constante com o corpo?! Sinto-me péssimo por ter sido tão egoísta, e decepcionado por ela não ter mencionado nada a esse respeito. Afinal, achei que fôssemos amigos, não é?!

- Sua namorada está anoréxica. O peso está abaixo do recomendado para a altura e a idade dela. Provavelmente o estado crítico deve ter se iniciado com a indução do vômito. Apesar de serem transtornos distintos, ambos são graves e quase sempre levam ao outro. - explicou, dado o meu torpor.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora