Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)

Capítulo 52.

Estou na praia, sentado na areia, olhando aleatoriamente para imensidão de céu e mar.

Frank se foi para sempre. Eu não vou poder mais abraçá-lo, beijá-lo, sentir o calor, a maciez de sua pele e seu sabor; gosto este que lamento por não ter provado antes por não estar preparado nem confortável, mas pelo qual viciei assim que experimentei, embora me contente em tê-lo tido de outras formas. Nem poderei mais pedir seus conselhos e emendar numa conversa agradável. Não verei mais o brilho inato de seus olhos, nem a beleza de seu sorriso genuíno. Gabe o tirou de mim. E as lembranças continuam vívidas, desde o dia em que o conheci até o momento em que o perdi para a morte.

Eu teria o matado com minhas próprias mãos se as pessoas não tivessem me impedido. O desgraçado confessou descaradamente suas intenções para a polícia. Disse que não queria ferir Frank. Que era eu que deveria ter morrido em seu lugar, mas Frank pulou na minha frente e ele errou o tiro. Com tantas testemunhas ele foi preso em flagrante e vai passar uns bons anos na cadeia. A justiça foi feita, mas ainda sinto um vazio imensurável dentro de mim. Frank dera a própria vida para me salvar e eu sequer tive tempo de dizer que também o amo.

Naquela noite, ele não suportou e morreu antes de chegar ao hospital. As balas atingiram alguns órgãos vitais e infelizmente, ele não resistiu.

Um pedaço da minha alma morreu junto, no corredor daquele pronto atendimento, quando recebi a notícia de seu falecimento. Eu não quis acreditar. Parecia que eu estava vivendo um pesadelo terrível do qual eu jamais conseguiria acordar.

Me deixei cair sentado no piso gélido, e Chang veio me abraçar. O mesmo abraço reconfortante que ele costumava me dar quando éramos crianças e meu pai me obrigava a vestir roupas ditas de menina, e agir como uma, como se isso mudasse magicamente quem eu sou. Foi nesse momento que eu senti que ganhei meu irmão de volta e que poderei contar com ele como nos velhos tempos.

Megan permaneceu ao nosso lado e eles acabaram se aproximando em meio a tragédia. Pelo menos uma coisa boa aconteceu naquela madrugada.

Greg e Malu ficaram sem chão. Eles me confessaram que Frank, de alguma forma, sabia que iria desencarnar. Foi ele quem os convidou para passar uma temporada aqui em Los Angeles. Greg tem certeza que o filho queria passar os últimos dias ao lado de quem amava, especialmente de mim. Disse que viu o quanto Frank me amava, e como era feliz ao meu lado e exatamente por este motivo me confiou a urna com as cinzas dele, hoje no final da cerimônia de despedida. Eu não pensei em outra coisa senão jogá-las ao mar. Esse lugar sempre me trouxe a paz que eu não encontrava no mundo, e não poderia não ser o local mais indicado. Assim, eu continuarei sentindo-o por perto cada vez que me aproximar da praia.

Por mais que eu tente, não consigo crer que Frank está morto. Quando vejo-o em minha mente ele está bem, saudável e cheio de vida. Se minha mãe está viva em algum lugar do Universo, ele também pode estar e espero que esteja me ouvindo agora.

Eu te amo. Desculpa por não ter demonstrado isso quando você estava aqui. Desculpa por tudo, Frank. Você sempre foi um cara evoluído, e eu ainda estou me despojando das minhas imperfeições. Eu prometo que vou viver cada dia da minha existência como se fosse o último. Vou valorizar a vida que você me deu. Não vou me queixar nem me sentir culpado, porque eu sei que você não iria gostar disso. Você me salvou duas vezes, uma delas de mim mesmo e o mínimo que eu posso ser é eternamente grato e reconhecer a nobreza em seu gesto de amor incondicional e desinteressado. Eu não tive coragem de dizer antes, e só vim entender e aceitar meus sentimentos tarde demais, mas saiba que eu também amo você. Espero que me escute de onde estiver...

Deixo que as lágrimas escorram livremente por meu rosto. Eu fiz uma promessa para Frank. Jurei que nunca mais iria me privar e é isso o que farei. Não quero deixar espaço para arrependimentos na minha vida. Se eu tiver que me arrepender de algo não será pelas coisas que deixei de fazer.