Capítulo 51.

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(Maria)

Brianna, e as mães; Tina e Britney estão me fazendo sentir em casa, um verdadeiro lar que nunca tive ao lado de Rosa. Elas me acolheram com todo respeito e carinho, e têm me ajudado em tudo que eu preciso.

Vários dias se passaram desde aquela noite terrível e eu ainda sinto como se tivesse acontecido ontem. Pelo menos os hematomas já sumiram e eu não tenho mais que ver os vestígios, além dos que ficaram na minha alma, e com certeza os que mais doem porque são mais difíceis de cicatrizarem e às vezes a ferida nunca se fecha.

Não consigo perdoar o Rick e muito menos a Rosa.

Naquela manhã mesmo, em que vim procurar auxílio a Brianna, ela me convenceu a abrir um boletim de ocorrência, denunciar e processar meus agressores. Eu não queria iniciar um processo judicial, mas ela me mostrou que era extremamente necessário. Minha irmã e aquele crápula não poderiam sair impunes. O corpo de delito foi fundamental para abrirem o inquérito. As provas eram incontestáveis, e graças a elas, eles vão responder por estupro, agressão, sequestro e danos morais. Não sei qual será a sentença, visto que eles não têm antecedentes criminais, mas serem responsabilizados pelo que me fizeram já é um grande passo. As mães de Brianna fizeram questão de contratar um advogado que está cuidando profissionalmente do caso. Além disso, eu tive que tomar um coquetel de remédios para prevenir doenças sexualmente transmissíveis e gravidez.

Foram dias complicados e de muito constrangimento, e se não fosse pelo apoio dessa família, eu não teria conseguido sozinha. Eu sequer teria feito alguma coisa. Talvez ainda estivesse morando com Rosa e me submetendo a toda espécie de violência por medo de ficar só no mundo ou teria me suicidado por não ter conseguido lidar com a solidão e tanto sofrimento. Foi um erro ter me afastado dos meus amigos. Hoje entendo que eles só queriam minha felicidade e eu orgulhosa e insegura, não quis enxergar e aceitar, e me isolei. Mas estou trabalhando arduamente na certeza de que isso não me torna culpada e responsável pelo o quê esses monstros me fizeram. Sorte a minha que Deus não me desamparou.

Brianna e suas mães, até mesmo Rocco, têm me feito ver que não podemos nos calar perante a violência, seja qual for ela, pois a psicológica é tão grave quanto a física. Que principalmente nós mulheres, temos que reagir, nos unir e destruir o machismo e a agressão sexual, moral e verbal.

Confesso que não está sendo fácil curar minha mente de milhares de danos. Às vezes a vontade de desistir bate forte, mas a amizade de Brianna tem me incentivado a me manter de pé e superar essa péssima maré.

- Estava arrumando seu quarto e achei essas ilustrações... - essa é Brianna. Ela senta ao meu lado no sofá da sala, de onde eu estava admirando pela janela a estufa que há no quintal. - Foi você quem as fez?

- Sim. Algumas criações simples... - confirmo dirigindo toda minha atenção para ela.

- Simples? - minha amiga folheia o caderno com admiração. - Não seja tão modesta, Maria. São simplesmente incríveis, isso sim!

Dou um risinho tímido.

- Não acha que já está na hora de você voltar a ativa? - aconselha paciente como habitual - Não que eu esteja dizendo que você é uma inútil nessa casa, mas ficar presa o dia todo aqui não te faz bem. Você precisa se distrair e ocupar sua mente com atividades saudáveis.

- E o que eu vou fazer? - dou com os ombros. Não tenho muitas opções além de arranjar um emprego, mas não sei onde está meu ânimo para realizar a menor ação que seja. Felizmente ainda tenho dinheiro para me manter. Odeio dar despesas e trabalho para os outros. Porém, tenho que arranjar uma maneira de sobreviver, já que ele não vai durar para o resto da minha vida.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora