Capítulo 28.

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*** Capítulo com conteúdo adulto

Assim que chego no prédio, hesito por alguns segundos na porta do meu apartamento. Frank invade minha mente. Uma forte vontade de procurá-lo para desabafar sobre o ocorrido me domina, e eu me rendo. Há coisas, como esta, que eu sinto não conseguir digerir sozinho, e nada melhor do que conversar com alguém de confiança — segundo Doutora Phillips. Não que eu realmente confie em Frank, só que ele é a única pessoa mais próxima no momento em que se dispõe — embora estranhamente — a ser meu confidente de todas as horas. Pelo menos eu sei que o que quer que eu diga ao meu vizinho, ele manterá a discrição.

Rodo nos calcanhares e paro somente em frente a sua porta. Dou umas batidinhas nesta e não demoro a ser atendido. Ele me recebe com seu sorriso labial habitual e uns óculos de grau que o deixa instigante.

— Boa noite Yan! Aconteceu alguma coisa? — pergunta solícito.

— Desculpe-me... — peço, me arrependendo — por te procurar a esta hora da noite. É melhor eu voltar depois... — falo já virando as costas.

— Ei, de forma alguma. Vem, entre — ele me puxa pelo ombro para dentro, e não resisto. Em seguida fecha a porta atrás de nós, e continua me guiando até que eu me sente no sofá ao seu lado, onde há um livro aberto, provavelmente qual ele estava lendo e o interrompi. — Você está bem?

Passo as mãos nervosamente pelo cabelo, sentindo-me constrangido, sem saber como começar a falar sobre o que houve sem parecer um idiota.

— Sim... Não, é que... É só que... — gaguejo e ele levanta uma de suas sobrancelhas, incentivando-me visualmente. Respiro fundo, tomando coragem. — Quero conversar um pouco com alguém...

Ele reage fazendo um som de entendimento.

— Então veio ao lugar certo. Sabe que pode confiar em mim, não sabe? Quero ser seu amigo, de verdade... — sua mão toca genuinamente meu joelho, e eu sou tomado por uma reação incomum. Algo como se eu tivesse acabado de ser eletrizado. Contudo, não perco muito tempo nessa observação, achando estranho, com receio de explorar e entendê-la.

Abro um sorriso fraco.

— Você tinha razão! Maria e eu por pouco terminávamos ontem. Agora não sei se fico com medo ou se levo como um alerta suas previsões.

Ele ri.

— Vocês se amam. Mas precisam fortalecer este sentimento. O laço ainda está frouxo e seja qual for a tempestividade, ele está suscetível a se romper a qualquer momento. Quanto aos outros pressentimentos, não se precipite. Na hora certa você perceberá que as peças estão devidamente se encaixando.

— E como podemos fazer isto?

— Não encontro respostas coerentes com a pergunta. Afinal, somente a experiência ensina. Sugiro apenas que confiem um no outro. É o mais simples e certeiro a se fazer.

— Maria é ciumenta e insegura, mas juro que não dou motivos. Faço sempre o melhor que posso.

— Não a julgue. Procure ser mais tolerante.

— Mas sou até demais — bufo.

— O passado guarda muitos segredos. Os traumas tornaram-na assim. Cultive a paciência. Os caminhos do aprendizado são inúmeras vezes; tortuosos... No fim acabamos por compreender os desígnios da vida. O tempo é amigo. Não podemos exigir o que ainda não se é capaz de oferecer. As provas nos amadurecem.

— Tem razão. Obrigado pela atenção.

— Não me agradeça. Vejo que não foi Maria que te trouxe aqui. Sinto a energia de outra mulher em sua aura.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora