Capítulo 58.

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Desperto sentindo uma carícia no rosto e estranhamente; o cheiro peculiar e indiscutível de Frank, como se ele não tivesse partido. Abro os olhos e levo um susto quando o vejo deitado ao meu lado na cama.

- Frank? - questiono confuso, olhando para todos lados, e depois para ele.

Ele apenas assente.

- Sou eu... Ainda tem dúvidas?

O puxo para um abraço caloroso para ter certeza de que é mesmo ele e que de fato está aqui. Aconchego-me em seu ombro, cheiro seu pescoço, e apalpo suas costas.

- É você mesmo... O que... Eu... Como?

- Acalme-se Yan... Não quero perder a oportunidade que custei tanto para conseguir.

- Do que está falando? - o afasto  um pouco e o fito nos olhos mais brilhantes que o natural.

- Você está dormindo... Quero dizer, o seu corpo está... Você acabou de chegar do treino, tomou um banho e dormiu. Seu espírito apenas se desprendeu do corpo. Quando isso acontece, você tem acesso a este plano e recorda em forma de sonho.

- Isso é estranho... - murmuro, mas não dando a mínima pela forma que nos reencontramos. Só quero aproveitar cada segundo antes que eu acorde.

- Por que demorou tanto para vir me encontrar? Como você está? Onde você está? Como é estar morto? - pergunto ofegante.

Frank sorri:

- Calma, uma pergunta de cada vez. Eu estava me recuperando. Eu sabia que iria desencarnar, mas não sabia que iria ser daquele jeito. Foi um choque para mim. Meu perispírito ficou meio danificado. E eu tive que esperar permissão superior para me comunicar com você. Infelizmente, quando você acordar, não vai se lembrar do que conversamos. Apenas que esteve comigo e a essência do nosso diálogo ficará em forma de intuição. Agora estou bem, e eu estarei por perto te auxiliando no que precisar. E o que morreu foi meu corpo, continuo vivo aqui, do outro lado.

- Podemos sempre nos ver?

- Sim, você só não vai lembrar. Pelo menos não de tudo.

- Por quê?

- Porque as lembranças podem interferir nas suas escolhas e você está aqui para evoluir sem influências.

- Ok... Quero aproveitar sua companhia... - abraço-no novamente. - Estou com tanta raiva do Gabe... Ele não podia ter te tirado de mim - digo me recordando dolorosamente daquela noite.

- Não guarde mágoa do Gabe. O rancor só faz mal a quem sente. Tente perdoá-lo. Ele vai ter que lidar com as consequências de suas escolhas, e te garanto que não são boas. Toda ação tem uma reação.

- Eu me sinto culpado... Você se enfiou na minha frente, era eu que devia ter morrido.

- Você tem que entender que eu não parti por engano. Eu fiz minha escolha. Sou mais útil aqui e depois, talvez eu reencarne numa próxima chance... Eu não me fui para sempre. A prova disso é que estamos tendo contato agora.

- Eu sei, só não é a mesma coisa - lamento.

- Com o tempo você vai se conformar. Você tem toda uma vida pela frente, tem planos para colocar em prática, objetivos a serem realizados, e as pessoas ao seu redor precisam de você encarnado...

- Está falando do meu pai, não é? - suspiro.

- Dele e de muitos outros... Sua mãe é uma delas.

- Minha mãe? Por que ela não veio com você?

- Você vai vê-la em breve. Mas não aqui...

- Como assim?

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora