Capítulo 38.

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Chang fez questão de contratar um engenheiro, um arquiteto e uma decoradora com experiência na área comercial.

Meu irmão, Dave e eu estamos monitorando a reforma do restaurante presencialmente, para garantir que não haja nenhuma falha no projeto. Confesso que estou gostando de estar tão ocupado, pois não sobra tempo para pensar em outras coisas, como uma pessoa em específico chamada Maria. Além disso, estar diariamente na companhia do meu irmão mais velho tem me rendido boas risadas e estamos ficando cada vez mais próximos, recuperando, de alguma forma, o tempo que estivemos separados pelas circunstâncias, e assim resgatando o afeto e a amizade.

Estou conversando com a decoradora sobre paisagismo quando Chang me chama no escritório e me convida a sentar.

— Algum problema? — pergunto apreensivo, embora eu tenho quase certeza de que não haja nada de errado com a reforma.

— Nada a respeito do restaurante — ele confirma o que eu havia imaginado e alisa o queixo pensativo. — Aquele cara que esteve aqui outro dia...

— O Frank? — questiono, pois meu vizinho foi o único que veio aqui há alguns dias. Eu o convidei para conhecer o restaurante antes da reforma, e ele aproveitou para me dar uma carona. Frank e eu também estamos mais próximos depois do incidente que graças aos deuses não foi fatal, porque eu não estaria vivendo nada disso agora.

— Sim. Esse é o nome dele, não é?

— O que tem?

— Eu ouvi, sem querer só para constar, uma conversa entre vocês dois. Então, run, run, você ainda não fez a mudança de sexo?! — indaga com receio de estar sendo invasivo. Porém, não acho que esteja, visto que a informação é seu foco. Fora isso, é extremamente indelicado fazer investigações as pessoas trans com o único intuito de matar curiosidade, já que nenhum transgênero chega em um cisgênero perguntando como é sua genitália neste contexto. E não é a transição física que valida a identidade dos transgêneros, uma vez que, muitos deles não sentem essa necessidade ou não o fazem por questões financeiras ou mesmo de saúde.

Suspiro. Ele deve estar se referindo ao momento em que Frank me ofereceu dinheiro emprestado para fazer pelo menos a mamoplastia masculinizadora e eu recusei por questões de princípios. Até Megan me sugeriu um empréstimo, porém, também não aceitei. Desde que eu saí de casa, acho importante conquistar meus objetivos pelo meu próprio mérito. Prefiro esperar a atualização do plano de saúde, ou ir juntando a grana aos poucos. Se esperei até hoje, posso esperar mais um pouco.

— Não se diz mudança de sexo, e sim adequação ou transgenitalização. E eu não pretendo fazer a adequação genital por agora. Primeiro quero fazer a mastectomia e a histerectomia — explico pacientemente para que ele não continue cometendo erros por pura ignorância.

— E do que se trata essas duas últimas? — quer saber, sinceramente interessado.

— Retirada das mamas e dos órgãos reprodutores dito femininos.

— Hum... Você tem certeza? Digo, não quer gerar um filho?

— Não, não tenho nenhuma vontade de gerar uma criança. Mas pretendo congelar alguns óvulos antes do procedimento definitivo. Se futuramente eu encontrar alguém que esteja disposta a ser mãe... Ela terá um pouco das minhas características.

— Mas, você ainda produz óvulos? Mesmo tomando hormônios? — Chang se remexe na cadeira. — Desculpe, meu irmão, mas eu sou leigo nesse assunto.

— Sim. Mas eu preciso parar de me hormonizar por um tempo para que eu volte a ovular. Isso ainda pode ocorrer desde que o útero não esteja completamente atrofiado.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora