Capítulo 20.

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(Maria)

Depois da breve explicação didática de Yan com relação aos seus amigos do grupo de terapia semanal, namoramos por algum tempo até a chegada de algum táxi disponível. Acho que ele ficou com ciúmes quando comentei sobre Bruce. Eu deveria guardar essa espécie de coisa para mim, porém, a vontade de compartilhar minhas observações costuma ser mais forte que o meu bom senso para permanecer quieta. Visto que foi inevitável reparar no rapaz privilegiado por uma beleza única. Acredito que o meu namorado é o homem mais belo do mundo, na minha opinião, mas ele seria ainda mais se conseguisse amar o próprio corpo do jeito que está, sem precisar recorrer a cirurgia alguma. Eu só quero fazer com que ele entenda isso: aprender a ser feliz sem necessitar arrancar o que lhe torna especial. Essas cirurgias são tão agressivas e deixam cicatrizes horríveis. Yan tem que entender que ele é lindo do jeitinho que veio a esse planeta e não é necessário se mutilar para se sentir realizado e aceito.

Trocamos mais um beijo antes de entrar no carro, e uma vez acomodados, deito minha cabeça no seu peitoral. Ele fica em silêncio por todo trajeto, apenas fazendo carinho no meu cabelo e eu também não me atrevo a interromper nosso clima romântico com conversações que podem aborrecê-lo como sempre acontece quando eu tento dialogar sobre determinados assuntos que o deixam desconfortável. Yan é do tipo de pessoa que não abre mão das próprias convicções apesar de respeitar a dos outros. Embora, eu esteja tentando compreendê-lo e respeitar suas opiniões, totalmente divergentes das minhas, é complicado não poder expor o que eu penso tendo que ficar calada na maioria das vezes para não gerar discussões que afetam negativamente nosso namoro. No entanto, tenho percebido que para darmos certo, terei que renunciar minha natureza em muitos pontos, o que é extremamente difícil.

Assim que descemos do elevador, com seus olhinhos pretos marejados e um ar inocente, meu namorado questiona-me:

- Não vai mesmo me deixar conhecer seu quarto?

- Melhor não. É minha segunda noite aqui, não quero abusar - respondo rindo de sua expressão de adolescente decepcionado porque não pode transar.

- Nos amamos e não vejo porquê ficarmos longe um do outro. Vamos arrumar suas coisas e ir para meu apartamento?! - abandonando o timbre lúdico, ele sugere sério.

- Eu que não sei o porquê de tanta afobação... Não quero simplesmente mudar para seu apartamento e me acomodar - me irrito.

- Isso não vai acontecer. Só quero te ter por perto - seus dedos compridos acarinham minha bochecha.

- Mais perto impossível Yan! Quero me casar de véu e grinalda como manda o figurino.

Ele ri. O sorriso mais lindo que já presenciei na minha reles existência, que destaca sua boca, e puxa ainda mais seus olhos.

- Está falando sério? - indaga divertido, quando enfim consegue controlar o riso.

- Estou - digo sisuda. - Você não quer me levar para o altar?

- Claro. É uma honra te fazer minha esposa. Você me fará o homem mais pleno do Universo porque feliz eu já sou ao seu lado!

É minha vez de rir do seu tom infantil, carregado de ironia.

- Então não se apresse... Eu não vou a lugar nenhum, está bem?

- E quem disse que vou te deixar escapar?

Ele não me dá tempo para dizer qualquer coisa, simplesmente me beija, enquanto pressiona meu corpo na parede.

Suas mãos resvalam para debaixo da minha regata, e acariciam minhas costelas com as pontas dos dedos.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora