Capítulo 21.

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*** Capítulo com conteúdo adulto

É impossível não ficar excitado mesmo que, no mínimo contato com Maria. Basta que nossas peles, mãos, e bocas se encostem para a magia acontecer. Ambos causamos um efeito devastador um no outro, sem quaisquer vestígios de dúvidas. Nossos corpos incendeiam, febris, ao ponto de produzir pequenos tremores em nossos músculos. Isso seria simplesmente fantástico e pleno se acontecesse igual com nossas mentes. É difícil admitir que não tenho a conexão íntima que eu gostaria de possuir com ela. Por mais que, Maria esteja se esforçando para me respeitar como homem trans, ainda não entendeu a parte da necessidade de adequação entre minha essência e minha imagem exterior. Isto estava óbvio até eu ter certeza ontem. Só que, eu não queria enxergar. Não foi por acaso vê-la no deque e aceitar sua companhia para conhecer meus colegas. Graças a isso, pude cair na real e sem paraquedas. Mais uma vez, eu falhei tentando me manter no controle da ansiedade. Depois que fui praticamente escorraçado do apartamento onde ela está morando com Keyla e Elena, por ciúmes bobo desta, fumei quase um maço inteiro. Porém, a sensação de que estou segurando ar ou água, continua viva e latejante dentro de mim. Nunca senti tanto medo na minha vida. O medo de perder Maria me apavora, embora eu já tenha feito minha escolha, caso ela não concorde com a mastectomia e as outras cirurgias. Aliás, que diferença faz para ela, eu ter seios ou não? Ela sequer toca em mim. Talvez tocasse se eu lhe desse abertura para tal... Mas não posso fazer algo que eu não me sinta confortável. A minha vontade e integridade estão em primeiro lugar.

A seguro forte na cintura, tão forte que ela geme mais de dor que de prazer. Me recuso a deixá-la sair da minha vida. Dificilmente conseguiríamos manter a amizade que tínhamos antes de nos envolvermos, em menos de um mês.

Agora não sei se me preocupo em satisfazê-la, ou manter minha genitália bem escondida. Afinal, não dá pra ficar com o binder e o packer vinte e quatro horas, mesmo que eu sinta que ele já faz parte de mim, que é de fato meu membro. Antes de sair de casa, até para ir na padaria, eu me ajeito ao máximo para evitar que as pessoas leiam características ditas biologicamente femininas em mim. A disforia com meu órgão é uma agulha perfurando meu psicológico constantemente. Eu procuro e não encontro uma sensação pior do que não me sentir feliz e realizado com o próprio corpo, seja quais forem as circunstâncias. Eu estava enganado quando acreditei que Maria pudesse compreender um terço do que eu sinto. Sei que é ignorância e egoísmo eu achar que seu problema com a balança tem a ver com estética, e ela pensar que o meu também tenha. Mas, as cirurgias não são para que os trans se sintam belos, e sim encaixados em si mesmos. A transição acontece de maneira individual. Alguns se sentem satisfeitos em apenas se assumirem trans em sociedade, outros em retificar o nome, mas eu não. Preciso passar por todas as etapas para me sentir completo. E tudo que eu mais desejo é que ela entenda isso. Deuses, por que é tão difícil?!

Eu não sei como contar, mas sei que preciso, antes que eu perca de vez o fio da meada. Talvez mais tarde... Ou amanhã, quem sabe?!

— Yan? Está tudo bem? — ela averigua, percebendo meu estado de torpor, enquanto nos acariciamos.

— Sim... Eu só- só preciso ir no banheiro — aviso, e tento me levantar, porém sou impedido com toda a força de seu corpo sobre o meu.

— Você não vai a lugar nenhum... — diz em tom autoritário, inclinando meu pescoço para trás.

— Não posso... Ham, mijar? — invento.

— Sei que quer ir para o banheiro só para fugir de mim.

Estalo a língua, contrariado.

— Não tenho porquê fazer isso.

— É mesmo? — indaga  descrente, arqueando as sobrancelhas. Assinto. — Então me deixa te ver nu.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora