Capítulo 37.

235 30 30
                                    

Maria

Estou ajudando Rosa a fazer o jantar quando ela me fita.

— Estive pensando Maria... — largo a cenoura que até então  estava ralando e a encaro. Eu engordei muito nesses últimos dias por causa da preocupação e os cuidados excessivos de Yan com minha alimentação, e agora estou focada num regime severo a base de legumes e verduras sem muitas calorias, para perder o peso acumulado. Yan não me falou nada diretamente, mas esperta como sou, óbvio que percebi que ele soube da minha briga com a balança e o espelho. Afinal, estava sempre me orientando a procurar ajuda psicológica, coisa esta que acho que realmente se trata de um exagero. Eu posso resolver isso sozinha. Minha vida controlo eu. Nem sei onde eu estava com a cabeça quando cogitei nessa hipótese. — Por que não deixa o emprego na cafeteria e volta a trabalhar no Arriba? — sugere com seu tom abusivo irritante — Estou precisando de você lá, e também é bom ficar perto da família. Durante o dia pode procurar fazer algum curso, agora que desistiu da dança. O que acha?

— Eu não desisti da dança, Rosa — corrijo rápido e séria. — Assim que encontrar um parceiro a minha altura, vou voltar para os palcos.

— Está bem... Mas enquanto isso não acontece, você precisa fazer alguma coisa útil, não é? — replica desacreditada quanto a possibilidade de um dia eu conseguir dançar profissionalmente.

— Tudo bem — concordo para evitar discussões exaustivas e também porque acho melhor ficar distante de tudo que remete ao meu ex-namorado. — Vou conversar com o Frank amanhã. Você tem razão, eu gosto de trabalhar a noite.

— Faça isto! Estamos sentindo sua falta — complementa alisando meu ombro desnudo pela blusa larga que estou usando.

— Eu também. Vou arrumar a mesa.... — digo e sigo para copa.

— Ah, coloque um lugar a mais! — avisa com um ar suspeito — O sobrinho do Manolo vai vir jantar conosco. Esqueci de te falar.

Semicerro os olhos na direção da minha irmã, com a mão na cintura, para fuzilá-la explicitamente. Conheço Rosa. Ela não se esqueceria de me contar sobre um detalhe tão importante. Aposto que ela quer jogá-lo para cima de mim. Porém, ela pode tirar seu cavalinho da chuva, porque isso não vai acontecer. Não quero me envolver com ninguém. Eu acabei de terminar meu relacionamento com o Yan. Preciso de um tempo para organizar as ideias.

— Sei... — murmuro desconfiada. — Aquele que faz faculdade de medicina?

— Ele mesmo!

Eu sei qual é a intenção da minha irmã, mas prefiro desconversar. De homem eu quero distância, ao menos por enquanto.

{...}

No jantar, como eu havia imaginado, Rosa faz questão de ressaltar as qualidades do rapaz, o que acaba por alimentar a vaidade dele.

— E você, Maria, tem algum outro interesse além da dança? — indaga curioso.

— Não que eu ainda tenha descoberto — suspiro desanimada. Meu tédio é palpável.

— Também demorei a descobrir minha vocação. Você vai encontrar a sua.

Como não falo mais nada, Rosa trata logo de emendar:

— Maria costura divinamente. Além disso, ela desenha as próprias roupas.

— Isso é incrível, já pensou em estudar estilismo?

— Nunca cogitei nessa possibilidade... — confesso com tom exaustivo.

— Mas deveria. Se quiser, eu posso te acompanhar em algumas universidades, para você conhecer mais sobre o curso.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora