Liberdade. É isso que sinto depois que finalmente fiz as cirurgias há oito meses. Consecutivamente, me senti seguro o bastante para marcar o casamento no mês passado. E agora estou aqui, me arrumando para a cerimônia que será realizada na casa de praia do meu pai, daqui a quarenta minutos.
- Eu gostaria de estar ajeitando seu traje tradicional - meu pai comenta com um tom frustrado chegando no quarto, onde estou parado em frente ao espelho.
- Sinto te desapontar - sorrio. - Mas Maria quer um visual que combine mais com o ambiente. Quem sabe um dia não renovamos os votos e façamos um casamento nos moldes chineses?
Ele se aproxima de mim e alisa minha camisa branca. É um alívio poder usar uma roupa sem ter os intrusos marcando-a indesejavelmente.
- É uma ótima ideia, porém, eu a perdoo. Você está lindo! - elogia sorrindo. - Gostaria que sua mãe estivesse aqui para ver o homem maravilhoso que você é no dia em que vai se casar com a mulher que ama.
- Ah, pai. Não fique assim. Ela está nos vendo de algum lugar - suspiro comovido.
- Você acredita mesmo nisso? - sua testa se franze.
Pego sua mão e beijo o dorso dela.
- Sim. Não tenho nenhuma dúvida disso.
- Se está dizendo... - ele dá de ombros - Eu confio em você, meu filho.
- Yan, - Chang entra no quarto ofegando - o que ainda está fazendo aí? É a noiva quem atrasa.
Meu pai e eu rimos. Chang está tão nervoso que até parece que é ele quem vai se casar.
- Ainda falta uns vinte minutos, Chang - meu pai diz revirando os olhos. - Relaxa.
- É isso aí maninho... - dou uns tapinhas no ombro dele. - Deixe para ficar estressadinho no seu casamento.
- Você está ficando é doido. Megan e eu não vamos nos casar. Estamos muito bem assim. Rum.
- Anram sei...
- É sério. Não precisamos oficializar nosso relacionamento.
- Unrum, vamos ver até quando.
Meu irmão arfa se sentindo vencido.
- Ah qual é? Pode ir pelo menos cumprimentar os convidados? - contemporiza.
- Já estava indo... - ajeito o cordão de flores que enfeita meu pescoço e saímos os três de braços dados, com meu pai no meio.
Quando chegamos na praia admiro a decoração estilo havaiana. Maria foi quem planejou cada mínimo detalhe. Fico orgulhoso da sua criatividade. Eu achei que minha morena queria se casar na igreja, mas ela me disse que na verdade essa era a vontade de Rosa e que a irmã vivia pressionando-a. Que não precisa se unir à mim num templo religioso, pois sente que Deus abençoa nossa relação e que não é o lugar que vai mudar isto. Além do mais, que ambos amamos o ar livre, e que não poderia existir local mais indicado. Eu simplesmente concordei totalmente com ela.
Avisto Edward e Melany e vou até eles.
- Aê meu garoto, parabéns... - Edward me puxa, apertando meu braço e dando tapas nas minhas costas numa saudação deveras empolgada.
- Obrigado. Eu devo isso a vocês. A Melany por ter dado o lugar para Maria no palco, e você por ter me jogado a aliança naquele momento.
- Ah, como você me disse que iria pedi-la em casamento, que já estava com a aliança e que iria fazer o pedido naquela noite, eu só dei uma forcinha... - ele explica e no fim faz um gesto modesto.
Melany ri e lasca um beijo em sua bochecha.
- Esse meu namorado...
J.j se aproxima com Keyla, logo depois Brianna e Rocco, e em questões de segundos, nós interagimos numa conversa trivial muito extrovertida.
Mesmo que a família de Keyla não aprove o namoro dos dois, eles continuam firmes e fortes. O amor sempre vence no final. Maria e eu somos a prova vívida disso.
- Você tem falado com a Elena? - pergunta Keyla, enquanto os outros estão distraídos.
- Sim. Ela sente muito por não poder comparecer. Mas me desejou toda felicidade do mundo.
- Quem diria, hein? Elena e Maria se dando bem...
- Não digo se dando bem, mas se entendendo - retruco com um ar sarcástico.
Rimos.
Vejo meus amigos do grupo de terapia chegando e vou recebê-los.
Depois é a vez de Calvin chegar com a esposa e o filho, e a cerimonialista me avisa que já está na hora e que eu devo me posicionar no meu lugar.
Respiro fundo. Estou emocionalmente preparado então fico tranquilo durante todo processo de espera até as pessoas se acomodarem e a cerimônia começar.
A música começa a tocar e Sol; a sobrinha de Maria, entra como dama de honra.
Depois é a vez da minha noiva e futura esposa surgir exuberante num vestido criado pelas suas próprias mãos talentosas.
Maria está descalço e parece uma deusa encarnada. Seu penteado é adornado por uma coroa de flores que serve de base para o véu. Sua silhueta é marcada esculturamente por um corpete bordado e uma saia branca, longa com uma abertura nas coxas. Ela está perfeita, magnífica. Está não... Ela é!
Quando ela enfim para na minha frente, me deparo com seus olhos brilhantes.
- Você está linda, eu te amo! - sussurro reverenciando-a.
- Eu também te amo...
O juiz de paz dá início ao discurso e em alguns minutos, trocamos as alianças e juras de amor. E terminamos nos beijando.
Nossos convidados levantam e nos aplaudem.
Depois da cerimônia, nos dirigimos para a recepção montada ali mesmo na areia. E foi imensamente divertida, embalada pelo repertório da banda contratada.
A festa vai até de madrugada, e quando todos já estão suficientemente altos, nos jogamos no mar para um banho coletivo. A sensação de poder tirar a camisa em público e expor um peitoral completamente masculino do jeito que eu imaginava não tem explicação e eu tenho feito isso constantemente para poder compensar o tempo em que não me sentia à vontade com meu corpo.
Foi de fato um dos melhores dias da minha vida compartilhado com as pessoas que eu amo.
A lua de mel resolvemos passar no Brasil. Como uma vez havíamos prometido a Frank que visitaríamos o país, decidimos que era uma boa hora aproveitarmos o presente de casamento do meu pai que, foi uma passagem para passar algumas semanas em qualquer lugar do mundo. Liguei para o pai de Frank e comuniquei que estava de viagem para lá. Ele insistiu muito para que ficássemos na casa dele, na Bahia. Que teríamos um quarto só para nós dois, e privacidade de sobra para aproveitarmos os dias como recém-casados. Eu conversei com Maria e ela concordou.
A viagem foi ótima e nos divertimos muito conhecendo o que conseguimos. Assim como eu, Maria também adorou e nos comprometemos a voltar para novas experiências.
Mas como tudo que é bom acaba, nós tivemos que voltar para Los Angeles, e retomar nossas rotinas.
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Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)
Romance+🔞 Yan é um experiente dançarino de salsa, trabalha em um restaurante no porto, e é apaixonado por sua melhor amiga. Um ser humano como qualquer outro, com dificuldades e problemas, sonhos, qualidades e imperfeições. Enquanto para alguns é consider...