Capítulo 18.

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(Maria)

Enrolo o quanto posso no pequeno apartamento do meu namorado, pois quero evitar ao máximo a conversa que preciso ter com Rosa, e que não poderei mais adiar.

Aproveito para arrumar pelo menos um pouco da bagunça de Yan. Dios, nunca vi tanta roupa espalhada, pasta de dente dentro da pia e pelo grudado na cerâmica do banheiro. Yan... Balanço a cabeça negativamente. Deveria ser mais organizado.

Antes de sair, enquanto me arrumo, me esforço para mastigar uma barra de cereal, porque com o Yan me vigiando para ter certeza de que estou me alimentando adequadamente, não devo cometer nenhum deslize. Se eu não participar deste torneio, eu agonizarei até a morte.

Chego em casa suando, com as mãos trêmulas, e o estômago embrulhando. Respiro fundo umas quatro vezes, para me certificar de que meu autocontrole ficará intacto durante todo o processo.

– Dormiu fora de novo, não é? – levo um susto com minha irmã sentada na poltrona, folheando uma revista com visível desinteresse, somente para me azucrinar.

– Sim. É natural dormir com o namorado de vez em quando - respondo naturalmente, desconsiderando seu sarcasmo.

– Você quer dizer namorada?! – fuzila-me enfática. - Você sequer está indo trabalhar na boate, e quando enfim vai parece que com a mente no mundo da lua. Assim não dá, ok?

– Rosa... – tento expirar, e o ar me falta. Ok. Não me preparei o suficiente. – Não estou a fim de discutir com você... Precisamos conversar sem brigas.

– Sobre?! – indaga jogando a revista em cima da mesa de centro, para depois cruzar os braços e me fitar com um ar irônico. Consigo ignorar.

– Eu... Eu pensei muito e- e- eu decidi sair de casa - suspiro fundo. - Eu passei a minha vida toda debaixo da barra da sua saia, desde que a mamãe morreu... E eu acho... Acho não, tenho certeza que está na hora de eu caminhar com minhas próprias pernas.

– Você ficou louca? – minha irmã levanta e me encara horrorizada. – Usou alguma droga, ou a Mei fez uma lavagem cerebral em você?

Reviro os olhos, bufando.

– Pelo amor de Deus, Rosa! Não começa!

– Você é só uma menina, Maria. Não pode sair de casa. Eu sou sua irmã. Preciso te proteger de coisas, de pessoas como a Mei... Ela é uma má influência para você.

Rio de nervoso.

– Você está definitivamente, louca! – perco a paciência, que na verdade nunca tive, e sigo para meu quarto. Ela vem logo atrás. Desisto de tentar solucionar este atrito de forma civilizada. Minha irmã é mais ignorante do que imaginei. Yan está coberto de razão. – Menina só se for na sua cabeça doente. Não sou mais criança, entende isto de uma vez por todas. Sou eternamente grata por você ter si colocado no papel da mãe e me criado, mas não pode continuar se metendo nas minhas decisões desse jeito.

– Você devia se lembrar o que aconteceu com aquele verme que se dizia ser nosso pai. Eu só quero te proteger...

– Eu não sou sua filha. Proteja a Sol, e não à mim. A mamãe já se foi. Se me ama como diz, me deixa seguir minha vida.

Afobada, arrasto uma mala e jogo algumas roupas dentro dela. Estou cansada de Rosa ficar me relembrando que nossa mãe morreu de depressão depois que o pai a trocou por uma mulher mais jovem e magra, e perdemos o contato, sempre que discutimos. Minha mãe era comedora compulsiva, e sofria com a obesidade mórbida. Até que seu coração não suportou, e ela teve um infarto pesando quase trezentos quilos. Meus coleguinhas de escola diziam que eu iria ficar igual a ela, que nenhum garoto iria me querer, e então decidi fazer um regime severo. Talvez, por isso, eu seja tão exigente comigo mesma.

Almas Dançando ( TRANS/BI/POLI)Onde histórias criam vida. Descubra agora