Capítulo 36

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Rafael

— Minha audição tá ótima, to te escutando normal — falou.

— Vai parar de deboche comigo? — perguntei apertando a barriga dela — Ou vou ser obrigado a te examinar também?

— Tá me chamando de cachorra, Rafael? — perguntou séria pra mim.

— Não, que isso — neguei — Longe de mim

— Tu é lerdo — me empurrou pro chão e levantou do sofá correndo.

— Ah, você não me escapa não — levantei e segurei ela por trás — Vai me ouvir ou tá difícil?

— Você tá cheirando esterco — resmungou — Eu prefiro caras cheirosos, tá precisando de umas aulas com o Pedro.

— Já entendi o seu joguinho — me joguei no sofá com ela — Tá querendo me provocar, né?

— Véi, se tu quebrar o sofá, a minha mãe vai ficar pistola — me encarou.

— Posso até quebrar, mas vai ser de outra forma — sorri malicioso.

— Você não queria falar comigo? — mudou de assunto — Começa — virou e ficou de cara comigo, os dois no sofá pequeno abraçados e eu fedendo merda.

— Queria pedir desculpas, pô — falei — Fiz mó errado um bagulho que era pra ser todo certinho.

— Certinho? — concordei — Rafa, a gente começou a ficar não fez nem duas semanas direito..

— E dai? — interrompi — Não sou nenhum moleque não, nunca fui de fazer essas coisas mas chega num momento que não da, entendeu? — concordou — A real é que você me enfeitiçou e eu to gostando, não gosto de ver outros cara dando ideia em você e já conheço algumas das suas manias. Também não sou bobo pra saber que você tem seus medos e seus traumas, e muito menos quis se envolver comigo por causa de tudo que já escutou eu dizendo — acariciei o rosto dela — Tô jogando limpo porque quem enrola é vendedor da C&A, to sendo sincero contigo e quero que você seja sincera comigo.

Ela ficou em silêncio apenas me olhando, já tava quase pegando toda a minha insignificância e indo embora — Você sabe que a última coisa que eu quero agora é me envolver com alguém e quebrar a cara, né?

— Sei, mas você te..

— Cala a boca, inferno — falou brava — Não vou pagar de emocionada ou te controlar e também não quero que você faça isso comigo. Já ouvi histórias pesadas sobre você e depois que te conheci já sei que não é verdade, mas eu fico com um pé atrás com qualquer pessoa...não quero me apegar e quebrar a cara de novo, entende?

— Entendo.

— Não era pra responder — bateu no meu braço — Continuando, não vou ficar me prendendo não mas na primeira mancada eu to pulando fora.

— Posso falar agora? — concordou — Fechou então, agora vou beijar você e não é pra me derrubar no chão — revirou os olhos e eu selei os nossos lábios, não deu nem tempo de começar um beijo direito porque o parece que o Farofa é bem ciumento. Ele subiu em cima de nós dois e começou a lamber a cara da Ayla. — Pensei que você era meu parceiro, cara.

— Deixa o meu bebê em paz — brigou comigo.

— Ele foi meu antes, sua invejosa — falei e ela me olhou séria — Retiro o que eu disse, mas só uma parte — sorri e puxei ela pra outro beijo.

Nanda

Pensa numa pessoa azarada é multiplica por dois. Oito da noite eu aqui no acostamento da pista porque a merda do meu pneu furou e o meu celular desligou. Se eu to colhendo tudo o que eu plantei vou rever essa plantação, porque não é possível.

Um carro preto parou atrás de mim, já comecei a agradecer e pedir perdão por todos os meus pecados, morrer no acostamento da pista é triste e eu sou sedentária demais pra correr. Um cara desceu do carro, quase cai pra trás de tão lindo que ele era, vou ser assassinada por um boy lindão desses.

— Tá precisando de ajuda aí, moça? — perguntou se aproximando.

— Não, muito obrigada — respondi curta e grossa. Lindo porém não pra essas condições, tente mais tarde em uma balada.

— Tem certeza? — perguntou — Seu pneu furou e se você soubesse arrumar já teria ido embora.

— Tá, eu preciso de ajuda sim — resmunguei e ele sorriu, que sorriso Brasil!

— Tem outro pneu? — concordei e abri o porta malas. Ele pegou as ferramentas que eu nunca nem aprendi a usar e o pneu, agachou e começou a trocar — Não vou te matar não, mina.

— Como eu vou saber? — perguntei cruzando os braços.

— Se eu fosse te matar eu não estaria arrumando o seu pneu agora — deu risada tirando o pneu furado. — Mas eu entendo o medo, to ligado que é mil vezes pior pra mulher do que pro homem ficar no acostamento sem segurança.

— Sensato você — me olhou sorrindo — Você tá sujando toda a sua camisa social.

— Não gostava dela mesmo — falou e eu dei risada — Tá fazendo o que aqui? Voltando pro trabalho? — concordei — Trabalha no que?

— Mais ação e menos pergunta — falei e ele revirou os olhos — Trabalho no centro de crianças surdas e mudas, faço faculdade de fonoaudiologia.

— Legal, pô — respondeu apertando os parafusos — Minha prima tá cursando fono também. Eu já fui quando era pequeno mas fiquei tão traumatizado que não voltei mais.

— Um homem desse tamanho com medo de ir na fonoaudióloga? — dei risada e ele levantou limpando as mãos.

— Eu vou só se você me atender — piscou e eu dei risada — Prontinho morena, pneuzin trocado e novinho — colocou o outro no meu porta malas.

— Não vou precisar te processar ou correr de você — suspirei — Obrigada.

— Pode processar, sou um advogado muito bom — se gabou e eu abri a boca surpresa — De nada, vai na paz.

— Você também — respondi abrindo a porta e ele foi pro carro dele.

— Aliás — falou — Eu sou o Guto.

— Fernanda — acenei e entrei no carro.

Não vejo outra saída [EM REVISÃO]Onde histórias criam vida. Descubra agora