Não vejo outra saída [EM REVISÃO]

Especial 1.5M

Nascimento do Bernardo

— Tá tudo arrumado, peguei a bolsa e a mala, peguei o carrinho — Rafael andou de um lado ao outro — Eu peguei tudo, né amor?

— Rafael..

— O carro tá com gasolina, já instalei o bebê conforto e o pote com jaca tá na geladeira bem cortadinho.

— Rafael..

— Eu peguei tudo? Peguei sim! — passou por mim.

— Rafael — chamei — A Isis.

— Ê caralho, esqueci a cria — subiu as escadas correndo e voltou com ela dormindo no colo — Agora peguei tudo — passou por mim novamente.

— Rafael — gritei — EU!

— Porra amor — estendeu a mão e me apoiei para levantar.

Há quem diz que a segunda gravidez é mais tranquila. E eu concordo. Para mim a minha segunda gravidez foi tão de boa, eu já sabia o que acontecia e o que fazer, já o Rafael não pode dizer o mesmo.

Ele enlouqueceu do mesmo jeito.

Acho que a dose dupla foi tão forte pra ele que o tiro saiu pela culatra, eu até brinco falando que quero ter mais, juro que ele só falta desmaiar de tanto terror, "meu coração não vai aguentar" foram as suas palavras. O mesmo não saiu do meu lado desde que eu entrei no oitavo mês, arrumou tudo e até comprou jaca pra mim, e eu quase taquei na cabeça dele, cheiro ruim da porra.

Já a dona Isis demorou pra aceitar o irmãozinho chegando, sua principal palavra sobre o tópico é "NÃO" e não há quem a faça sorrir quando toca nesse assunto. O Rafael fica preocupado com a rejeição dela, mas eu acho que ela vai superar, ninguém mandou mimar muito e eu falo isso para todos os tios babões.

— Alô? Nanda, avisa geral aí que o Bê tá chegando e eu preciso de alguém pra ficar com a furacão antes que ela pegue mais raiva do bebê que mal nasceu. Suave, tô chegando já — desligou o celular — Relaxa amor, fica calma e respira.

— Eu tô calma, muito calma — o que era verdade, se não fosse as dores eu estaria o próprio buda.

— Então não pira.

Eu não pirar?

Falou o surtado que estacionou no meio de duas vagas.

Assim que ele me ajudou a descer do carro eu tentei pegar alguma bolsa para facilitar, mas o Rafael faltou bater na minha mão. De tanto berreiro que ele fez em menos de vinte minutos eu já estava no quarto esperando o Bernardo nascer, todo mundo já tinha chego e estavam tentando controlar a minha filha que acordou mais brava que eu quando estou com fome.

Aparentemente o que estava bem na verdade não estava tão bem, em um momento eu estava calma e acalmando o meu marido e em outro momento eu estava paralisada, sem reação enquanto o Rafael se desesperava com os médicos, era tanto sangue que saia de mim que eu não pude acalmar as lágrimas de terror que ele derrubava.

Não foi um parto normal, não foi o parto que eu tinha planejado, não foi nada do que eu tinha esperado.

Eu tinha um marido aterrorizado, chorando porque não estavam deixando-o ficar no quarto, eu tinha um marido que surtou mais do que já tinha surtado.

E no final de tudo eu sentia falta do meu pai.

Eu sentia falta dele porque mais uma vez ele não estava segurando as minhas mãos e me acalmando.

Mas eu tive que me acalmar sozinha porque eu sou mãe, não de apenas uma criança agora e sim de duas.

O Bernardo nasceu.

Meu filho nasceu em um parto dificultoso, assustador e nada do que eu tinha planejado, mas ele nasceu um garoto saudável, lindo e o avô cuspido. Meu Bernardo nasceu no dia 12 de dezembro, meu Bernardo nasceu no dia mais especial, ele nasceu no dia do homem que fez jus ao seu nome.

E a Isis o odiou.

Especial atrasado, mas de coração.

Eu vejo todos os comentários novos e sempre estou de olho em vocês.

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