Capítulo 2

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6 meses depois.

Lizzie se remexeu entre os lençóis da cama, acomodando melhor a cabeça no travisseiro para encontrar o sono novamente. Ela estava entre o mundo dos sonhos e a realidade, forçando à si própria à dormir mais alguns minutos. Seu despertador ainda não tinha tocado, e estranhamente acordou bem mais cedo do que de costume.
Já fazia seis meses desde que fora sequestrada, e ninguém tentou repetir isso desde então. Obviamente as duas mudaram de casa, encontraram uma nova forma de sobreviver, e felizmente tudo estava indo bem. Mas Becker ainda não conseguia abaixar a guarda, porque sabia que Oliver não tinha desistido.
Se assustou quando sentiu duas mãos tocarem o seu braço e balaçarem com força, estava tão distraída que nem percebeu a proximidade de Justine.

-Ei! Liz! Acorda! Eu já voltei da escola, e você ainda está aqui?! Não deveria estar trabalhando?! Sabe que horas são?

A francesa abriu os olhos sonolenta, espreguiçando o corpo com os olhos cansados cravados na menina ao seu lado.

-São oito horas ainda. -bufou, olhando o relógio do lado da cama. -Oito? Dez horas você quer dizer, não é?

Arregalou os olhos e sentou na cama surpresa.

-Dez horas?! Tem certeza?

-Claro! Esqueceu que esse relógio quebrou ontem? Eu chutei ele sem querer...

Becker começou a tirar a roupa ali mesmo, se preparando para correr até o banheiro, tomar um banho, e descer o mais rápido possível. As duas moravam numa parte obscura da cidade, um local onde pessoas ricas e de classe média com certeza não se arriscariam à entrar, mas onde felizmente quase ninguém sabia que Lizzie era uma "ex polícial". Seu local de trabalho ficava no final da rua, mas precisava descer uma longa ladeira pra chegar até lá.

-Ainda quero entender como você fez isso! -gritou, ligando o chuveiro de água fria.

-Eu estava treinando...-explica Justine, sem jeito.

-E o meu relógio era o seu inimigo?! Quantas vezes tenho que dizer pra você não treinar dentro de casa?!

-Desculpa...-lamenta.

Lizzie entrou debaixo da água corrente, e imediatamente se arrependeu por ter entrado sem uma preparação prévia para o frio. Um arrepio percorreu a sua pele no mesmo instante, ela fechou os olhos, e deixou que a água levasse todo o cansaço de uma noite mal dormida, somado as impurezas da pele.
Quinze minutos depois a morena já estava descendo as escadas do prédio decadente, balançando os cabelos molhados conforme avançava pelas ruas. Os moradores já tinham se acostumado com ela, alguns inclusive eram seus amigos, porque passaram à respeita-la desde o dia que um homem tentou encostar demais e acabou inconsciente no chão.
Ali era o tipo de lugar movido à hierarquia e poder. Havia um grupo de criminosos que comandavam a região, o tráfico, e a vida dos moradores. O segredo era não desafiar essa ordem e se manter à margem dos acontecimentos. Lizzie já tinha visto o "chefão" de perto, quando soube que uma mulher tinha batido em um dos seus rapazes ele mesmo a procurou. Não fez nada à mais do que tentar corteja-la, e pedir que a francesa ficasse longe dos seus homens, mas ela sabia que desde aquele dia olhos foram postos em cima de si, e que o tão famoso "Cruzado" estava procurando uma maneira de extorquir a nova moradora da região, assim como fez com as outras mulheres.
Becker passou pelo beco estreito ao lado do cabaré da sua amiga, e adentrou pelas portas do fundo com passinhos de algodão, procurando se entrosar entre as mulheres que circulavam para assumir o seu lugar sem ninguém perceber. Ficou atrás do balcão de bebida, pegou as garrafas de álcool e agradeceu Charlotte, a mulher que estava cubrindo a falta dela.

-Rosa já passou por aqui?-indaga.

-Ela disse que te daria um tiro se você não aparecesse em meia hora. -riu.

Agent Becker 2Onde histórias criam vida. Descubra agora