Capítulo 36

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-Sabe qual é a pior parte de fingir ser outra pessoa? -sussurra Carnegie.

     Lizzie lançou um olhar irritado na direção dela, pedindo por silêncio.

-Quer matar nós duas?!

-Ninguém está ouvindo.- a soviética revirou os olhos. -Estamos sozinhas nessa sala à quase meia hora. E no máximo descobrimos o quanto é irritante estar no escuro.

-Irritante estar no escuro com você. -corrige Lizzie. -Será que dá pra levantar e vir ajudar?!

-Como sabe que estou sentada?

-Escutando. Você parou de fazer ruidos com os pés à dez minutos e está à minha esquerda.

     A outra riu.

-Tem mais algum truque oculto que ainda não saiba?

     Julie bufou impaciente, cansada de ouvir as piadinhas e as falas sem sentindo da criminosa. As duas tinham sido sequestradas, provavelmente da mesma forma que Justine e Leopoldo foram, e desde então Rostova não parou de tagarelar. Becker não tinha exatamente um plano formado, e mentiu quando Michael perguntou se ela sabia como sair dali. Tudo porque já tinha sido dificil demais deixar o ego de lado e pedir dinheiro ao general, o que menos precisava agora era que o líder da equipe voltasse à ficar contra a idéia.
  
-Essa porta não abre por dentro. -diz Carnegie, ouvindo a outra mexer na maçaneta pela quinta vez. -Se quer sair daqui, alguém vai precisar ouvir.

-Acha que alguém consegue nos ouvir? -indaga, encostando o ouvido na porta. -A porta não parece muito grossa...-passou os dedos na parede descascada. -A parede é velha...

-Se estivessem ouvindo, nós já teriamos sido descobertas. -responde.

-Sim...-se afastou. -Mas porque estamos falando num tom normal...-sorriu de lado.

-Você ficou em silêncio...-aponta Carnegie. -Tem um plano?

-Ninguém vende uma mercadoria com defeito...

-Depende do vendedor. Para de mistério e vai direto ao ponto.

-Consegue vir até mim?

     Rostova franziu a testa e se apoiou na parede pra se levantar. Calculou mentalmente a posição que a francesa poderia estar e iniciou as passadas curtas e cuidadosas.
    Por outro lado, mesmo estando no escuro a agente fechou os olhos e se concentrou, não houve dificuldade de sentir a presença dela e só precisou fechar o punho e esperar o momento certo. Rostova perdeu o ar quando sentiu um soco potente atingir a sua bochecha esquerda e cambaleou para atrás surpresa.

-Mais que porcaria! -esbraveja, socando os ar em busca de Elisabeth. -Francesinha barata! Perdeu o juízo?!

-É parte do plano. -avisa Lizzie. -Se houver briga, eles vão precisar abrir a sala para intervir. Ninguém compraria um "produto" com "defeito", lembra? O que significa que o nosso corpo precisa estar em bom estado.

-Não é mais fácil só gritar?!

-Ah...sim...claro...-coçou a nuca. -É acho que isso também funciona. Mas precisa ser uma boa encenação. Acha que consegue?

-Essa pergunta me ofende!

    Carnegie finalmente conseguiu encontrar o corpo de Elisabeth em meio à falta de luz, segurou o tescido da blusa dela e empurrou o tronco contra a porta de forma abrupta. Becker soltou um gemido baixo de dor.

-Minhas costas...-sussurra. -Isso não faz parte do plano!

-Precisamos fazer barulho. -murmura, inocente. -Fingir uma luta faz parte.

Agent Becker 2Onde histórias criam vida. Descubra agora