Capítulo 16

703 101 81
                                    

     Justine contou as moedas do troco que tinha recebido do motorista nas mãos, enquanto caminhava com o rosto concentrado até os portões da escola. Dessa vez ela teve de vir sozinha de táxi, porque Elisabeth tinha saído bem cedo pra trabalhar, alegando que quanto mais cedo resolvesse os seus problemas, mais tempo ela teria para ensinar artes marciais à menina.
    Por outro lado, a Becker junior estava até feliz pela confiança da outra em deixa-la ir sozinha ao colégio. Normalmente Julie era muito sobreprotetora e fazia questão de levar Justine, mesmo que fosse deixa-la à algumas quadras de distância e nunca se aproximasse realmente do lugar.
      Ergueu a cabeça quando chegou aos portões e cumprimentou o soldado na porta com uma continência, como todos os alunos faziam ao entrar. Logo, a sua vista voltou à ser o seu pior pesadelo: alunos correndo de um lado ao outro, grupinhos elite, o típico medo de qualquer novato. Ela tinha dado à entender para Becker que tinha amigos, mas a verdade era totalmente o oposto. Já estavam quase na metade do ano e Justine ainda não tinha encontrado alguém legal para iniciar uma amizade. Teve contato com algumas pessoas, no entanto nenhuma delas pareceu realmente gostar da garota. Tinha passado anos da sua vida sozinha, basicamente desde que nasceu, e Elisabeth foi a única pessoa que conseguiu derrubar as suas barreiras sem um pingo de esforço.
      Segurou a alça da mochila e avançou pelos corredores da escola, satisfeita por ter chegado ao ponto de ser totalmente ignorada pelos alunos. No começo do ano, ela era a chacota, ou a dona da atenção de muitos por andar sozinha, mas agora todos pareciam acostumados com esse fato e Justine não era mais uma novidade.
    O som de um sino anunciou o inicio das aulas em alguns minutos, e ela apressou os passos para chegar à sala de aula. Sim,  aquele era o único local onde conseguia chamar a atenção, porque a sala era cheia de grupinhos de meninas. Entrou, sentou e retirou os cadernos da mochila.

-Todos de pé! -o diretor adentrou a sala sem aviso prévio e assustou as meninas.

    Elas se levantaram e arrumaram as saias com as mãos num sinal de nervosismo, porque o diretor só aparecia quando alguém tinha aprontado. Justine foi a última a reagir, e se colocar ao lado da mesa com as mãos rente ao corpo.

-Quero que conheçam o general Clarke, primeiro general do exército dos Estados Unidos. Muitos de vocês devem ter ouvido falar dele.

       Justine quase caiu para atrás quando viu a figura de cabelos grisalhos citada entrar na sala. Se existia uma pessoa que poderia facilmente ligar ela à Elisabeth na frente de todo mundo era ele. Engoliu em seco, e repetiu a continência que as outras fizeram. Era estranho fazer isso para o homem que costumava debochar diariamente sobre o quantos aqueles cabelos ficavam mais grisalhos à cada dia.
   Clarke passou os olhos pelas alunas, reconheceu a Becker menor, mas se concentrou no que tinha vindo fazer:

-Podem sentar. -comanda.

     As garotas obedeceram.

-Imagino que vocês já tenham ouvido falar da ONU...-ele apoiou o corpo na mesa do professor.

   As garotas já atinham aprendido sobre essa organização com os professores, então uma delas fez questão de levantar a mão e responder:

-Sim! Estudamos com o nosso professor! Foi criada no ano passado, no dia 24 de outubro. E promove a cooperação mundial!

-Isso mesmo...-murmura Clarke. -Sim, e se estudaram isso, provavelmente já devem ter ouvido falar sobre a Carta das Nações Unidas. É o tratado fundamental da ONU, e promove o compromisso de defender os direitos humanos. Entre outras coisas, isso inclui a garantia dos direitos e liberdades! independente de raça, idioma, religião, condição econômica ou sexo. -Ele cruzou os braços. -É por isso que estou aqui hoje...quem aqui já ouviu falar de Elisabeth Becker? A mulher que está nos jornais?

Agent Becker 2Onde histórias criam vida. Descubra agora