capítulo 44

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- É - ela se desfez do abraço e me olhou - já faz um tempo que eu mandei meu currículo em uma clínica por lá. Sempre gostei de visitar a cidade com meus pais quando eu era pequena. Hoje eu recebi uma carta, dizendo que eu já posso ir pra lá resolver toda a papelada do consultório. Não é o máximo? - ela sorriu ainda mais.

Fiquei em silêncio por alguns segundos, apenas olhando em seus olhos.

- É, é o máximo - chacoalhei a cabeça para me despertar do transe.

- Eu sei - ela pulou em meu colo novamente e me abraçou.

Por mais que eu quisesse ela ao meu lado, a sua felicidade sempre seria a minha.

- E nós vamos sair para comemorar - ela afirmou, contente, saindo dos meu braços e indo para cozinha pegar uma garrafa de água para beber na geladeira.

- Onde? - perguntei, tentando não deixar minha tristeza transparecer.

- "Onde?" - repetiu minha pergunta, imitando a minha voz - Philippe, a gente mora no Rio de Janeiro e sabe em que mês estamos? - voltou a falar com a voz normal.

- Fevereiro? - perguntei, já sabendo no que ela estava pensando.

- Exatamente - ela largou a garrafa sobre a pia e voltou-se para mim - o carnaval do Rio é a coisa mais linda do mundo.

- Então, nós vamos pular carnaval essa noite - afirmei, a puxando para um abraço.

- Não tem jeito melhor de comemorar - ela envolveu seus braços em volta do meu pescoço, iniciando um beijo lento.

- Hum, tem razão - deixei meus pensamentos ruins de lado e a peguei no colo, subindo as escadas em direção ao seu quarto.

Algumas horas depois...

- Tô pronta - Ainê apareceu na porta do meu quarto enquanto eu ainda estava me vestindo, vestida com uma roupa toda colorida. Seu rosto também estava lotado de glitter.

- A gente vai pro mesmo lugar? - ri. Terminei de vestir minha camisa preta e uma bermuda branca. Por sinal, bem diferente da roupa dela.

- Nem vem - ela também riu - você que tá muito simples.

- E que roupa eu iria? - ri.

- Você poderia ir...

- Eu já tô vestido - a interrompi antes que ela terminasse de falar.

- Tá certo - ela se aproximou de mim e me deu um selinho - vamos logo. Uma hora dessas, a praia já deve estar lotada.

- Olha, eu nunca achei que você ficaria pronta antes de mim - falei e ela riu, saindo do quarto.

- Quero você pronto em três minutos, Coutinho - ela gritou do corredor e eu consegui ouvir o barulho de seus passos se distanciarem.

Depois de calçar um tênis preto, escovei os dentes e dei uma leve penteada no meu cabelo. Apaguei a luz do meu quarto e desci as escadas, onde Ainê já me esperava na porta.

- Vamos, vamos - ela veio até mim e puxou minha mão.

- Calma, apressadinha - ri, pegando as chaves do carro e trancando a porta de casa.

Não demoramos muito para chegar na praia em que havíamos combinado com nossos amigos. Ao contrário do que nós pensamos, a praia não estava muito cheia. Estacionei o carro em uma rua um tanto afastada dos quiosques. Eu e Ainê descemos do veículo e fomos de mãos dadas até a barraca em que combinei de encontrar com o Alisson.

- Eae, irmão - cumprimei Alisson e depois dei um abraço em Natália, que estava deitada em uma espreguiçadeira.

- Fala, Couto - ele também me abraçou - como andam as coisas?

- Gente, nós vamos ali na beira do mar - a mulher de Alisson nos avisou - quando a Lari chegar falem pra ela nos procurar.

- Beleza - nós dois falamos juntos.

Esperei que as duas se afastassem para falar com ele.

- Péssimas - suspirei, me sentando na areia.

- O que houve? - ele perguntou, se sentando ao meu lado.

Fui interrompido logo que comecei a contar:

- Cheguei - Firmino veio por trás de mim e deu um tapa na minha cabeça.

- Filho da puta - o xinguei.

- Oi, meninos - Larissa cumprimentou eu e Alisson.

- Oi, Lari - sorri - a Ainê e a Nat estão ali na beira do mar. Elas pediram pra você ir pra lá assim que chegasse.

- Vou lá com elas - ela colocou sua bolsa na espreguiçadeira - obrigada por avisar.

Dei um sorriso simpático e ela se afastou. Contei pros meninos que Ainê iria mudar de cidade e tudo o que estava acontecendo. Eles apenas me aconselharam a esquecê-la. Como eu queria poder fazer isso!

Fiquei conversando com os meninos por mais alguns minutos até elas voltarem. Pedimos umas cervejas e algumas porções em um bar próximo de onde estávamos sentados. Por conta da gravidez, Natália foi a única que pediu um suco de laranja.

- O Gabriel não vem? - Larissa perguntou.

- A gente preferiu não chamar - Ainê respondeu por todos.

- Por que? - ela perguntou, com uma expressão confusa.

- Eles se separaram - Firmino informou a ela - acabei esquecendo de te contar.

Olhei para Ainê e, pelo seu olhar, deu pra entender que ninguém além de nós dois sabia sobre a gravidez.

- Eles formavam um casal tão lindo, né? - Natália disse.

- Eu também acho - Larissa concordou.

- Bom, vamos mudar de assunto - Ainê disse e bebeu um gole da cerveja logo em seguida - vocês vão ficar aqui sentados?

- E tem coisa melhor? - Firmino deitou na areia e apontou para o mar.

- Tem - minha amiga disse, fazendo o resto do pessoal rir - eu vou dar uma volta. Vamos, Philippe? - ela me olhou.

- Opa - me levantei e nós dois começamos a andar pela praia.

Peguei sua mão e nós corremos até uma área que estava cheia de gente. Nos misturamos na multidão e, depois de pedir duas caipirinhas para tomarmos em um quiosque, ficamos juntos no meio do pessoal, dançando.

- Aqui tá bom, né? - tive que gritar pra ela ouvir.

- Tá ótimo - ela colocou uma das mãos em minha nuca e se aproximou de mim. Enlacei meus braços em volta de sua cintura, iniciando um beijo.

Nossas línguas se tocavam com suavidade. O beijo tinha um gosto muito bom de caipirinha misturado com cerveja. Ela partiu o beijo por falta de ar e me encheu de selinhos.

- Agora vem, vamos dançar - ela sorriu e pegou minha mão, me puxando para o meio da rua.

A avenida estava completamente parada. Os carros faziam o contorno em outra rua, dando espaço pros amantes de carnaval curtirem a praia. Havia gente se pegando em todos os lados - seja nos carros estacionados, nos bares ou até mesmo no meio da rua.

Olhei de relance para a calçada de um prédio e pisquei os olhos para ter certeza que era isso mesmo que eu estava vendo. Ou melhor, se era ele mesmo que eu estava vendo.

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