capítulo 51

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Um mês depois...

Ainê narrando:

Surpreendentemente, naquela manhã acordei antes do alarme. Levantei da cama sentindo-me ainda cansada e calcei minhas pantufas, indo em direção as janelas para abri-las. Pequenos pingos de chuvas caíram sobre mim quando as abri, mas não me importei. Fechei os olhos e suspirei, deixando a brisa doce da manhã junto com o delicioso cheiro de terra molhada entrar em contato com meu rosto, enquanto milhares de pensamentos invadiam minha mente.

Fechei novamente as janelas e parei meu olhar sobre o criado-mudo, onde estava o porta-retrato com uma foto minha e de Philippe. Quando me dei conta, eu já estava sentada na beira da cama, segurando o porta-retrato em minhas mãos e pensando novamente em todos os momentos que nós passamos juntos.

Infelizmente, hoje o que resta é a saudade desse tempo.

Eu e Philippe ainda nos falávamos, claro. A melhor parte do meu dia passou a ser quando chegava em casa depois de um dia cansativo de trabalho e pegava meu notebook para ligar para ele. Ele também dizia que era de longe a parte preferida do seu dia.

Senti meu celular vibrar em cima da cama, indicando que eu já deveria me arrumar para mais um dia de trabalho. Coloquei a foto delicadamente sobre o criado mudo e fui em direção a cozinha para preparar meu café e minhas torradas.

Comi em silêncio no sofá do meu pequeno apartamento em Angra - que continha apenas dois quartos, uma sala de tv e a cozinha - enquanto assistia o noticiário. Peguei meu celular e sorri ao ver uma nova mensagem de Philippe me desejando "bom dia". O meu desejo agora é que esse "bom dia" não fosse por mensagem...

Terminei meu café e deixei a louça na pia, sem me preocupar em lavá-la agora. Entrei no banho e deixei a água quente se chocar contra meu corpo, pensando em Philippe, como sempre. Às vezes me irritava o fato de eu não conseguir tirá-lo da minha cabeça nem se quer por um segundo.

Sai do banho com os cabelos molhados e os sequei com o secador rapidamente, fazendo escova para ele não embaraçar tanto. Vesti uma calça jeans e uma blusa preta qualquer, calçando um tênis preto simples.

Olhei o relógio e vi que eu estava atrasada. Coloquei alguns poucos acessórios e passei perfume antes de pegar minha bolsa e sair correndo de casa.

Me dirigi a garagem do prédio e entrei em meu carro, jogando minha bolsa no banco do passageiro. Virei a chave para o carro ligar e nada. Tentei de novo, mas não obtive sucesso novamente.

- Droga - bati no volante.

Ao ver que não adiantaria ficar batendo no volante, chamei um Uber e fiquei esperando em um lugar coberto na calçada do prédio até ele chegar.

Acabei por chegar no consultório exatamente treze minutos atrasada. Parei na recepção e Aline, minha secretária, veio ao meu encontro:

- Senhorita Ainê, você está bem? - me analisou.

- Estou, Aline - respirei com mais calma - e não me chame de "senhorita", por favor. Me sinto estranha - fiz uma careta e ela riu.

- Tudo bem, sen... Ainê - a secretária poucos anos mais velha que eu se corrigiu.

- O paciente das 9 horas já chegou? - perguntei.

- Chegou há uns minutinhos - me informou.

- Mande ele entrar daqui a cinco minutos - ela apenas assentiu com a cabeça e eu fui até minha sala.

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