capítulo 41

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- V-você o que? - gaguejei sem querer - eu achei que você tivesse brincando aquele dia.

Ele me olhava de um modo bem intenso, parecendo que ele conseguia enxergar minha alma.

- Você sabe que toda brincadeira tem um fundo de verdade - disse ele.

- Eu... - comecei a dizer, antes de ele me interromper.

- Eu sei que você tem um trabalho aqui, mas eu preciso de você - ele disse.

Os dedos de Philippe foram enterrados em meu cabelo, puxando minha cabeça inclinada para trás. Ele me deu um beijo suave na boca, um lento deslizamento de seus lábios firmes contra os meus.

Lutei contra mim mesma pra conseguir sair do aconchego dos seus braços, o que fez que ele me olhasse com um olhar confuso.

- Acho melhor nós irmos para casa - recuei.

- Foi alguma coisa que eu falei? - perguntou.

Sim, eu tive vontade de dizer, você acabou de me convidar pra morar com você em outro país.

- Eu só tô um pouco cansada - inventei uma desculpa qualquer.

- Eu entendo - sua expressão triste fez com que meu coração se partisse em mil pedaços.

Após vestir minha bota, me levantei e vi que ele não estava mais ali. Andei no meio de algumas mesas, mas ele também não estava lá. Por fim, acabei o avistando no meio de um aglomerado de pessoas, que estavam tirando fotos com ele.

Me aproximei devagar, esperando as pessoas saírem. Depois que elas se afastaram, me aproximei de Philippe.

- Tudo certo ai? - perguntei, rindo por ele estar com o cabelo todo bagunçado.

Ele me olhou com um sorriso meio sem graça no rosto, coçando a nuca.

- Tudo, tudo não.

Entendi o que ele quis dizer, então, nem insisti.

Nós fomos andando até o carro e, dessa vez, não estávamos de mãos dadas.

- Eu vou dirigindo - avisei quando percebi que ele ia entrando no banco do motorista.

- Beleza - jogou a chave em minha direção. Consegui pegá-la ainda no ar.

Durante o caminho até o condomínio, percebi que ele me olhava, mas, quando eu olhava para o lado, ele simplesmente disfarçava.

Ao adentrar a nossa casa, fui direto para a cozinha. Ouvi o molho de chaves ser virado, indicando que ele havia fechado a porta. Enchi um copo de água e o tomei de uma vez.

Olhei para o lado e vi que Philippe me olhava. Perguntei se ele queria um copo também, mas o mesmo negou.

Subi as escadas, indo direto para o meu quarto. Tirei toda a minha roupa no banheiro e fiz um coque alto, para que meu cabelo não molhasse. Liguei o chuveiro e deixei a água morna cair em meu corpo por uns cinco minutos. Me enrolei na toalha, tirei a maquiagem e escovei os dentes. Fechei a porta do quarto para eu poder me trocar. Vesti um pijama sem mangas, com um tecido bem fino e confortável.

Ao abrir a porta, me deparo com Philippe bem na frente dela.

- Que susto - coloquei a mão no peito, percebendo que minha frequência cardíaca estava bem elevada.

Ele analisou meu corpo dos pés a cabeça, sem falar alguma palavra. Ao perceber que eu estava o encarando, se despertou do transe.

- Não foi minha intenção te assustar - ele disse.

- Tudo bem.

Ao invés de falar algo, ele apenas me deu um abraço bem apertado. Ele se curvou um pouco para apoiar a cabeça em meu ombro. Fiquei passando a mão de leve nos fios de seu cabelo.

- Deixa eu ver uma coisa - recuei, colocando as costas da minha mão em sua testa, depois nas bochechas.

- O que foi? - questionou.

- Parece que você tá com febre - observei - vou pegar o termômetro aqui no quarto.

Antes mesmo de ele falar algo, já peguei o termômetro na caixinha de remédio no meu guarda-roupa. Ele se sentou na cama. Depois de medir sua temperatura, conclui:

- 38 graus - me sentei ao seu lado - deve ser só uma gripe. Quer ir ao médico para prevenir?

- De jeito nenhum - negou - só quero cair na cama e dormir - se jogou para trás, caindo no colchão macio - com você - completou, me agarrando, fazendo com que eu deitasse ao seu lado.

Sorri com suas últimas palavras.

- O mínimo que você pode fazer é tomar um banho pra ver se passa - falei.

Ele se virou para me olhar, passando a mão de leve em minha bochecha e fechando os olhos.

- Pode parar de me enrolar - me levantei, o puxando pela mão - eu vou ligar o chuveiro e já volto.

- Vai? - me olhou, com um sorriso malicioso.

- Sem brincadeira, Coutinho - o repreendi.

- Tá, tá - começou a tirar a camisa.

Me virei e fui até o banheiro, ligando o chuveiro. Voltei para o quarto e ele estava só de cueca.

- Pode entrar de baixo do chuveiro - apontei para o box - só vou pegar sua toalha no seu quarto e já volto - avisei, passando pela porta e indo até seu quarto.

Quando voltei para o meu quarto, ele ainda não havia entrado de baixo da água.

- Entra logo, Philippe. Você só tá desperdiçando água.

Puxei ele para dentro do box.

- A água tá muito gelada, porra - os pelos de seu corpo arrepiaram.

- Deixa de drama.

O ajudei a tomar um banho e, depois que ele terminou de se vestir, desci até a cozinha e fiz um chá para ele tomar antes de dormir.

Subi as escadas e fui até minha cama, onde ele estava deitado.

- Aqui está - entreguei a xícara mas mãos dele, com cuidado para o líquido fervente não cair sobre ele.

- Obrigado - agradeceu, dando um gole no chá de gengibre e fazendo uma careta.

Ri de sua reação.

- Toma tudo pra você ficar melhor - dei um beijo em sua bochecha.

- Tenho outra opção? - brincou.

- Não - sorri.

Depois que ele terminou o chá, levei a xícara até a cozinha, aproveitando para tomar um copo de água novamente. Quando retornei ao quarto, Philippe já estava dormindo, na mesma posição que ele estava. Me peguei sorrindo feito boba com a cena.

Ah, como eu queria que as coisas fossem mais fáceis para eu conseguir ir morar com ele em Munique.

Apaguei as luzes do quarto e me deitei ao seu lado, abraçando sua cintura e tentando pegar no sono.

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