Era ele. Bruno estava sentado na mesa da praça de alimentação. Seu olhar ameaçador pairava sobre mim e Philippe. Meu corpo todo gelou e minha respiração ficou mais pesada.
- Obrigado - Philippe agradeceu a moça e pegou as casquinhas, uma em cada mão - Aqui a sua - ergueu a mão para entregar a minha.
Suas palavras ecoavam na minha cabeça, mas sentia meu corpo pesar, como se eu não conseguisse me mexer.
- Ainê? - Philippe me chamou. Pelo visto, não fora nem a primeira ou a segunda vez que chamava - Tudo certo?
- Sim - confirmei, pegando a casquinha e forçando um sorriso.
- Você quer sentar em alguma mes...?
- Não - interrompi antes que ele terminasse a frase - Vamos embora.
Ele não manifestou, apenas me acompanhou enquanto eu saía da praça com passos largos. Quando estávamos quase na saída do shopping, ele colocou a mão em meu braço, forçando-me a virar para ele.
- Ei, o que aconteceu? - perguntou, visivelmente preocupado.
- Ele estava lá - contei - Na praça.
Philippe ficou imóvel por um segundo, mas logo se virou e ameaçou voltar à praça. Dessa vez, o puxei pelo braço.
- Isso só vai piorar as coisas - fui sincera.
Ele olhou para mim e assentiu, voltando a posição em que estava.
- O que você quer fazer? - perguntou.
- Sabe, eu odeio me sentir assim - ignorei sua pergunta - Como uma garotinha indefesa que precisa de ajuda a todo momento.
- Eu não quis que você se sentisse assim...
- Não! A culpa não é nada sua - olhei em seus olhos - É só que... - fiz uma pausa - Eu era tão feliz antes de o conhecer. Sinto falta de mim, do meu sorriso. Agora eu mal posso vê-lo que me sinto mal.
Ele me puxou para um abraço. Fechei os olhos. Estava cansada de chorar e prometi que não faria mais isso.
- Eu sinto muito que você tenha que se sentir assim - falou, ainda com os braços ai redor do meu.
- Tudo bem - me afastei e tentei sorrir - Um dia passa.
"Um dia passa"
Era a frase que eu sempre repetia para mim mesma. Todos os dias, pela manhã, na frente do espelho.
E um dia eu espero que passe.
___
Quando fui deixar Philippe em sua casa, ele insistiu para que eu dormisse lá, já que o trânsito estava horrível por toda a cidade. Iria dizer que era melhor eu ir para a casa, mas não estava com cabeça para enfrentar a demora.
Os pais de Philippe já estavam dormindo. Subimos em silêncio até o quarto para não acordá-los.
- Preciso trocar essa roupa - falei a Philippe assim que chegamos em seu quarto.
- Eu te empresto uma roupa minha - foi em direção ao seu closet.
Philippe pegou uma blusa fina branca e uma calça moletom azul marinho. Agradeci e fui até o banheiro me trocar. A blusa branca era um pouco transparente e, consequentemente, marcava bastante os meus peitos. Por isso, coloquei o a blusa que eu já estava vestindo para disfarçar.
Voltei para o quarto, onde Philippe me esperava sentado:
- Quer que eu guarde seu carro na garagem? - ofereceu.
- Se não for incomodar, pode ser - joguei a chave do veículo em sua mão.
- Já volto. Pega o cobertor ali naquele armário - apontou para uma porta do guarda e saiu porta a fora.
Peguei o cobertor e me joguei sobre a cama, completamente exausta. Estava quase dormindo quando Philippe voltou.
- Nossa, você demorou! - exclamei.
- Tive que esperar o motor aquecer por causa do frio - disse ele, se jogando ao meu lado na cama.
- O que você quer fazer? - perguntei.
- Sinceramente? Dormir - ele me olhou e eu ri - mas tenho que tomar banho.
Passei a mão pelos seus cabelos.
- Vai lá que eu te espero - falei.
- Certeza que você vai estar dormindo quando eu chegar - ele me olhou com um sorriso nos lábios.
- Ah é? - sorri também - veremos.
O empurrei para fora da cama e ele, rindo, disse que iria entrar logo no chuveiro.
Minutos depois de ele ter entrado no banho, ouvi o chuveiro ser desligado. Virei de lado e fechei os olhos. Ele saiu do banheiro segundos depois, somente com a toalha pendurada na cintura e com os cabelos molhados e bagunçados. Abri um pouco os olhos e observei rindo enquanto me olhava. Tive vontade de rir junto, mas me contive.
Philippe foi em direção ao armário e voltou de lá já vestido. Ele se aproximou de mim, deitando ao meu lado na cama e me deu um beijo na testa. Pensei que ele iria me desejar "boa noite", mas a única coisa que ele disse foi:
- Eu sabia que você iria dormir.
Nessa hora eu não aguentei e comecei a rir.
- Espera, você tá acordada? - ele riu também.
- Porra, Philippe, eu achei que você iria me dizer boa noite - ri mais ainda e ele se juntou a mim.
Ficamos rindo durante uns 2 minutos. O porquê disso? Nem eu sei explicar.
- O que deu em você? - perguntei após recuperarmos o fôlego.
- O que deu em você? - ele devolveu a pergunta, sorrindo.
Puxei o cobertor, o jogando por cima de nós dois. Philippe me puxou contra si e eu me aconcheguei em seu peito.
- Philippe - o chamei segundos depois.
- Oi? - me olhou.
- Eu estou com sede.
- E eu aqui achando que você já estivesse dormindo!
- Vem pegar comigo, por favor - pedi - nem a pau eu desço sozinha no escuro.
- É só acender a luz.
- Sua perna não vai cair se você for comigo até lá - levantei, o puxando comigo.
- Ok, ok - levantou as mãos, brincando.
Descemos as escadas e caminhamos até a cozinha. Tudo estava completamente escuro. Me assustei quando meu amigo acendeu a luz de repente.
- Vou encher um copo pra você e nós subimos - disse em meio a um bocejo, indo até a geladeira.
- Desculpa ter te tirado da cama - me aproximei dele.
- Imagina - deu um sorriso fraco e despejou a água no copo, me entregando o mesmo - aqui está.
- Obrigada - peguei o copo e o levei até a boca. Ao terminar de beber minha água, apaguei a luz e nós fomos juntos em direção as escadas, até que senti algo com pelos passar por cima dos meus pés - CACETE - pulei no colo de Philippe.

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two hearts
FanfictionAinê já sofreu muito no passado por amor. Após sair de um relacionamento conturbado, encontra Philippe por acaso. Os dois viram melhores amigos, mas um sentimento forte de ambas as partes fala mais alto. "sou seu confidente não vai ser pecado seu...