capítulo 18

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Era ele. Bruno estava sentado na mesa da praça de alimentação. Seu olhar ameaçador pairava sobre mim e Philippe. Meu corpo todo gelou e minha respiração ficou mais pesada.

- Obrigado - Philippe agradeceu a moça e pegou as casquinhas, uma em cada mão - Aqui a sua - ergueu a mão para entregar a minha.

Suas palavras ecoavam na minha cabeça, mas sentia meu corpo pesar, como se eu não conseguisse me mexer.

- Ainê? - Philippe me chamou. Pelo visto, não fora nem a primeira ou a segunda vez que chamava - Tudo certo?

- Sim - confirmei, pegando a casquinha e forçando um sorriso.

- Você quer sentar em alguma mes...?

- Não - interrompi antes que ele terminasse a frase - Vamos embora.

Ele não manifestou, apenas me acompanhou enquanto eu saía da praça com passos largos. Quando estávamos quase na saída do shopping, ele colocou a mão em meu braço, forçando-me a virar para ele.

- Ei, o que aconteceu? - perguntou, visivelmente preocupado.

- Ele estava lá - contei - Na praça.

Philippe ficou imóvel por um segundo, mas logo se virou e ameaçou voltar à praça. Dessa vez, o puxei pelo braço.

- Isso só vai piorar as coisas - fui sincera.

Ele olhou para mim e assentiu, voltando a posição em que estava.

- O que você quer fazer? - perguntou.

- Sabe, eu odeio me sentir assim - ignorei sua pergunta - Como uma garotinha indefesa que precisa de ajuda a todo momento.

- Eu não quis que você se sentisse assim...

- Não! A culpa não é nada sua - olhei em seus olhos - É só que... - fiz uma pausa - Eu era tão feliz antes de o conhecer. Sinto falta de mim, do meu sorriso. Agora eu mal posso vê-lo que me sinto mal.

Ele me puxou para um abraço. Fechei os olhos. Estava cansada de chorar e prometi que não faria mais isso.

- Eu sinto muito que você tenha que se sentir assim - falou, ainda com os braços ai redor do meu.

- Tudo bem - me afastei e tentei sorrir - Um dia passa.

"Um dia passa"

Era a frase que eu sempre repetia para mim mesma. Todos os dias, pela manhã, na frente do espelho.

E um dia eu espero que passe.

___

Quando fui deixar Philippe em sua casa, ele insistiu para que eu dormisse lá, já que o trânsito estava horrível por toda a cidade. Iria dizer que era melhor eu ir para a casa, mas não estava com cabeça para enfrentar a demora. 

Os pais de Philippe já estavam dormindo. Subimos em silêncio até o quarto para não acordá-los.

- Preciso trocar essa roupa - falei a Philippe assim que chegamos em seu quarto.

- Eu te empresto uma roupa minha - foi em direção ao seu closet.

Philippe pegou uma blusa fina branca e uma calça moletom azul marinho. Agradeci e fui até o banheiro me trocar. A blusa branca era um pouco transparente e, consequentemente, marcava bastante os meus peitos. Por isso, coloquei o a blusa que eu já estava vestindo para disfarçar.

Voltei para o quarto, onde Philippe me esperava sentado:

- Quer que eu guarde seu carro na garagem? - ofereceu.

- Se não for incomodar, pode ser - joguei a chave do veículo em sua mão.

- Já volto. Pega o cobertor ali naquele armário - apontou para uma porta do guarda e saiu porta a fora.

Peguei o cobertor e me joguei sobre a cama, completamente exausta. Estava quase dormindo quando Philippe voltou.

- Nossa, você demorou! - exclamei.

- Tive que esperar o motor aquecer por causa do frio - disse ele, se jogando ao meu lado na cama.

- O que você quer fazer? - perguntei.

- Sinceramente? Dormir - ele me olhou e eu ri - mas tenho que tomar banho.

Passei a mão pelos seus cabelos.

- Vai lá que eu te espero - falei.

- Certeza que você vai estar dormindo quando eu chegar - ele me olhou com um sorriso nos lábios.

- Ah é? - sorri também - veremos.

O empurrei para fora da cama e ele, rindo, disse que iria entrar logo no chuveiro.

Minutos depois de ele ter entrado no banho, ouvi o chuveiro ser desligado. Virei de lado e fechei os olhos. Ele saiu do banheiro segundos depois, somente com a toalha pendurada na cintura e com os cabelos molhados e bagunçados. Abri um pouco os olhos e observei rindo enquanto me olhava. Tive vontade de rir junto, mas me contive.

Philippe foi em direção ao armário e voltou de lá já vestido. Ele se aproximou de mim, deitando ao meu lado na cama e me deu um beijo na testa. Pensei que ele iria me desejar "boa noite", mas a única coisa que ele disse foi:

- Eu sabia que você iria dormir.

Nessa hora eu não aguentei e comecei a rir.

- Espera, você tá acordada? - ele riu também.

- Porra, Philippe, eu achei que você iria me dizer boa noite - ri mais ainda e ele se juntou a mim.

Ficamos rindo durante uns 2 minutos. O porquê disso? Nem eu sei explicar.

- O que deu em você? - perguntei após recuperarmos o fôlego.

- O que deu em você? - ele devolveu a pergunta, sorrindo.

Puxei o cobertor, o jogando por cima de nós dois. Philippe me puxou contra si e eu me aconcheguei em seu peito.

- Philippe - o chamei segundos depois.

- Oi? - me olhou.

- Eu estou com sede.

- E eu aqui achando que você já estivesse dormindo!

- Vem pegar comigo, por favor - pedi - nem a pau eu desço sozinha no escuro.

- É só acender a luz.

- Sua perna não vai cair se você for comigo até lá - levantei, o puxando comigo.

- Ok, ok - levantou as mãos, brincando.

Descemos as escadas e caminhamos até a cozinha. Tudo estava completamente escuro. Me assustei quando meu amigo acendeu a luz de repente.

- Vou encher um copo pra você e nós subimos - disse em meio a um bocejo, indo até a geladeira.

- Desculpa ter te tirado da cama - me aproximei dele.

- Imagina - deu um sorriso fraco e despejou a água no copo, me entregando o mesmo - aqui está.

- Obrigada - peguei o copo e o levei até a boca. Ao terminar de beber minha água, apaguei a luz e nós fomos juntos em direção as escadas, até que senti algo com pelos passar por cima dos meus pés - CACETE - pulei no colo de Philippe.

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