capítulo 63

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Logo no início da gravidez, eu e Philippe combinamos que o parto seria cesárea, com dia e hora marcada. Em uma consulta ao médico, marcamos a data pro dia 5 de janeiro, logo depois das festas para nos estabilizarmos melhor. Tínhamos certeza que essa seria a data, inclusive já havíamos bordado em uma pequena toalha essa data. Porém, para nossa surpresa, comecei a sentir fortes dores pela madrugada, vinte dias antes do esperado.

- Maria não pode nascer hoje, Philippe! - falei, andando até o carro. Meu noivo andava com passos apertados enquanto carregava a bolsa e oferecia a mão para eu apertar ao mesmo tempo.

- Por que não? - questionou, sem parar de olhar um segundo para frente.

- Porque eu não tô preparada - falei. O desespero era notável em minha voz - nós já marcamos de fazer cesária pra eu não sentir nenhum tipo de dor. Essas contrações são um inferno!

Ele me ajudou a entrar no banco do motorista e deu a volta no carro, entrando no veículo e colocando a bolsa de maternidade no banco em seguida.

- Melhor do que dez dedos de dilatação pro bebê sair.

- Você acha pouco, é? Vou te dar vários chutes no saco com um intervalo de dois em dois minutos pra você ver.

Ele ligou o carro e me deu um beijo na bochecha.

- Por favor, não faça isso - pediu, me fazendo rir.

O caminho até o hospital não foi tão demorado e as dores não estavam tão fortes como antes. Assim que chegamos, Philippe novamente me ajudou a andar até o interior do hospital e me deixou sentada na sala de espera enquanto preenchia o cadastro.

- Ainê Maria Noel de Sousa? - uma mulher de jaleco apareceu em minha frente.

- Opa - levantei, mas, ao perceber que havia falado em português, tornei a falar em inglês - olá.

- Me acompanhem, por favor - falou para nós. Eu e Philippe a seguimos até seu consultório, onde ela me mandou deitar em uma maca. Fiz o que ela mandou e ela me examinou - fiquem tranquilos, não vai nascer hoje.

- Mas eu senti as contrações - falei.

- É normal sentir a partir dos sete meses, mas não são tão fortes como na hora do parto mesmo - disse ela, retirando as luvas que usou para me examinar e as jogou no lixo - na hora que for, você saberá.

- Obrigada, doutora - agradeci, pensando no quão forte seria a dor.

- Repouso total, hein? Quanto mais tempo você ficar deitada, melhor! - ela disse quando nós já estávamos na porta do consultório.

- Obrigado - Philippe disse, e, em seguida, voltou a andar comigo pelo corredor - seria melhor se já tivesse nascido.

- Ué, por que? - perguntei.

- Você não aguenta ficar um minuto parada, Ainê.

- Que mentira - parei de andar e ele me olhou - tá vendo? Eu consigo ficar parada...

Ele riu, passando o braço em volta de minha cintura e andando novamente comigo até a saída.

- Consegue, minha vida. Agora vamos.

- Agora que nós já estamos acordados mesmo, bem que podíamos parar em algum lugar pra tomar um sorvete, né? - fiz beicinho.

- É, não consegue...

5 dias depois...

- Vamos, vida, você vai ficar sofrendo de dor pra quê?

- Não adianta, Philippe. Até parece que você não conhece essa cabeça dura - Larissa falou.

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