PODCAST UM

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Acabo colocando os fones de ouvido quando a primeira coisa que ouço é a risada de Hanna. Nunca a ouvi gargalhar, isso me deu arrepios.

A voz dela ecoa nos primeiros dez segundos.

Bem vindo ao Diário da Hanna, que eu ia chamar de Disque Han, que parece o nome de um vilão fracassado. Enfim, estou gravando apenas minha voz porque não quero ter que mostrar meu rosto, mas é algo que planejo quem sabe abrir um canal no You Tube ou algo assim. Meu primeiro podcast será para mim mesma, mas para uma eu do futuro. Bem, primeiramente quero dizer que não estou arrependida de muitas coisas. Hanna do futuro, se você sentir que sua vida está terrível com o trabalho de jornalista ou qualquer coisa assim, escute isso, você vai ver que nada é tão pior quanto você de vinte e oito anos. Eu, no caso. Vamos lá, eu... Espero muito que você tenha conseguido uma bela promoção no trabalho e espero que tenha saído da casa dos nossos pais cedo, como em uma novela sabe? Tipo, nós duas sabemos que nosso maior desejo sempre foi jogar uma panela de água quente no colo do nosso pai, xingar Oliver de todas as maneiras possíveis e fazer com que Honie escorregasse e batesse a cabeça na pia do banheiro. Espero que muitas dessas coisas tenham acontecido, pelo menos a água fervente. Se você ainda não fez isso Hanna do futuro, cancele tudo que estiver fazendo e faça. A não ser que eles já estejam mortos, o que eu acho difícil. Atualmente estou pensando em falar coisas que quero muito, meu maior desejo é fazer uma apresentação incrível com meus vídeos que darão muito o que falar na nossa família, sabia que eu desejo secretamente poder fugir? Você deve saber, somos a mesma mulher. Com os mesmo desejos. Ou não, acho que quando escutar isso vou estar com trinta ou quarenta anos, já devo ter feito mais coisas do que penso. Tomara que alguém tenha me pedido em casamento em frente a uma fonte, se é que um dia me casarei, vivi tanto tempo ao redor do meu pai e dos meus irmãos que acho que acabei criando um ódio de homens. Mas eles são idiotas, a maioria dos homens é e não posso dizer que não vou generalizar. Até mesmo Jesus era odiado, porque algum outro homem não seria? Hanna, querida Hanna do futuro, aprenda de uma vez por todas que sua família não quer seu bem, eles apenas querem que você suma, não porque você está crescendo e se tornando independente de suas próprias ideias, é porque eles estão com medo do que possa fazer com sua liberdade cheia de ideias. Arrisque—se, mas não tenha que olhar para trás, ou lembrar—se de mim agora, seria incrível se uma pequena Hanna tivesse gravado isso para mim. Acho que eu não estaria tão ferrada como estou agora. Mas você já sabe disso. Somos a mesma pessoa. Um beijo, de você mesma.

Retiro os fones de ouvido.

Não consigo parar de ouvir sua voz dizendo que somos a mesma pessoa, é perturbador, é sinistro. Não tenho ideia se os cinco áudios gravados são sobre todos dessa família, mas se for, já tenho uma ideia de que Hanna sabia coisas sobre eles, coisas essas que fariam com que eles a matassem?

Não tinha ideia se Hanna já pensou que alguém além da sua família pudesse ouvir seus podcast's. Mas aqui estou eu, ouvindo seus pedidos e relatos para uma ela do futuro que nunca vai existir. Por que ela está morta. E eu estou fingindo ser ela.

Não posso ouvir o próximo agora, sinto—me enérgica demais para ficar aqui só ouvindo sua voz, preciso escrever alguma coisa agora, preciso relatar tudo que estou compreendendo atualmente.

Paulo Albertelli bate na porta do quarto às 16h, quando escrevo 4.000 palavras, minimizo a janela do Word assim que ele entra.

— Como está?

— Bem.

— Honie me contou sobre sua perda de memória.

— E?

— Estou preocupado.

Está mesmo? Queria saber o que Hanna diria para ele agora, um comentário sarcástico ou um sincero olhar de apreciação? Sei quando alguém realmente está preocupado comigo, também tive um pai e ele foi o melhor, mas a sinto que a preocupação desse homem não é por sua filha.

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora