CAPÍTULO VINTE E SEIS

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Sou acordada por algo áspero e quente.

Quando abro minimamente os olhos percebo que Marley está lambendo minha bochecha exposta enquanto Honie dispara a rir. Separo-me do cachorro e quando dou espaço ele se enrosca nos lençóis e fica de barriga para cima, esperando um carinho.

Vou ao banheiro e escovo os dentes, percebi que estou desleixada no quesito de trancar a porta a noite, isso não pode mais se repetir. Volto ao quarto e Honie ainda está lá, percebo que ele está vestindo uma camisa larga de heróis e uma calça fina de treinamento.

—Que horas são?

—Quase dez.

—Porque me acordou?

—Porque nosso pai quer falar com a gente.

—Isso é sério? Quantas vezes ele já fez isso?

—É a primeira vez. Sei lá.

—Estou morrendo de fome e ainda não penteei o cabelo, vou descer em alguns minutos. —Ele assente e leva Marley consigo. Vou para o banheiro.

Tinha demorado a pentear meu cabelo e quando apareço no quarto percebo que Nathan está lá, de pernas cruzadas sentado na cama, sorrindo. Sorrindo muito.

—O que você quer?

—Você não consegue dormir na cama dela, não é?

—Isso não é da sua conta. Saia daqui.

—Amanda...

—Fale baixo seu babaca.

—Olhe, estou tentando ter paciência com você. Mas precisa me obedecer.

—Você quer que eu vá embora para você ficar no bem-bom, não é? Quer a atenção de Oliver em você e não suporta a ideia dele dividi-la comigo.

—Ele acha que você é a irmã dele. —Ele retruca entredentes.

O encaro. Ele desvia primeiro.

—Estou fazendo a coisa certa.

—Para quem?

—Para esta família.

—Eu sou parte da família agora, Amanda. Abra a boca agora e diga que o que seja que está planejando não vai me afetar. Diga. Vamos!

Estava encurralada.

Eu não poderia garantir isso nem que quisesse. É claro que vai afetá-lo, e eu deveria querer que o afetasse por ele ter me abandonado no passado, por ter negligenciado meus sonhos, por ser um irmão de merda.

Mas eu o amo ainda, e parte quer protege-lo do que pode respingar nele. Sinto a culpa começar a se instalar dentro de mim, começa primeiro nos meus pensamentos e depois se alastra para meu coração.

Por mais que me force para lembrar o que Nathan fez, não posso parar de sentir a culpa. Assim como não posso parar de sentir a necessidade de passar por cima de toda a razão e dar voz a minha raiva.

—Eu vou fazer isso, queira você ou não e pode ser que você seja afetado, mas tudo vai depender de como você vai agir e reagir. No final é sempre isso que importa Nathan. Você vai abandonar Oliver caso algo de ruim venha a acontecer?

Nathan põe uma das mãos no colar, ainda de pernas cruzadas ele me olha de cara feia e me esforço para conseguir com que ele me encare. Não ficamos nesse clima por muito tempo —por mais que eu tenha mais perguntas para ele e ele provavelmente tem mais insistência para me dar—, somos interrompidos quando Paulo bate na porta do quarto e nos pede que nós desçamos.

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora