Pisco por causa dos flashes das câmeras.
Estava sonhando com os olhos abertos, flutuando em ideias.
Olho para a entrevistadora de descendência asiática à frente, sentada no meu sofá. Ela está de pernas cruzadas e sinto inveja da cor das unhas delas, são perfeitas.
Presto atenção na voz dela.
—Como você está se sentindo ao saber que seu livro está entre os mais vendidos quase batendo o recorde dos autores best-sellers? O lançamento foi um estouro e causou uma enorme comoção no Twitter, seu nome foi citado por semanas.
Sorrio para ela. Não para a câmera, mas sei que assim que eles entraram, o aparelho está ligado. Estou particularmente interessada no homem que maneia a câmera. Ele é bonito. Lindo, bonito não.
—Fico feliz. Extasiada, de verdade. Não achei que conseguiria... Muito mais que cinquenta compras e comentários maldosos.
A mulher sorri ainda mais. Ela percebe que agora estou realmente prestando atenção.
—Como surgiu a ideia para o título da história? Simplesmente genial.
Olho para o meu livro que está na mesinha de centro de madeira e vidro, decorada com nada mais que um jarro vazio. Lá está o meu livro, a capa mostra duas mulheres de penteados iguais viradas para o escuro, no centro, uma mulher com o indicador nos lábios, a sensação de olhar para a capa é que você deve guardar um segredo. Ou lembrar de um. O titulo está logo abaixo, em letras grandes e negritas.
FILHA DUPLA FACE.
Rio comigo mesma.
Respondo à entrevistadora.
—Foi bem simples, na verdade. Eu estava pensando em alguma coisa naquele momento, estava andando mexendo no celular quando bati o dedinho no centro. Derrubei muitas coisas, entre elas, uma fita. Então pensei, minha mãe me chamaria de filha desastrada. Então, em um momento, o nome só acendeu na minha cabeça. Foi o melhor que tive, e eu amei, de verdade.
A mulher dá uma risada forçada.
Passo mais algum tempo respondendo a perguntas, algumas estranhas e outras feitas por pessoas no Twitter. Penso em "pessoas" porque não sei como me sentir quando digo "fãs", parece surreal de mais para ser verdade.
Não consegui o número do homem da câmera, ele foi o primeiro a sair. Pode ter se assustado com meu olhar em seu rosto o tempo todo. Mas a equipe foi bem gentil e é ótimo ter pessoas enchendo a casa, não porque me sinto o tempo todo solitária, mas é ótimo ouvir não só a minha risada, é ótimo não ter pessoas conhecidas comigo porque aí terei que fazê-las me conhecer, a mim mesma, Amanda Voz e não uma personagem, não uma completa mentirosa.
Sirvo-me uma taça de vinho e sento-me no sofá, relaxada.
Nolan e Christina têm me mandado mensagens o dia todo para saber como foi, respondo em um áudio de alguns segundos. Helen, irmã de Nolan, também tem meu número e a primeira mensagem que ela me mandou foi:
"Desculpe pelo jeito que agi, achei que fosse ela".
Segundos depois uma mensagem de Nolan.
"Helen não sabe pedir desculpas, qualquer coisa que ela escrever, em entrelinhas, estão as desculpas".Não nos falos, Helen e eu, algumas vezes curtimos fotos uma da outra no Instagram, mas só isso. Não sei se algum dia nós teremos algo mais do que isso. Eu gostaria.
Alguém bate na porta e me apresso em abrir.
Um homem alto e de cabelos escuros está sorrindo para mim. Não me demoro a beijá-lo.

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Eu, Hanna
Ficción GeneralVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...