O jantar foi desconfortável, eu também não havia comido tanto já que lanchei os biscoitos de Honie com uma xícara de café; surpreendentemente não fui interrompida nenhuma vez. Não vi Carmen, nem sei se ela está aqui ainda. Não vi Nathan e rezo para que ele tenha ido embora. E também não vi Paulo, que deve está dormindo na sala por enquanto. Desde que o acidente da escada aconteceu eu também não tinha ido ver Vanessa, ela agora prefere comer no quarto, sozinha. Não consegui esperar tanto, quando meus pensamentos se formaram em Vanessa, levantei de onde estava e fui vê-la, bati na porta do quarto, bati duas vezes antes de entrar sem nem mesmo ter recebido permissão; ela estava deitada, olhando pela janela, não dando a mínima para sua nudez.
Os cabelos molhados foram a confirmação necessária que ela tomou banho.
—Mãe?
Nenhuma resposta. Se eu tivesse chegado e a visto neste estado apostaria que ela é catatônica. Mas ela conversava, ela sorria, ela tentava formar um diálogo mesmo que ninguém estivesse muito afim.
—Podemos conversar? —Pergunto mesmo sabendo que não receberei resposta. —Eu vou procurar uma roupa.
No guarda-roupa há vestidos, saias, shorts, blusas e casacos. Mudei de ideia sobre as roupas e peguei apenas um roupão de banho que estava jogado na cadeira da penteadeira. Ela se vestiu em um estado letárgico.
O áudio de Hanna está no computador, mas se ela queria que a mãe soubesse, eu mesma contaria, eu iria falar com ela sobre tudo, mesmo que Carmen esteja naquele quarto ou não, mesmo que as roupas de Paulo ainda estejam jogadas pelo quarto ou não.
—Eu sinto muito. —Foi a primeira coisa que falei. —Preciso te falar algumas coisas mãe, coisas ruins sobre meu pai e sobre...
Ela pega minha mão, foi de repente. Ela está gelada.
—Você não pode.
—Do que está falando? Mãe!
—Hanna, cale a boca. —Ela sussurra.
Bem depois que soltei sua mão escutei o som de água corre dentro do banheiro. A porta é aberta assim que saio da cama e penso em ir embora, Paulo saiu usando apenas uma cueca preta. Acabo olhando para os dois. Vanessa não tinha só tomado banho.
Paulo sorriu para mim como se adivinhasse meus pensamentos.
Ele havia conseguido de novo, ele a seduziu de novo, ele provou algo que não quero pensar, mas ele conseguiu e eu não.
—O que foi Hanna, parece que viu um fantasma.
Sorriso idiota.
Penso seriamente nos desejos de Hanna de jogar água fervente na cara dele.
—Nada, não foi nada. —Sai do quarto batendo a porta.
O quarto de Carmen está vazio.
É claro que está.
Ela é inteligente, vai ver é algo de família.
Assim que entro acendo a luminária de LED, a parede atrás da cama de casal é rosa e as outras brancas, a própria cama está com impecáveis fronhas brancas. Há um banheiro com um enorme espelho oval, penteadeira com produtos de beleza, uma televisão e a esquerda da cama, uma mesinha com duas garrafas de champanhe. O guarda-roupa é espelhado. Um dos únicos espelhos da casa. Estou muito mais magra que antes; minha rotina de alimentação foi regulada como nunca antes. Mas nada são flores, minhas olheiras estão gigantescas, meu cabelo, desgrenhado. Mas ainda pareço ela.
Abro a primeira gaveta do guarda-roupa. Encontro diversas carteiras de cigarros. Na segunda, camisinhas, na terceira roupas intima, na quarta gaveta uma maleta de maquiagem e, na quinta gaveta lençóis limpos.
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Eu, Hanna
General FictionVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...