—Espere. — Seguro o pulso de Oliver por impulso, isso faz ele me olhar feio como se eu estivesse comentando um terrível pecado.
Infelizmente não pude conversar com ele antes, Nathan se recusou a me deixar a sós com ele no carro, então tive que voltar com Honie e demoramos mais ainda quando ele preferiu deixar Sely em casa, três quadras da conveniência, eu já estava resmungando por demorarmos tanto.
Quando nós chegamos à Price Nathan eu saí do carro para abrir o portão eu mesma e depois corri para dentro, dando de cara com Carmen e Vanessa, que decidiu sair do quarto. Oliver estava saindo da cozinha então fui atrás dele em direção ao quintal.
E cá estamos, eu o prendendo e ele me olhando como se fosse voar no meu pescoço.
— Podemos conversar?
— Estou meio ocupado. Fica para depois.
O agarro novamente, mais forte.
— Estou com o vídeo. Ainda o tenho.
Não tinha entendido sua expressão.
Não tinha entendido como minha mão largou tão abruptamente da sua.
Não entendi nem mesmo quando cheguei a cair no chão em um segundo.
Meus pulmões perderam todo ar que puxei, eu não conseguia respirar porque Oliver estava em cima de mim, fazendo a mesma coisa que Paulo fez, ele quer que eu perca todo o ar. Sacudo as pernas e tento bater no seu rosto, mas nem consigo levantar meus braços direito.
— Você não tem o direito de fazer isso de novo!
Tento abrir a boca para dizer que não estou fazendo nada. Tento dizer que quero dar o vídeo a ele de novo, para dizer que quero que ele apague e para ele me ver apagar também. Mas nada saí. Nem mesmo consigo puxar ar pela boca.
Conto apenas cinco segundos quando sinto as unhas dele serem arrancadas do meu pescoço com força, arranhando, as marcas começam a arder.
Eu ainda nem respiro!
A imensidão azul do céu é a única coisa que vejo então logo depois a cabeça de Nathan aparece no meu campo periférico. Ele me pergunta se eu estou bem, tenho quase certeza disso, mas eu não respondo. Então sou levantada por ele.
—Fica aqui. Eu vou levar ele para o quarto.
Ele murmurou outra coisa bem próxima ao meu ouvido, novamente não presto atenção. Sou deixada à porta de vidro, minha mão sobe para meu pescoço e sinto a meia lua que é a forma das marcas. Ardem e são fundas, coçam e estão vermelhas. Penso se devo entrar agora ou deixar que alguém venha até mim, eu não faço nada, não entro, apenas aliso as marcas por alguns minutos.
O que aconteceria se ele descobrisse que não sou a irmã dele? Não deve me pedir desculpas, ter voado no meu pescoço deve ter dado para o gasto. Não sou a irmã dele, sou idêntica a ela, caso ele venha a descobrir sei que o remorso não fará parte dos sentimentos. Ele deve ter gostado.
Sinto o cheiro de cigarro ao meu lado. Paulo está fumando e soprando a fumaça na minha direção, sorrindo.
— O que você disse para ele? Seu irmão geralmente perde a calma.
— Nada.
— Nada parece ser muito pouco. Tenho observado você, ainda mais do que antes, sabe o que acho estranho?
— Não.
Minha garganta dói. Muito.
— Você não xinga mais seus irmãos, você não fala mais com sua mãe e nem faz questão de dizer o quão repugnante é minha presença. Você não sabe mais andar pela casa, sei que foi ao clube, sei que não praticou nada o que é estranho porque Helen Damas é sua adversária predileta. Então eu pergunto. — Ele se aproxima, estamos a dois passos, o cheiro de nicotina aumenta terrivelmente. — Quem é você?
Calada.
Fiquei calada.
Olhei para ele apenas para ter certeza de que ele ainda queria uma resposta. Minha dor na garganta deu um tempo ao pensar na resposta e dispará-la.
— Hanna. Hanna Albertelli e sabe o que eu acho estranho? Carmen me deu seus papéis, assim do nada... Acho que ela cansou do jogo de vocês.
Medo não foi sua primeira reação. Eu devia esperar que não fosse. Raiva foi. Ódio. Antes que ele se quer tentasse se aproximar eu entrei, não olhei para trás. Quando passei pela sala vi apenas Carmen no sofá, olhando para um livro, sei que ela não está lendo coisa nenhuma.
— Ele quer ver você. — Digo simplória. Depois vou até meu quarto.
Não. Eu paro primeiro no quarto de Oliver que está com a porta aberta. Totalmente aberta. Lá dentro, sentado na cama está Oliver, soluçando e com a mão agarrando o cabelo e ao seu lado, fazendo carinho em seu ombro, Vanessa. Não faço a menor ideia onde Nathan está.
Os dois estão em silêncio, ela tenta acalma-lo, a essa altura ele deve ter contado do vídeo e se não contou vai contar. Ter um colo de uma mãe faz você querer vomitar seus problemas. Ele tem sorte de tê-la e é isso que invejo mais que tudo aqui; para que dinheiro se ainda existe um vazio?
Passo direto e chego ao quarto de Honie, mas ele não está aqui, o quarto está vazio. Entro no quarto, hesitando a cada passo. Penso em dar meia volta quando estou ao pé da cama, prestes a chegar à janela. Então vejo os porta-retratos perto do computador, eles não estavam aqui antes; ou eu não prestei atenção neles. Resolvo ver agora.
Uma estava ele, segurando uma boia de plástico enorme, os cabelos molhado, duas janelinhas nos dentes da frente. O mar atrás dele estava calmo e a areia dourada, Honie Hoje estava brilhando com o sol. Ele era uma linda criança. Deixo essa foto de lado e vou para a outra.
Eram os três: Oliver, Hanna e Honie.
Estavam na frente de um barco de dois andares, os três com sorrisos perfeitos e brilhando, brilhando como ouro brilha a luz. Deixei a foto de lado; começo a imaginar que tipo de coisas ele faz aqui. É seu quarto, seu refugio, o lugar onde ele pode guardar segredos e trazer quem quiser, o lugar onde ele dorme e toma banho. Vou até o closet dele, olho suas roupas bagunçadas e algumas manchadas, olho a meia dúzia de livros que ele tem empilhado perto do computador e depois olho para sua cama, sinto um pequeno choque percorrer minha nuca ao pensar em me deitar ali, mesmo que apenas um pouco, eu deveria, ou deveria sair e esquecer que estive aqui? A cama de Hanna para mim é ameaçadora, como um mar turbulento que pode me engolir, mas a de Honie é o oposto, me parece convidativa. Me aproximo apena um pouco e toco o lençol de cama azul, Lucie deve ter arrumado, então me sento e depois fico quieta para ver se algo vai acontecer; se alguém vai aparecer. Depois de dois minutos nada acontece. Isso faz com que eu deite de costas e coloque os pés para cima.
Ai meu Deus estou na cama dele!
Aspiro o cheiro com vigor.
Crio outra realidade onde eu ocupo o posto de Sely; sou a garota que estou saindo com Honie, não sou Hanna. —Ela nunca morreu.
Oliver não está com meu irmão babaca, está namorando um dos caras que trabalham no Clube, um homem que é gostoso e civilizado. Paulo e Carmen se odeiam de verdade e Vanessa não é cega, uma realidade onde os podcasts não existem e nem os conflitos sinistros da realidade. Estou deitada na cama dele e de repente ele aparece e sorri para mim, não estou de jeans e sim de calcinha e sutiã. Ele tranca a porta e vem para onde estou, eu experimento o gosto dos seus lábios e depois ele coloca meus braços longe do seu corpo, porque ele gosta de me ver implorar. Ele se excita com isso e eu me excito sabendo que ele está excitado. Ele me chama de Amanda, não de Hanna, nem Han, nem Hanna Banana.
Amanda, Amanda, Amanda.
Abro meus olhos.
A casa continua silenciosa. Levanto da cama e me sinto inebriada pelo cheiro dele e por mais que eu queira descobrir qual é o perfume me obrigo a sair do quarto antes que algo de errado, antes que eu faça dar tudo errado. Me lembro dos celulares. Me lembro que estou perdendo tempo. Resolvo ir para o quarto de Hanna, me sento ao computador, olho para a tela.
Penso em mandar uma mensagem para Christina, mas não faço isso, quero ouvir o mais rápido possível para terminar o mais rápido possível. Não acredito que estou me obrigando a ouvir atrocidades.
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Eu, Hanna
General FictionVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...