CAPÍTULO TRINTA E NOVE

22 5 0
                                    

(Hanna Albertelli)

Estou de saco cheio de escutar essa ladainha.

Levanto da mesa. Ignoro os pedidos da minha mãe dessa vez, mas ela é a única que insiste que eu fique. Meus irmãos ficam calados como os babacas que são e meu pai, meu querido pai está morrendo de ódio de mim, sem falar na minha tia Carmen, coitada. Entro no meu quarto e bato a porta com força.

Olho para o meu computador e lá, está as melhores coisas que fiz em meses: podcast's. Eu os amo. Eu amo o jeito desnudo que coloquei minha família, sem pudor como os jornais fazem, sem nenhum eufemismo. Eu os quero livres das máscaras mesmo, até para mim mesma eu fiz algo. Para uma eu do futuro. Acho que posso mudar tudo a qualquer minuto, regravar, postar. Tudo é uma porra de possibilidades e estou aqui para isso.

Recebo duas mensagens quando me deito na cama. Uma de Christina e outra de Nolan; ignoro Christina e olho a de Nolan sem pressa. Ele quer que eu explique como eu sei sobre o casinho dele com a meia-irmã-ogro dele. Eu poderia digitar como realmente aconteceu: estava na casa deles, Nolan foi tomar banho depois que nós transamos e depois eu vi o celular dele, em especifico, a conversa dele com a irmã. Foi algo bem quente de se ver, tanto que me deu um tesão absurdo depois que ele saiu do banho, então fizemos sexo de novo e eu fiz questão de gritar ao saber que Helen estaria em casa e os pais deles não. Foi algo que não me arrependo, também fiz Nolan gritar já que ele sente tesão quando toco-lhe em outras partes. Foi ótimo. Respondo apenas com um "me encontre depois". Eu o queria de novo, na casa dele.

Jogo o telefone de lado; vou ao closet.

Roupas, sapatos, roupas, casacos, mais roupas. Volto ao quarto e pego um post-it e uma caneta, comecei a fazer escritas aleatórias, sentada no chão do closet, então em determinado momento escrevo a senha do meu computador que é meu aniversário e um recadinho em outro post-it. Caso usem a cabeça, saberão o que isso significa; meu maior desejo é que meu pai encontre isso caso vasculhe meu quarto, então ele ligaria os pontos e iria até meu computador e acharia em algum momento meus podcast's. Se ele apagaria, pouco me importa, só de saber que ele pode escutar minhas palavras penetrando os ouvidos dele como os dedos dele penetraram minha garganta já me dá muita satisfação. Tanto que o desejo de publicar fica apagado em minha memória. É algo que penso bastante, mas no final sempre decido não acatar a ideia, seria burrice. Um pouco. Talvez.

Fico um pouco mais no meu quarto. Eu poderia fazer alguma coisa com ele: pintar, bagunçar, quebrar a janela ou sei lá. Tudo para despertar a ira do meu pai eu faria. —Até mesmo ficar soltando indiretas sobre o casinho dele com minha tia Carmen durante nossas refeições.

No computador, coloco para tocar "Adore You", depois me deito e fico olhando para o teto. Alguma hora, algum dia, em algum momento eu posso vazar o vídeo de Oliver, seria interessante ver a cara dele e não seria muito por vingança nem nada do tipo, isso já é passado. Não, eu faria apenas por prazer pessoal. O.K., talvez valha como parte de uma vingança, mas teria que ser meticuloso já que nosso pai está alheio a tudo em relação aos dois filhos e mais focado em mim. Talvez eu também vá falar com minha tia, só para saber se, ela pretende fazer minha mãe se separar do meu pai com aquele teatrinho besta de boa-irmã. Para ela se casa com ele talvez? Mas isso não seria tão... Inusitado. A imprensa não sabe que minha mãe tem uma irmã gêmea, na verdade, Carmen substitui minha mãe em eventos de gala e em entrevistas. Ela livre. Minha mãe em cárcere. Já é um casamento se você pensar bem.

Espero até o relógio marcar sete da noite.

Em seguida, totalmente entediada, baixo um aplicativo de namoro.

A primeira pessoa que me aparece é alguém chamado Oliver. Que idiotice. Mas até que ele é bonitinho... Seria uma grande reviravolta chegar em casa com um cara com o nome do meu irmão, só que heterossexual. Começo a conversar com o cara; ele tem feições boas, olhos e maxilar, lindo e uma boca que deve fazer maravilhas.

"Vamos nos ver hoje".

Olho para a mensagem e solto uma risada.

"Conheci você há dois minutos."

Ele demora a me responder. Passam-se cinco minutos para a resposta chegar.

"Eu estaria disposto a te encontrar e em troca posso fazer algo por você, algo bem malvado se desejar."

Esse cara havia me ganhado.

Ele era direto.

Passamos apenas meia hora conversando e já me convenci de que quero transar com esse cara ao invés de Nolan; mesmo que só para zoar com a cara de Helen. Não vale a pena, eu preciso de algo novo.

***

Às sete horas eu encontrei Nolan.

Foi uma briga para sair de casa; meu pai brigou porque eu não me comportei no jantar, depois minha tia Carmen o apoiou. Então discuti com os dois e depois minha mãe entrou nisso carregando consigo, Honie e Oliver. Por isso que sempre amei Marley, ele me entende.

Encontrei Nolan.

Ele agiu como um babaca, mas eu contei como soube do incesto dele. Ele ficou possesso, mas eu também estava. Bom, ele disse que o que tinha entre nós acabou, mas "O que tem entre nós" não passava de puro sexo e se eu não tiver o pau dele, com certeza acharei outros. O deixei sozinho e montei na minha moto, desejando ir para casa. Mas não o fiz imediatamente como disse que iria fazer para Nolan-Babaca. Fui à farmácia.

Quando sai do banheiro, estava chorando.

Era o meu pior pesadelo, porra. Joguei aquilo no lixo e tratei de tomar banho e me arrumar. Mas saber da gravidez me deixava louca.

***

Ao sair do meu quarto, escutei uma pancada alta vindo do quarto da minha mãe e corri em direção ao quarto dela, preocupada. Meu coração estava na garganta quando pensei que ela poderia ter feito alguma besteira; não quando estávamos planejando sair daqui. Não foi minha mãe quem encontrei no quarto. Mas meu pai em cima da minha tia, que gemia.

—Mas que porra...

Meu pai pulou como um gato em cima dos lençóis e, minha tia gritou. Gritou muito.

Olhei abismada para a cena, em segundos eu corri. Os passos pesados do meu pai atrás de mim me deram mais coragem para correr pelo corredor. Mas ele foi muito mais rápido; a raiva faz você ter superpoderes. Ele segurou meu pulso, com bastante força.

—Me solta!

—O que você...

—Socorro!

Ele tapou minha boca com a mão.

—Calada. Agora você vai prestar atenção sua idiota, não vai sair para canto nenhum até que eu...

Quando Oliver me segurou desse mesmo jeito quando éramos adolescentes, eu estava possessa de raiva, estava triste, mas com raiva. Estava de TPM. Eu retorci meu joelho e depois ataquei aquele certo ponto dos homens. Meu pai está usando apenas uma cueca e o pênis dele ainda estava ereto. Meu primeiro chute fora ali, depois eu mordi seu pulso que segurava o meu.

Quando pensei em correr, de novo, minha tia apareceu ao meu lado. Ela segurou meu cabelo do mesmo jeito que fazia quando eu era pequena; a lembrança veio como um raio. Achei que ela iria arrancar meu coro cabeludo com o gesto.

Ela estava tentando em falar alguma coisa, mas como eu poderia entender quando tentava acertar meu cotovelo na barriga dela? Joguei todo o meu corpo para trás, tropecei nos pés dela e a joguei na parede. Carmen arfou em minha nuca ardente.

—Vaca. —Falei.

Corri de novo, mais rápido.

Então senti as mãos de um dos dois, não sei qual, me empurrarem quando meus pés ainda estavam se ajustando a conseguir andar, sentir o chão.

Aprimeira coisa a doer no meu corpo foi o meu cotovelo, depois meu joelho e,antes que eu batesse minha cabeça, meu braço inteiro. 

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora