Na manhã seguinte acabo me arrumando pela primeira vez em meses. Passo rímel, um batom claro, dou cor as minhas bochechas e acabo penteando avidamente meu cabelo. Visto uma blusa de mangas longas amarela e uma calça jeans. Não sou eu nem ferrando, e era este resultado que eu queria; não pareço uma mulher em estado vegetativo, pareço uma mulher que está pronta para encarar um desafio. Só não sei qual é ele ainda.
O número de Honie não me ligou mais, mas pensei em mandar uma mensagem de texto para o namorado dela. Mas não sei como começar uma conversa com ele, posso estragar algo que ainda nem começou. Ando pela minha sala mordendo o dedão até finalmente pensar em algo.
Mandei apenas a localização de uma loja de cerâmica perto daqui, é movimentada pelo dia, aposto que nada pode dar muito errado se eu estiver com muitas pessoas ao meu redor. Honie apenas visualizou e quando pensei que não iria responder, ele digitou "Em 5 minutos, Han".
Antes de sair de casa procurei me acalmar, mas me olhar fixamente no espelho por dois minutos inteiros me deixou mais desesperada ainda. É incrível como minha mente tenta sabotar a mim mesma.
Assim que ponho o pé para fora de casa quase espero algo de ruim me acontecer de novo, como um meteoro. Mas estou no meu décimo passo e até agora nada me aconteceu, só a voz arranhada de Hanna que ainda insiste em ficar repetindo na minha cabeça.
Como vou encontrar o namorado dela? Bom, certamente ele vai me conhecer, se eu ela éramos tão parecidas que nem os médicos notaram. Faço uma nota mental para não beijar o namorado de Hanna quando ela mesma não está aqui para me bater caso isso aconteça. Torço para ele mesmo não querer me beijar, ainda tenho traumas com a junção de lábios e acho que está muito cedo para tentar de novo. Meu Deus sou uma péssima atriz, ninguém vai acreditar nesta coisa de substituição...
—Han?
Registrei duas coisas ao mesmo tempo quando olhei para o namorado de Hanna. Um: ele é alto, minha cabeça provavelmente fica em seu peito ou quase lá. Dois: ele provavelmente acabou de acordar, ou nem dormiu. Aposto na última.
Mal tenho tempo de abrir a boca para falar quando ele me abraça, prendendo os braços nas minhas costas quando sua cabeça fica acima da minha e ficamos assim por vários segundos. A camisa dele é preta, está cheirando a bebida e algo azedo. Eca.
Livrei—me do abraço dele, evitei seus olhos.
ㅡOi. ㅡMurmurei.
Fazer esse encontro acontecer bem aqui foi um erro, as ruas estão cheias, há sacolas plásticas para todos os lados e pessoas falando besteiras em alto e bom som. Mal consigo prestar atenção em um só ponto quando alguém entra em meu campo de visão e eu sou obrigada a olha para outro canto. Não olhei nenhuma vez para o rosto de Honie.
ㅡFiquei preocupado. ㅡEle balança os braços ao lado do corpo ㅡ Quer ir para casa ou... para outro canto?
Casa de Hanna? Sim. Não. Sim, não tenho escolha, ele provavelmente vai me contar alguma coisa que devo fingir saber. Balanço a cabeça.
ㅡMeu carro está encostado ali. ㅡ Ele aponta para longe. ㅡVamos.
Começamos a andar lado a lado, eu me sentia uma criança perto dele, não só a altura ou o porte atlético era intimidador, mas algo a mais, algo misterioso que parece exalar dele mais forte do que o cheiro ruim da camiseta. Eu tinha que puxar assunto? Hanna e ele eram namorados então...
ㅡO que aconteceu? ㅡ Pergunto lentamente.
Passamos por alguns carros de vidros escuros, não consigo me acostumar com o modo que estou vestida.
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Eu, Hanna
Genel KurguVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...