CAPÍTULO VINTE E OITO

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Lucie apareceu no quarto.

Não sei se foi há meia hora, mas agora ela está aqui e eu estou implorando para que ela me deixe sair.

—Porque você não conta tudo logo? —Questiono. —Lucie, você mesma disse que está aqui há 10 anos, está aqui e sabe de muita coisa sinistra. Poderia fazer isso sem se identificar.

O rosto redondo enrugado ficou vermelho. Ela parecia está prestes a gritar e eu queria que ela gritasse.

Então ela conseguiu se acalmar quase que no mesmo segundo em que pensei que explodiria.

—Meus filhos estão na West, uma escola que eu demoraria mais de dez anos para conseguir pagar apenas as matriculas deles. Seu pai está pagando. Em troca eu tenho que me manter calada para que meus filhos consigam estudar. Não me venha pedir para abrir minha boca quando tudo que quero é que meus filhos se formem e arranjem um emprego decente para poderem fugir desta cidade e das pessoas que moram por aqui. Não me venha pedir, Hanna, para que eu comece uma guerra entre mim e sua família porque além de eu perder, eu estaria jogando o futuro dos meus filhos na lama e não há nada que eu queira mais do que ver meus filhos com estudo. Com estudo para poderem me agradecer e então eu terei percebido que valeu a pena ficar calada todos esses anos. Pode me julgar por ajudar meus filhos? Por querer o melhor quando eu não posso dar?

—Lucie eu...

—Coma. —Ela me entrega a bandeja de prata. —Venho aqui mais tarde para te dar seu almoço.

—Onde está minha mãe? —Pergunto quando ela chega à porta. Ela saiu sem me responder.

A bandeja está em minhas mãos. Duas torradas, biscoitos, frutas e uma xicara mediana de café.

Como tudo e depois dou um tempo ficando deitada na cama.

Porque jornalistas estão aqui? Óbvio que Paulo é famoso, é um dos melhores advogados, mas ele sempre faz isso ou está fazendo pela primeira vez apenas para me subestimar e mostrar o quanto ainda é influente e que está muito, muito acima de mim?

As entrevistas que vi na Internet antes de vir à Price foram todas feitas em locais que ele vai; o escritório, um estúdio ou sei lá. Fotos devem chegar aos sites em breve e se eu der sorte; o assunto também.

Cansada de ficar na cama resolvo escrever, ocupar meus problemas com personagens fictícios e problemas fictícios.

Às 13h Sely me liga.

—Você disse que vinha pegar a bolsa ao amanhecer.

—Estou trancada no meu quarto, não posso sair, Vai ter que segurar mais um pouco. Por favor.

—Posso dar a um dos seus irmãos.

—Não faça isso! Sely é sério.

—Para que tanto mistério, é apenas uma bolsa cheia de papéis.

—Eu sei só que... Espera aí, você leu?

—Claro que li. De quem são?

—Antes que pergunte, não é de Honie. É do meu pai. Ele... Você já deve supor o que acontece.

—Ai meu Deus... Hanna, olha só eu... Estive com seu irmão tempo suficiente para ele me contar que acha que isso já estava acontecendo. Tem de confiar nele.

—Não, eu não posso. Isso vai muito além desses papéis. Você não entenderia. Só tenho que pensar como vou mostrar isso e quando.

—Amanhã eu estou de folga... Vá à lanchonete ruas antes do meu trabalho. Eu acho que posso ajudar.

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora