Eu queria abrir aquela porta e sair correndo. Gritar como uma louca mesmo, me sentia tão enjoada quanto raivosa. É difícil achar um meio termo quando sua mente não para de revirar e revirar, pensando que, uma família inteira se virou contra uma única pessoa.
Dois segundos de silêncio se seguiram. Então eles levantaram as cabeças, então percebi que Vanessa estava imóvel. Quieta, sem nem mesmo ter levantado o braço. Ela não estava, ela não sabia. Os outros, entretanto, pareceram tão surpresos quanto eu.
—Como vocês todos... Como puderam?
—Nós... Não. – Oliver murmura. —Eu... Como você pode ter feito algo, pai?
—Nós fizemos. —Carmen se pronuncia. —Foi um acidente. Um mero acidente e achamos que... Ela...
—Não pode ser. —Nathan olha para todos os sentados.
—E como você pode saber disto? Responde Nathan!
—Fui eu quem pediu a ajuda dele.
—Para quê? Vocês têm de explicar isso agora.
—Não! —Paulo grita. —Ninguém vai falar nada, você nem deveria estar aqui. Não é da família. O que veio fazer aqui? Porque não contou apenas que minha filha morreu? Você é uma idiota.
—Ela está escrevendo. – Honie fala. —Sobre nós.
Mesmo sabendo que não há mais espaço atrás de mim, tento forçar minhas costas a passarem pela porta. Eu queria mais que isso; queria que todos congelassem. Que o tempo parasse para me dar a chance de fugir.
—Por isso seu interesse. —Carmen parece chocada.
Como ela pode estar chocada com o meu querer ao invés de que, ela matou a sobrinha!
—Você não vai fazer isso. O que achou que iria acontecer? Que você iria sair por esta porta com um maldito manuscrito e simplesmente publicar? Você não vai fazer isso nem ferrando.
Paulo avança para cima de mim.
Como um tigre, tento chutá-lo, não quero mesmo que os dedos dele e toquem como o que está acontecendo agora. Ele está me arranhando enquanto tento chutá-lo em uma parte bem especifica. Me desespero por ar, me desespero por liberdade. Vanessa está gritando. Ou será Carmen? Não consigo respirar.
Mordo os dedos de Paulo com a maior vontade que tenho, o faço gritar bem na minha cara, vejo a garganta dele e faço a primeira coisa que penso. Empurro três dedos meus ali, como ele havia feito com Hanna. Comigo. O vejo sufocar por um momento, poucos segundos até decidir sair de cima de mim e começar a tossir no meio da sala, onde todos nos olham. Pego a faca novamente.
—Amanda, você está louca.
—Loucos são vocês! Como pode me chamar de louca sendo que você matou Hanna?
—Amanda...
Miro a faca para Honie, estou tremendo, estou suando. Estou com raiva.
—Por favor, não faça nada que pode se arrepender. Vamos conversar.
—Ótimo, porque não começa me contando, todos vocês, como tiveram a ver com a morte dela?
—Você foi ao necrotério. Depois da gente ir ao cemitério, você foi lá.
—Fui. E foi horrível vê-la de novo.
—O que disseram? —Vanessa pergunta. Está de olhos inchados de tanto chorar. —O que aconteceu com a minha menina? Me diga pelo amor de Deus... Eu mereço saber.
—Alguém... Bateu na cabeça dela. Ela deve ter sido empurrada. Mas tinha um corte que infeccionou.
Ela dispara a chorar mais ainda. Então me lembro de quando saímos do quarto dela, no dia em que fiz as pazes com Oliver, no dia que ele me chamou de Hanna Banana pela primeira vez.
—Você me perguntou.
—O quê?
—Você me perguntou se estava tudo bem com a minha cabeça. Você bateu nela.
Oliver segura a mão de Nathan.
—Eu não... Fiz sem pensar, foi isso. Ela estava com aquele vídeo, ia contar aos meus pais de qualquer jeito. Mas eu não a empurrei, juro.
—Então quem foi? Ela veio para casa depois de Nolan ter dado um fora nela. Quem estava em casa naquele dia? u
—Eu. —Carmen fala. —E Paulo.
Olhei para o homem sentado desajeitadamente no chão segurando a garganta.
—E o que aconteceu?
—Vá a merda. —Ele diz.
—Foi um acidente. Discutimos. Ela caiu...
—Foi empurrada. —Corrijo-a.
—Que seja. Achamos que ela já tinha morrido naquele momento.
Nolan não mentiu.
—Ela ia se encontrar com um cara.
—Era eu. —Nathan diz.
Sento-me no chão também. Pego meu celular e o seguro com força, mando um áudio para Christina em alto e bom som:
—Vou saber algumas coisas. Qualquer coisa, qualquer digito infalso... Pode ligar para a polícia.
Enviado.
Olho para eles.
—Comecem.
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Eu, Hanna
Fiction généraleVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...