Os minutos passaram mais rápido quando me concentrei nas conversas de Christina com Hanna.
Quando entrei no quarto não eram mais do que uma da manhã, agora, entretanto, são quase cinco. Novamente uma noite em claro. Quantas noites ao total, três ou quatro? Não sei.
As conversas das duas se baseiam mais em falar mal de pessoas que não conheço e de assuntos banais de melhores amigas.
Havia menções sobre Oliver, sobre Vanessa, Honie e principalmente sobre Paulo.
Entre os dias quatro e cinco de janeiro desse ano elas haviam brigado, Christina pedia desculpas por alguma coisa e Hanna a chamava de coisas como "mentirosa fudida". Não ousei ouvir todos os áudios da briga, não quando escutei o som de algo se quebrando no corredor.
Levantei-me do amontoado de lençóis e destranquei a porta do quarto, quase pisando em um mar de cacos de vidro.
O corredor é desprovido de janelas, há somente os quadros, e um deles quebrou.
Não vi nada depois que fui empurrada para o quarto novamente, minha boca projetou um grito antes mesmo que eu chegasse ao chão. Minha cintura doeu, minha cabeça latejou com a pancada. Percebi que quem está por cima de mim é Oliver.
Segurei o ombro direito dele com força, ele estava fazendo mais força do que imaginei para me manter deitada, minha mente reprisou o podcast onde o amigo de Oliver fez o que fez com Hanna, onde as mãos dele passaram por cantos indesejáveis. Cravei minhas unhas no ombro dele.
—Fica quieta!
—Me solte!
—Não, espere, eu... Caramba Hanna, eles estão brigando, fique quieta ou você vai se dá mal.
—O que...
Escutei a discussão acontecendo no corredor. Paulo e Carmen, gritando como loucos, arremessando coisas pelo som de vidro estilhaçado. Porque ele se importa se vou me dá mal? Largo seu ombro e digo calmamente para ele sair de cima de mim. Ele o faz, mas não me deixa passar pela porta.
—Porque está aqui?
—Porque sim.
—Porque sim não é resposta!
—Porque sei que você vai colocar mais lenha na fogueira como sempre faz! Estou aqui para manter sua boca fechada, sua idiota.
—Eu não ia fazer nada!
É claro que ele não acredita em mim, nem eu mesma acreditaria. Mas essa é à base de tudo aqui, a desconfiança faz com que essa família se torne sinistra.
—É claro que não ia.
—Onde está ele? —Pergunto tentando olhar através dos seus ombros rígidos.
—Quem?
—Nathan. Onde ele está?
—Porque quer saber dele? —Oliver cruza os braços sobre o peito. —Não vi nenhum interesse seu nele quando ele chegou.
Como posso demonstrar interesse em qualquer um aqui? Quando um de vocês podem ter matado Hanna?
—Não quero saber dele, quero saber onde ele está! Só isso.
—Ele está no meu quarto. —Oliver fala como se fosse óbvio.
—Vocês...
Minha fala foi interrompida pelo grito estridente de Vanessa. Nem mesmo Oliver se controlou e partiu para o corredor, comigo ao seu alcanço.

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Eu, Hanna
General FictionVer uma pessoa morrer não é nada de tão incomum. Mas se a pessoa que você visse morrer for idêntica a você? E se ela lhe pedisse um último favor? E se você aceitasse? A vida de Amanda Voz, uma escritora amadora, agora se resume no "e se". Decidida...