CAPÍTULO DEZENOVE

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Eu ainda precisava descer para comer.

Não tinha conseguido escrever mais, tudo se voltava para minha atual situação ou para Honie. Ele atormenta meus pensamentos como uma praga atormenta um milharal. É terrível quando uma pessoa não sai da sua cabeça mesmo que você a imagine sendo atropelada ou pegando fogo; você vai querer imaginar um futuro bom em que estão juntos. Pensando nisso fiquei com raiva do meu próprio rascunho. Com raiva por eu dar a Miranda todas as possibilidades, ela pode foder com Harry quando quiser, ela pode fugir com ele. Antes de por "fim", eu poderia dar a eles um bom enrolar, uma boa cena quente, uma boa cena dramática.

Tomo banho antes de descer.

Vejo apenas Carmen e Honie à mesa. Lucie nem mesmo está aqui.

—O que foi? —Pergunto.

—Estava te esperando. Oliver e o namorado já saíram.

—Nos vamos sair?

—Vamos ao clube, se apresse. —Deixando de lado um copo de suco pela metade, ele passa por mim e vai para seu quarto. Desejo por um segundo entrar lá com ele. Viro-me para Carmen que está estranhamente silenciosa.

Coloco a máscara da indiferença e começo a comer o que vejo pela frente.

—Você está desleixada. —Ela comenta. Demorei demais comendo e Carmen ainda não se deu conta de que quero ficar sozinha. Ela ficou parada como uma estátua por minutos pareceu mais com Vanessa do que nunca.

—Qual o problema em ser desleixada?

—Está comendo como uma louca, logo suas roupas não servirão mais e vai ficar usando apenas... Isto.

Estou com uma blusa velha amarela que chega até minhas coxas, um short de tecido fino que está com um rasgo notável e chinelas. Talvez eu esteja mesmo sendo desleixada, mas não só na aparência.

Fico calada.

Mas ela continua.

—Sempre achei que seria modelo, quando era criança queria ser mesmo, mas você ficou... Rebelde. Agora está parecendo uma mulher que cria dezena de gatos e desistiu de fazer as unhas. Espero que pense em botar uma maquiagem quando sair de casa seria terrível te verem nesse estado. —A cadeira arrasta no piso, ela levanta e olha para mim uma última vez. Depois vai embora.

Deixo de lado algumas coisas que pretendia comer. Subo para o quarto de Hanna e me olho no espelho enorme do banheiro. Estou parecendo uma múmia; até pior. Maquiagem nunca foi algo que valorizei, nunca pensei que seria algo que usaria com frequência, mas talvez esteja na hora.

O mesmo carro em que cheguei à Price está parado depois dos portões. Entro. Honie não fala nada, mas me olha com afinco, quase desejo que ele pare.

—Vamos?

Sem nenhuma palavra ele começa a dirigir.

***

— Quer falar sobre aquilo? —Pergunto.

—Aquilo o que?

—O elefante no banco de trás. —Ele ri enquanto eu bufo irritada. —Sobre você e sua... Nossa mãe.

Percebi que quando Honie fica nervoso com algo, ele tende a morder o lábio, mas não morder para parecer sexy (mesmo que seja absurdamente sexy), ele faz isso até que saia sangue. Sei que ele está concentrado em dirigir, estamos indo buscar Sely, mas tenho certeza de que se ele pudesse, estaria balançando a perna freneticamente enquanto fazia piadas com meu nome tentando mudar de assunto. Fico quieta no meu canto, desejo que ele comece a falar, espero longos minutos até que ele começa.

Eu, HannaOnde histórias criam vida. Descubra agora